Por João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal
Fui criado numa típica família de classe média. Minha mãe tocava um pequeno negócio para manter um carro, uma casa, a educação dos filhos e para poder fazer uma viagem ao exterior a cada três anos, entre períodos de dificuldades. Não foram poucas as vezes em que a geladeira da minha casa esteve vazia para que a geladeira dos funcionários da empresa estivessem cheias. Não foram poucos os natais em que minha mãe deixou de dar presentes melhores aos seus próprios filhos para poder pagar o 13° salário dos seus empregados.
Enquanto acompanhava o dia a dia de minha mãe, eu via Lula na televisão, sempre esbravejando contra a classe média e contra os empresários, acusando-os de serem verdadeiros crápulas. Eram raros os dias em que Lula não aparecia no Jornal Nacional invocando a revolta dos pobres contra os ricos, dos trabalhadores contra os patrões. Foi assim que Lula e o PT conquistaram os corações dos artistas, dos intelectuais e dos jornalistas que hoje reclamam da intolerância política.
Na universidade, presenciei de perto o comportamento das pessoas que preferem bandeiras de sindicatos, de partidos políticos e de Cuba à bandeira de seu próprio país.
Presenciei o desprezo pelas pessoas que trabalham duro para manter o mundo funcionando. Presenciei o desprezo por católicos e protestantes. Presenciei o ódio a todos que conseguem enriquecer trabalhando. Contudo, o que mais me chamava a atenção era a intolerância entre eles mesmos.
Nas assembleias dos Diretórios Acadêmicos e nos Congressos da UNE, o clima era de total intolerância com a ideia e com a palavra do outro. Longas vaias impediam que as pessoas fossem ouvidas ao microfone. As ideias eram discutidas apenas entre aqueles que concordavam com elas. Não havia espaço grupos mais moderados. Não havia debate. Havia apenas a imposição do mais forte, daquele que conseguia mobilizar mais pelegos e intimidar de forma mais eficiente os grupos adversários. Não raro, tudo acabava em pancadaria. Os grupos apadrinhados pelo PT, pelo PSTU e pelo PCdoB não compartilhavam sequer os ônibus que os levavam aos eventos.
A intolerância dentro do movimento estudantil reflete a intolerância que marca a história do comunismo e do socialismo. As primeiras providências tomadas por todas as revoluções da história foram: Matar opositores, matar apoiadores moderados e coibir qualquer potencial foco de questionamentos. Foi Stalin que matou Trotsky. Foi o PT que caluniou Marina Silva na ultima eleição. Foi o PT que lançou a campanha “helicóptero do Aécio”. Socialistas são canibais. Quem matou Celso Daniel?
O curso de arquitetura, do qual eu fazia parte, era um oásis na universidade. O posicionamento político e ideológico não delimitava espaços nem relacionamentos. O mesmo acontecia na Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura, FENEA, cujo estatuto proibia conotação política em seus eventos e projetos.
Então Lula chegou ao poder…
Ao levar para dentro do Palácio do Planalto os discursos de luta de classes, de gênero e de raça, Lula institucionalizou a intolerância.
Ao fazer da educação pública um instrumento de doutrinação ideológica, Lula plantou a semente para uma sociedade vitimista, invejosa e intolerante.
Não era mais um simples sindicalista esbravejando contra o sistema. Era o Presidente da República! Era o Presidente da República que dizia que os pobres deveriam odiar os ricos, que os negros deveriam odiar os brancos, que os gays deveriam odiar os heteros, que as mulheres deveriam odiar os homens, que os empregados deveriam odiar seus patrões e que a esquerda deveria odiar a direita.
A intolerância manifestada sistematicamente pelo Presidente da República descia em cascata através da mídia, envenenando a sociedade.
