Cem dias após a posse. É nesse período que o futuro presidente Jair Bolsonaro (PSL) deve mostrar a que veio e fazer jus ao voto de confiança depositado pelo mercado financeiro, fazendo as reformas que são necessárias. Depois disso, se não vierem as sinalizações corretas, a lua de mel com o mundo do capital pode começar a azedar.
“As ações precisam ser rápidas. O mercado não dará benefício da dúvida por mais de cem dias”, afirmou à Gazeta do Povo um gestor de fundos de investimento com grande participação em empresas de infraestrutura e estatais.
Até meados de abril Bolsonaro terá de ancorar as expectativas. Deixar claro para o cidadão e para o setor produtivo e financeiro o que pretende fazer. Cem dias ainda é um prazo curto para que grandes projetos saiam do papel. Mas é esperado que a carta de intenções do presidente esteja bem desenhada, com projetos e planos pormenorizados, permitindo que os investidores se posicionem e que bancos corrijam suas análises de risco e preço com base nessas propostas.
Bolsonaro já começou a se mexer, tendo reuniões com seus principais assessores para definir os primeiros passos e preparar a transição de governo. Onyx Lorenzoni deve ir hoje para Brasília se reunir com Eliseu Padilha para acertar os ponteiros da troca de comando na Casa Civil. Enquanto isso, Paulo Guedes já aponta para as primeiras mudanças importantes que pretende fazer em seu superministério.
A CNI tem reclamado, mas Guedes foi direto ao ponto: “Nós vamos salvar a indústria brasileira apesar dos industriais”. Ou seja, o tom é reduzir subsídios e abrir mais nossa economia, permitindo que os ventos da livre concorrência beneficiem a indústria como um todo e, principalmente, a população. Não dá mais para os grandes grupos ficarem dependendo só de muletas estatais. O choro será grande no começo, como foi quando Collor começou a abrir nossos mercados. Mas os ganhos serão expressivos.
A reforma previdenciária tem sido alvo de muita discussão e divergência. Alguns querem aproveitar já 2018 para aprovar a proposta do presidente Temer, aquém das necessidades, mas um passo na direção certa. Outros preferem esperar o começo do novo governo para fazer uma reforma melhor. O foco de Paulo Guedes tem sido a ideia de contas individuais de capitalização, como ocorreu com grande sucesso no Chile, justamente por economistas de Chicago.
Guilherme Aché, gestor da Squadra e que foi sócio de Paulo Guedes por vários anos (e meu chefe direto na JGP), concedeu uma entrevista que resume bem o que eu penso também do novo governo. Não será o ideal, não devemos esperar milagres. Mas será o suficiente para reviver o ânimo de investir. Aqueles que ainda não entenderam as diretrizes gerais do futuro ministro da Fazenda não o conhecem bem. Aché conhece bem Guedes, assim como eu, e atesto sua visão:
Se você pega a história do Paulo Guedes, está claro o que ele quer. As pessoas confundem clareza com posicionamento tático eleitoral de não divulgar (detalhes). Mas está claríssimo. Vai na direção de um Estado menor, buscando mais eficiência. O Paulo certamente é muito mais radical em relação ao liberalismo econômico do que o Bolsonaro, não vai conseguir implementar tudo o que sonha, mas acho que tem um meio termo que vai funcionar bem. Infelizmente, não vai ser o ideal, mas é suficiente para reviver o espírito animal do mercado.
Por conta disso tudo resolvi criar uma hashtag: #DeixaoHomemTrabalhar! O homem, no caso, pode ser o próprio Bolsonaro, mas o principal agente de mudança é mesmo seu futuro ministro da Fazenda. Bolsonaro tem vários méritos, entre eles a humildade para reconhecer que não é muito preparado para o cargo. Essa humildade é fundamental para que ele possa delegar autoridade e cobrar resultados.
Na economia, ele escolheu um dos melhores nomes disponíveis. Agora é deixar seu “guru” executar seu plano econômico, e usar seu conhecimento de quase três décadas de Congresso para costurar os acordos necessários para aprovar tal plano. Se isso acontecer, o Brasil pode voar. Por isso é crucial acertar no começo, endossar politicamente seu homem forte da economia. Guedes sabe o que faz. #DeixaoHomemTrabalhar!
Rodrigo Constantino
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