O que mais espanta – e cansa – no Brasil é a nossa insistência no fracasso. Se um economista estava na década de 1980 defendendo a fracassada Lei da Informática, por exemplo, o que acontece com ele? Vira presidente do BNDES depois, como ocorreu com Luciano Coutinho. E se ele estava lá na época da hiperinflação? Vira conselheiro do governo, e depois que ajuda a produzir um novo fracasso, ainda finge que não tem nada com isso e passa a criticar, de fora, esse governo.
Delfim Netto me lembra aquela piada do judeu Isaac no leito de morte, quando pergunta para Sara se ela estava com ele quando a loja pegou fogo, quando o furacão destruiu sua casa, quando ele ficou doente. Sim, sim, sim! Ela estava lá, sempre ao seu lado. No que ele lamenta: “Vai dar azar assim no inferno, mulher!”
Brincadeiras à parte, Delfim esteve sempre lá, bem ao lado do governo, seja no regime militar, seja no lulopetismo. Fracasso atrás de fracasso, eis que o economista continua sendo um confiável conselheiro aos olhos dos poderosos e dos jornalistas. Sua opinião sobre economia continua valendo muito, pelo visto, a ponto de todos quererem saber o que ele pensa que aconteceu e, mais importante, que vai acontecer.
Eis que Delfim, que escrevia textos elogiosos ao governo Dilma e desqualificava os alertas “pessimistas”, agora resolveu tecer críticas à “inflexão” supostamente ocorrida em 2014, como se tudo estivesse ótimo antes disso:
Até 2013, você não tinha grandes problemas (nas finanças). Havia alguma orientação equivocada. Mesmo as finanças públicas, que apresentavam um déficit de 3% do PIB, e a dívida pública representando 53% do PIB não eram nada trágico. Mas, em 2014, foi uma coisa deliberada. Eles destruíram as finanças públicas deliberadamente para obter a reeleição.
Mas se Delfim agora resolve pular fora do barco que afunda, para tentar salvar uma vez mais sua reputação, o fato é que eu já mostrava antes o absurdo de suas “opiniões” (sabemos que se Lula, o lobista da Odebrecht, “pedia” para Delfim escrever algo, ele obedecia), comparando-o a Sarney, outro que sempre esteve lá, ao lado do “puder”:
Que gente como Belluzo, Maria de Conceição Tavares, Aloizio Mercadante, Luciano Coutinho, Bresser-Pereira e Delfim Netto ainda dominem as páginas dos jornais com suas “opiniões” sobre economia, isso diz muito sobre o Brasil e sua idolatria ao fracasso.
Rodrigo Constantino
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