Recapitulando: após a derrota nas urnas, os democratas, que nunca aceitaram o resultado, passaram imediatamente a falar em conluio de Trump com os russos. Durante dois anos, os democratas e a mídia mainstream martelaram incessantemente nesse ponto, confinantes de que Trump seria alvo de um impeachment ou mesmo preso por conta desse conluio. A grande aposta era no tal relatório de Robert Mueller.
O relatório finalmente foi divulgado, depois de anos de investigação e milhões de dólares dos pagadores de impostos gastos no processo. Primeiro saiu um resumo de quatro páginas de William Barr, o procurador-geral, e a conclusão desanimou a turma “progressista”: nada de conluio. Mas calma! Barr seria partidário e era preciso aguardar o relatório de Mueller na íntegra.
Pois bem: ele saiu logo depois, com mais de 400 páginas! Poucos trechos estão suspensos por questões de segurança nacional ou por irrelevância para a conclusão do processo, mas para preservar nomes. Não satisfeita, a esquerda esperneou: pode não ter prova de conluio, mas e a obstrução de Justiça?! O relatório conclui que não há evidência suficiente para abrir um processo sobre isso também.
Em pânico, o que faz a esquerda? Tenta manter a chama da politização acesa, querendo expor os trechos em segredo do relatório. Trump, com todo direito, está saturado desse caso. Barr não pode simplesmente fornecer ao Congresso as informações, pois poderia estar cometendo um crime. Qual a saída? Trump emite uma ordem executiva para impedir a manobra, algo que Clinton e Obama fizeram várias vezes. A imprensa chama isso de “manobra” para impedir o acesso às informações, como fez o editorial do GLOBO hoje:
A situação no Brasil seria explosiva, embora deva-se guardar as diferenças entre a estrutura jurídica americana e a brasileira. Mas, sem dúvida, causaria um terremoto político se a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, depois de uma investigação sobre relações suspeitas do presidente Jair Bolsonaro com grupos externos na campanha, sonegasse ao Congresso, e ao país, a íntegra do relatório do trabalho dos procuradores.
O procurador-geral americano, William Barr, nomeado não faz muito tempo pelo investigado Donald Trump, fez mais. Recebeu o relatório de 400 páginas do procurador especial indicado para conduzir um trabalho de dois anos, o respeitado Robert Mueller — ex-diretor geral do FBI, entre outros cargos de relevo —, e redigiu um resumo de quatro laudas isentando Trump da acusação de ter participado de um conluio com russos, para sabotar a campanha da democrata Hillary Clinton.
[…]
A situação ficou mais grave depois que o discreto Mueller divulgou memorando que remetera a Barr reclamando do procurador-geral. Para Mueller, o comunicado resumido de Barr “não refletiu por inteiro o contexto, a natureza e a substância do trabalho e conclusões” das investigações. E ainda pediu que a íntegra do relatório seja entregue ao Congresso e divulgada.
A suspeição sobre Barr aumentou, e o procurador-geral, que depusera numa comissão mista no Congresso, rejeitou o convite para fazer o mesmo na Câmara dos Representantes, controlada pelos Democratas. Ontem, Trump usou seu poder para blindar o relatório. Há mais uma dura luta político-partidária, sobre um desejado depoimento de Mueller no Congresso, rejeitado por Trump e Republicanos, e a divulgação do relatório. Seu conteúdo não deve favorecer Trump, pela reação dele e de políticos que o apoiam.
Pode ser o caso de Trump efetivamente temer a exposição de algum conteúdo extra? Pode. Mas também pode ser o caso, mais provável, de um presidente cansado de ser acusado durante dois anos de algo que, como mostra o relatório, ele não fez. Em algum momento será preciso dar um basta nisso. Os democratas e a imprensa terão de fazer um doloroso mea culpa e mudar o disco.
Essa narrativa de conluio com os russos já deu o que tinha que dar, e foi nada. A insistência da esquerda, como se alguma grande surpresa ainda pudesse sair desse caso, mostra o desespero dos adversários de Trump numa economia em pleno emprego. Mueller era a grande esperança democrata, e ele achou que não havia provas suficientes para uma acusação de obstrução, menos ainda de conluio. É hora de seguir em frente, escolher algum outro tema. Get over it and move on!
Rodrigo Constantino