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Venezuelanos aguardam em fila com dinheiro na mão para comprar comida, em Pacaraima, em Roraima; a cidade fronteiriça de 12 mil habitantes, até lojas de material de construção e farmácias começaram a vender arroz, farinha, açúcar e óleo, para atender a alta demanda. Fonte: Folha
Venezuelanos aguardam em fila com dinheiro na mão para comprar comida, em Pacaraima, em Roraima; a cidade fronteiriça de 12 mil habitantes, até lojas de material de construção e farmácias começaram a vender arroz, farinha, açúcar e óleo, para atender a alta demanda. Fonte: Folha| Foto:

A maioria dos liberais foca nas vantagens materiais do capitalismo, o que é legítimo, uma vez que são destoantes da opção socialista mesmo, e sabemos como muitas pessoas “votam” com o bolso. Mas considero tão ou mais importante abordar o aspecto moral do capitalismo, um sistema calcado nas trocas voluntárias entre indivíduos, numa busca por ganhos mutuamente benéficos. Foi o que fez João Luiz Mauad, diretor do Instituto Liberal, em artigo publicado no GLOBO hoje.

Ele toma como pano de fundo a desgraça que se abateu sobre a Venezuela hoje, com cenas chocantes de escassez generalizada, gente revirando lixo como se fosse rato, pessoas morrendo nos hospitais e gatos e cachorros abandonados por falta de recursos. A tragédia venezuelana não foi inesperada, ao menos não para os liberais. Era tudo bem previsível, e cansamos de alertar. Hoje a esquerda faz um constrangedor silêncio, como mesmo um esquerdista como Clóvis Rossi denunciou:

É um sinal claro (apenas mais um, aliás) que indica o redondo fracasso do chamado “socialismo do século 21”. Há outros sinais, talvez ainda mais dramáticos: a agência de notícias Reuters relata que crescente número de mulheres jovens recorre, a contragosto, à esterilização, para evitar as agruras da gravidez e da criação de filhos em um país em crise tão infernal.

Explica a agência: “Contraceptivos tradicionais, como preservativos e pílulas anticoncepcionais, praticamente desapareceram das prateleiras, empurrando as mulheres rumo à cirurgia de difícil reversão”.

Dá para censurar os governos de Argentina, Brasil e Paraguai, que se recusam a passar a Presidência do Mercosul a essa ruína irremediável?

Espantoso é que a esquerda brasileira silencie ou, pior, defenda um modelo que é o mais redondo fracasso. Torna-se inexoravelmente sócia do fracasso.

Voltando ao texto de Mauad, ele aponta como causa dos problemas o mau uso das instituições capitalistas, o que pode gerar alguma confusão em leigos. O socialismo será sempre utópico e, portanto, inalcançável. Mas os meios utilizados para se tentar chegar a ele levam sempre e inexoravelmente ao mesmo destino: o caos em que mergulhou a Venezuela hoje. Diz Mauad:

É lamentável que, em pleno século XXI, ainda sejamos testemunhas de episódios como esse, na Venezuela, onde milhões de pessoas foram levadas a acreditar numa quimera socialista já testada e reprovada inúmeras vezes através dos tempos. Infelizmente, por trás desse engodo está a má reputação do capitalismo, nem tanto em relação aos seus aspectos econômicos, mas especialmente morais.

Muito embora nem os mais empedernidos marxistas neguem que o advento do capitalismo possibilitou uma prosperidade material constante e crescente, tirando da miséria milhões de pessoas nos quatro cantos da Terra, muitos ainda continuam desconfiados do sistema e prontos a culpá-lo pela maioria dos problemas sociais, reféns que são de clichês como “um outro mundo é possível” ou “de cada um conforme a sua capacidade, para cada um conforme a sua necessidade”.

Do outro lado, há muito pouca gente interessada em demonstrar as vantagens e, principalmente, o lado moral e ético do capitalismo. Poucos se dão conta, por exemplo, de que, no livre mercado, os indivíduos só são recompensados quando satisfazem as demandas dos outros, ainda que isso seja feito exclusivamente visando aos próprios interesses. Ao contrário de outros modelos, o capitalismo não pretende extinguir o egoísmo inerente à condição humana, porém nos obriga constantemente a pensar na satisfação do próximo, se quisermos prosperar. Além disso, para obter sucesso em grande escala, você tem de produzir algo que agrade e seja acessível a muitas pessoas, inclusive aos mais pobres, e não apenas aos mais abastados.

Quando você abastece seu carro aqui nos Estados Unidos, aparece uma mensagem no visor agradecendo pelo negócio e pela escolha. Quando o avião aterrisa, escutamos o piloto agradecendo pela escolha da companhia aérea. Como lembra Mauad: “Não por acaso, quando um cliente entra numa loja, a primeira coisa que ouve do vendedor é: “Em que posso ajudá-lo?”. E a última coisa que ambos dizem, depois de uma compra, é um duplo “obrigado!”. Um sinal inequívoco de que aquela transação foi vantajosa para ambos”.

O capitalismo fortalece os laços de cooperação e cordialidade, enquanto o socialismo leva ao cinismo, à inveja e ao uso da força para se obter o que se demanda. É verdade que o capitalismo produz resultados materiais bem superiores, mas esse não é “apenas” seu grande mérito: ele é também um sistema bem melhor sob o ponto de vista moral. E é isso que os liberais precisam destacar com mais frequência.

Mauad comenta ainda sobre as desigualdades, que existem em qualquer sistema, mas lembra que no capitalismo elas estarão ao menos mais ligadas ao mérito individual, enquanto na burocracia socialista elas dependem de favores e coação.

Aqui, porém, Mauad erra ao considerar que as pessoas com mais energia e melhores ideias chegam ao topo em ambos os sistemas: “As pessoas com as melhores ideias, as mentes mais criativas e mais energia para o trabalho tenderão a alcançar o topo, tanto no capitalismo como numa burocracia socialista”. Não! No socialismo, os que chegam ao topo são os piores, os mais cínicos e mentirosos, os populistas, os bandidos, os exploradores. Vide no Brasil petista, ou na Venezuela de Chávez e Maduro, ou em Cuba.

Sob todos os aspectos o capitalismo é bem melhor do que o socialismo. Deveríamos bater mais nessa tecla de que a superioridade moral também é espantosa, e que um abismo intransponível separa um modelo baseado em trocas voluntárias de outro voltado para a “igualdade” forçada, que leva ao caos e à degradação de valores básicos da civilização.

Rodrigo Constantino

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