Por Alexandre Borges
Debates são shows para indecisos.
Quem já tem a cabeça feita sempre achará que seu candidato venceu, portanto o debate é antes de tudo uma batalha pelos que não estavam tão ligados na eleição, os que não se sentiam suficientemente informados sobre os candidatos ou os que não se identificam automaticamente com os partidos e deixam para decidir nestes momentos.
Neste sentido, é lícito imaginar que mais indecisos escolherão Hillary como uma opção menos arriscada, mesmo que nada empolgante. Trump não passou a segurança necessária para que se entregue a ele o cargo mais poderoso do planeta e ela foi competente em mostrar isso ao público.
Hillary é corrupta, dissimulada e falsa como uma nota de três dólares. Se eleita, pode acabar definitivamente com a obra de Obama de desfigurar a América como conhecemos há dois séculos, especialmente com a indicação de três novos juízes da Suprema Corte. Dito isso, ela soa mais “presidencial”, mais preparada e mais à vontade que seu adversário. Com mais dois debates assim e ela já pode começar a preparar a mudança para a Casa Branca.
O moderador, Lester Holt, claramente favoreceu Hillary, muito mais que Candy Crowley há quatro anos com Obama. Pautado pela esquerda na seleção de perguntas, ele entrava regularmente no meio da confrontação entre os candidatos como uma voz grave e austera, beneficiando-se de seu timbre grave para corrigir Trump e dar suporte à Hillary. Holt parecia o diretor da escola passando uma lição no moleque levado.
Trump infelizmente foi o bufão de sempre e tomou um baile. Torço por ele, é meu candidato por representar um conjunto de valores e uma visão de mundo mais próximos dos que construíram a América, mas ele oferece poucos argumentos nas respostas, normalmente é “deixe-me dizer uma coisa, eu sou bom, ela é ruim”. Não é o tipo de discurso que convença o indeciso.
Um detalhe chamou a atenção: enquanto Trump tratava Hillary por “secretária (de estado) Clinton”, o que dava a ela um status elevado, ela só respondia a ele tratando como “Donald”, como se fosse uma criança. Ela não venceu apenas no atacado mas também em pequenos cuidados como este, típicos de quem tem uma estratégia bem definida e bastante treinamento.
A história pode mudar nos próximos debates, mas esta foi uma noite de Hillary.
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Quem venceu o debate de ontem? Vamos lá:
– Logo após o fim do debate, escrevi um post dizendo que Hillary saiu na frente (leia aqui http://bit.ly/2dzihDC). Alguns leitores discordaram e contem com a minha torcida para que eles estejam certos, nunca tive tanta vontade de estar errado.
– Dei uma olhada nas opiniões mais relevantes por aí e nem Ann Coulter, a maior defensora de Trump, ousou dizer que ele venceu. Ela reclamou com razão dos temas levantados e da participação do moderador, lamentou que não tenham falado de imigração e que os assuntos giraram em torno dos “talking points” dos democratas, mas nem ela, até onde eu sei, conseguiu dizer que ele venceu.
– A FOXNews disse que ele venceu? Não. O Wall Street Journal? Também não. Se os dois mais importantes veículos de Rupert Murdoch não deram vitória a ele, talvez ele não tenha mesmo vencido.
– Ted Cruz fez um ótimo texto sobre o debate, apoiando Trump nas declarações e posições, o que eu também concordo. Mas ele disse que Trump “venceu”? Também não. Trump já agradeceu o texto de Cruz.
– Felipe Moura Brasil, da Veja, o mais competente analista da política americana na grande imprensa brasileira, também não deu vitória ao Trump. Veja aqui: http://abr.ai/2dzip6a
Ainda há muito pela frente, claro, e é óbvio que muitos eleitores de Trump tenderão a dizer que ele venceu para manter a energia e otimismo em relação ao resultado da eleição. Continuem, é o certo a fazer mesmo.
Alguns trackings de ontem deram resultados muito distintos e é preciso esperar um pouco para termos pesquisas mais robustas, com amostras mais confiáveis e que possamos analisar não apenas os resultados gerais mas como cada segmento do eleitorado reagiu. Estou particularmente interessado nos indecisos. A conferir.
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