Demétrio Magnoli volta a atacar os “trumpistas” em sua coluna de hoje, fazendo uma analogia entre a “elite globalista” e “o Protocolo dos Sábios de Sião”, para resumir a preocupação de todos à direita com o excessivo poder concentrado em burocratas e políticos a uma simples “teoria conspiratória”, com cores antissemitas ainda por cima (e eu poderia jurar que o antissemitismo atual viesse da esquerda, que vive a condenar Israel, jamais dos “trumpistas”, que colocaram a nação judaica como aliado prioritário novamente). Diz ele:
O combate à “elite globalista” proporciona aos adesistas o álibi apropriado para o salto mortal ideológico. Ousados, os neotrumpianos explicam que é preciso distinguir a globalização do “globalismo”, isto é, da maléfica ação política da “elite globalista” — como se a integração mundial de cadeias produtivas pudesse dispensar as instituições e as redes que lhe servem de infraestruturas. Alheios às gargalhadas do público letrado, eles acusam a “elite globalista” (Obama, Merkel, Soros) de nutrir tendências “esquerdistas” e “socializantes”. Na mesma linha, insurgem-se contra universidades que pregam o respeito às liberdades civis e à diversidade cultural, confundindo isso com a doutrina do multiculturalismo, e entidades científicas que difundem informações sobre mudanças climáticas (uma lenda inventada pelos chineses para sabotar a economia americana, segundo Trump).
A “elite globalista”, contudo, não passa da versão renovada de uma narrativa mais que centenária: a conspiração dos Sábios do Sião. A história original, fabricada pela polícia política czarista, veio à luz em 1903, no início de uma onda de perseguições contra judeus na Rússia. Os Sábios do Sião, alta cúpula de judeus sem pátria, tramam para assumir o poder mundial, assumindo o controle das finanças internacionais e infiltrando-se nos governos, na imprensa e nos sistemas de ensino. O polvo opera, simultaneamente, em diferentes partes do globo e em esferas diversas da vida social, mas seus braços obedecem a um comando central.
Já comentei aqui sobre a necessidade de Demétrio Magnoli reler seu próprio livro para refrescar a memória acerca do poder de ação dessa “elite globalista”, que ele agora tanto ridiculariza como se fosse pura invenção e teoria conspiratória de nacionalistas de direita. Mas como o sociólogo esquerdista parece não ter retornado ao seu próprio texto ainda, vamos ajudá-lo nessa tarefa, resgatando novamente alguns trechos:
“Diferentemente das nações, que emanam de um processo complexo de fabricação de uma história, uma literatura e uma geografia, as ‘minorias’ da globalização emergem apenas de uma postulação étnica superficial. Nações podem até ser interpretadas como imposturas, mas são imposturas nas quais o povo acredita. As ‘minorias’, em contraste, são imposturas nas quais nem mesmo os impostores acreditam”. Para Magnoli, as elites multiculturalistas que formam essas minorias artificiais “não precisam de apoio popular, pois a sua legitimidade se conquista nos salões suntuosos das instituições internacionais”. Os “povos indígenas” — que Magnoli grafa entre aspas — são parte significativa dessa farsa.
Com um patrimônio de 13,7 bilhões de dólares, a Fundação Ford destinou 280 milhões de dólares, em 2001, para criar programas de pós-graduação voltados para a formação de “lideranças emergentes de comunidades marginalizadas fora dos EUA”. Segundo Magnoli, “as subvenções da Fundação replicaram nas universidades brasileiras os modelos de estudos étnicos e de ‘relações raciais’ aplicados nos EUA e consolidaram uma rede de organizações racialistas que começaram a produzir os discursos e demandas dos similares norte-americanos”. Hoje, as organizações não governamentais dividem com as universidades o ouro de Ford: elas já ficam com 54% das doações, quando na década de 70 ficavam com 4%. Mas praticamente todas elas têm um grupo universitário de pesquisa por trás, o que dá no mesmo.
“A Universidade Estadual do Rio de Janeiro recebeu uma doação de 1,3 milhão de dólares, que figura na lista das maiores da história do escritório, em 2001, quando implantou seu programa pioneiro de cotas raciais. A Universidade de Brasília implantou seu programa em 2004 e nos anos seguintes recebeu sucessivas doações. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul resistiu até 2007, quando instituiu cotas raciais e recebeu 130 mil dólares. A Universidade Federal de São Carlos, outra ‘retardária’, foi contemplada com uma doação excepcional de 1,5 milhão de dólares, em 2007, ano em que aderiu ao sistema de cotas”.
Demétrio Magnoli faz essa denúncia com base em duas fontes insuspeitas: relatórios da Fundação Ford, incluindo o livro Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança Social, organizado por Nigel Brooke e publicado em 2002 pela própria fundação em co-edição com a Editora da USP; e o livro Foundations and Public Policy: The Mask of Pluralism (Fundações e Políticas Públicas: A Máscara do Pluralismo), publicado em 2003 pela cientista política Joan Roelofs, professora emérita da Universidade do Keene, nos Estados Unidos, e marxista, além de ter sido militante de uma ONG alternativa. Joan Roelofs analisa no mundo o que Nigel Brooke confirma no Brasil: de 1962 a 2001, a Fundação Ford investiu no país 347 milhões de dólares, em valores corrigidos pela inflação. Indígenas, negros e outras minorias artificialmente criadas por militantes travestidos de cientistas sociais foram os principais beneficiários desses recursos.
Faleceu nesses dias, aos 101 anos, o bilionário David Rockefeller, ícone dessa “elite globalista”, que tem em George Soros outro grande financiador. Será que Demétrio esqueceu do que pesquisou e escreveu? Será que ele não sabe mais o que fez a Fundação Ford quando o assunto era cotas raciais? Será que ele realmente não lembra mais do poder imenso que essa turma organizada tem? Precisa ridicularizar quem teme a formação de um “governo mundial”, quando já temos provas fartas do desejo desse pessoal e do que já alcançaram, bastando ver Bruxelas e a reação dos ingleses com o Brexit? Tudo uma “teoria da conspiração”, sério?
Rodrigo Constantino
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