A Editora Abril anunciou nesta segunda-feira, 6, em comunicado, que vai manter 15 títulos em operação – com isso, boa parte do portfólio de revistas femininas e de arquitetura e decoração será fechada.
As medidas, que vão resultar na demissão de cerca de 800 funcionários, segundo apurou o Estado, vêm cerca de duas semanas depois de a empresa de reestruturação Alvarez & Marsal ter assumido o comando da companhia de mídia. No comunicado em que anunciou a reestruturação, a Abril mencionou os cortes, mas não informou o total de demitidos.
Entre os títulos encerrados dentro da reestruturação anunciada nesta segunda-feira estão revistas femininas, como Elle e Cosmopolitan, e dedicadas ao setor de decoração, como Casa Claudia, Arquitetura e Minha Casa. A Boa Forma também deixará de circular. Os 15 títulos que continuam a existir, entre revistas impressas e sites, são: Veja, Veja São Paulo, Exame, Quatro Rodas, Cláudia, Saúde, SuperInteressante, Viagem e Turismo, Você S/A, Você RH, Guia do Estudante, Capricho, M de Mulher, Vip e Placar.
A Abril vem em um processo de reestruturação que já dura cerca de um ano. Em outubro do ano passado, a empresa Legasi (antiga 44 Capital) começou um processo de cortes com o objetivo de reduzir o endividamento do grupo, que hoje está próximo de R$ 1,3 bilhão.
A notícia, claro, é triste: sempre que há demissão em massa, num país com 13 milhões de desempregados, ficamos apreensivos pelo futuro desses profissionais. O grupo Abril passa por uma crise que se deve a diversos fatores, e não podemos reduzir tudo ao aspecto ideológico. Os meios de comunicação sofrem com os desafios modernos, com as redes sociais e a era do “tudo grátis”. Mas não há como negar que a empresa, especialmente após a morte de Roberto Civita, vem dando uma guinada “progressista” violenta, que contaminou até a revista Veja.
Alexandre Borges resumiu ao dar a notícia: “Lacra mais que tá pouco!”. A alfinetada expõe essa decisão estratégica do grupo de falar para sua bolha “progressista”, com essa pegada “lacradora” típica do “jornalismo” moderno. De fato, várias chamadas e reportagens das revistas do grupo parecem saídas diretamente do planeta Bizarro. O fenômeno é conhecido: a distância crescente entre essa elite “progressista” e o povo de carne e osso, consumidor potencial de seus produtos. Não é possível viver só da própria bolha.
A jornalista Malu Gaspar, hoje na revista piauí e ex-Veja, desabafou:
Bem, tava me segurando, mas não aguento. Mais triste ainda do que a crise da Abril é ver um monte de gente comemorando nas redes sociais. Não pela Abril em si, as pessoas têm o direito de não gostar da orientação editorial de seus veículos ou abominar o fundador. É pelo caráter doentio da coisa. Comemorar mais de 700 demissões de trabalhadores com família, filhos, contas a pagar, planos que acabam de ir pro saco?! A maior parte dos que se regozijam é gente que se diz de esquerda e pensa que está sendo vingado por essa debacle. Além da evidente crueldade, é uma burrice. É não perceber que estamos todos no mesmo barco. Hoje são os da Abril, amanhã podem ser vários de nós. Pode-se até achar que está livre ou acima dessa crise. Mas, no fundo, somos todos causa e sintoma, porque a crise da mídia é muito maior e mais preocupante do que os problemas financeiros da Abril. Aqueles que se julgam os sabichões, vingadores de sei-lá-o-quê, podiam olhar mais em volta de si próprios e tentar entender o quanto cada um ajudou a cavar, para que a gente hoje se visse nesse poço sem fundo.
De fato, comemorar o desmonte da Abril com suas centenas de demissões é espírito de porco. Mas, em defesa de quem apenas apontou para o elo entre “lacrar” e falir, uma coisa é festejar demissões, outra, bem diferente, é usar a notícia para mostrar os riscos de negócio para quem vira as costas para o consumidor. Alexandre Borges explicou:
Não imaginei que o disclaimer fosse necessário, mas vá lá: não estamos comemorando 700 desempregados, que encontrem logo a recolocação profissional, a crítica é direcionada à guinada ideológica da Abril depois da morte do Roberto Civita. A bola pune.
Como alguém que escreveu na Veja por dois anos e teve um blog no site da revista, com muito orgulho, lamento profundamente as demissões, mas também entendo perfeitamente as críticas nas redes sociais. Essa situação, de certa forma, foi fruto de escolhas equivocadas do grupo, entre elas justamente a guinada ideológica.
Não adianta investir em tecnologia e negligenciar a mensagem. A forma é importante, mas o conteúdo é ainda mais. Muitos veículos de comunicação no Brasil apresentam produção de primeiro mundo, mas pecam pelo excessivo viés “progressista”. Num país em que a maioria da população adota visão de mundo mais conservadora, especialmente em questões de costumes, é um tiro no pé ignorar essa imensa parcela do público em troca da “lacração”.
Quem não entender isso e não se adaptar para a enorme demanda reprimida por conteúdo mais conservador vai seguir o triste caminho da Abril. A menos que tenha muita grana de herdeiros de bancos para brincar de jornalismo…
Rodrigo Constantino
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