Senti os efeitos disso em minha vida particular e profissional. De uma das pessoas mais populares entre meus colegas de faculdade, passei a ser mal visto pela maioria delas por ousar me manifestar contra o governo e contra o socialismo. Quando meu primeiro artigo foi publicado no Instituto Liberal e reproduzido por Rodrigo Constantino em sua coluna na Veja, perdi uma centena de “amigos” no Facebook num único dia. Pessoas que gostavam de mim passaram a me repudiar. Pessoas que bebiam e viajavam comigo passaram a fazer piada com meu nome, pelas costas. De elogiado por muitos, meu trabalho em arte passou a ser ridicularizado. Pessoas se desfizeram de quadros que eu havia lhes presenteado. Houve um movimento entre estudantes de arquitetura para se apagar os murais que eu havia pintado em suas faculdades. Uma de minhas ex-professoras não teve pudor em dizer que não se sentia mais a vontade para conversar comigo por eu ser de direita. “Não rola mais tomar uma cerveja contigo. Você é de direita e eu sou de esquerda”, ouvi de um amigo. Perdi 70% dos poucos clientes que eu tinha. Poucos meses atrás, a direção de um espaço cultural mantido pelo governo cancelou uma exposição já agendada alegando que meu posicionamento político era “incompatível” com o deles.
Aconteceu comigo o que acontece com todo e qualquer artista que ousa defender ideias liberais. O meio cultural, composto por aqueles que se apresentam como pessoas evoluídas espiritualmente, não vacila diante de um artista que critica o socialismo e governos de esquerda. Trata de rejeitá-lo. O clima de intolerância é tal que os artistas que não concordam com as ideias e com os procedimentos da esquerda simplesmente se calam porque sabem que uma simples opinião pode transformar amigos em inimigos.
Isso explica a completa ausência de filmes e peças de teatro com viés liberal. Todos os projetos culturais com conotação política impõem o estereótipo do empresário mal caráter e do conservador violento, machista e homofóbico.
Enquanto minha imagem e meu círculo social e profissional eram desconstruídos devido ao meu posicionamento político, eu tomava conhecimento do que acontecia nos ambientes que formaram minha vida acadêmica. Os encontros de estudantes de arquitetura foram transformados em encontros de militantes socialistas, nos quais a liberdade foi substituída pela patrulha ideológica. As pessoas perderam o direito de serem elas mesmas. Todas tiveram que se encaixar dentro de um ou de outro grupo. Os críticos foram isolados ou expulsos. A própria FENEA alterou seu estatuto para se dar uma função política – desde que seja socialista, claro. Nas faculdades, professores passaram a dar mais ou menos atenção aos alunos em função de seus posicionamentos políticos.
A conotação pejorativa do pensamento liberal – menos estado, mais liberdade − ganhou novas proporções. A maioria dos jornalistas de direita foram excluídos dos grandes jornais. Foi proibido se referir a Cuba como sendo uma ditadura. O termo “extrema-esquerda” foi banido enquanto os termos “extrema-direita” e “ultra-conservador” passaram a ser utilizados para identificar qualquer grupo ou partido crítico do socialismo. Qualquer palavra mal colocada por um membro da “direita” passou a ganhar repercussões bombásticas. Numa novela da Globo, um dos personagens fez propaganda de um livro sobre Che Guevara, aquele anjinho socialista que promoveu a paz e o amor perseguindo, prendendo e assassinando opositores.
Nos movimentos feminista, gay e de afirmação racial patrocinados pelo governo, o que reina é a total intolerância com qualquer pessoa que faça simples questionamentos.
Todos os partidos que ostentam bandeiras vermelhas têm Lênin, Marx e Gramsci como referência teórica, ou seja, têm como referência o pensamento daqueles que incentivaram a destruição de todos os movimentos que cobram a autonomia do indivíduo. Gramsci, em especial, desenhou todo o processo de envenenamento ideológico que está corroendo os pilares da cultura ocidental. Não há uma só linha em toda a literatura socialista que pregue tolerância aos valores da direita. A tolerância nunca compôs o ideal socialista. Lula só fala em diálogo com a oposição quando se vê acuado.
Sendo assim, por qual razão deveríamos amar os socialistas? Por qual razão deveríamos respeitar aqueles que nos desrespeitam? Por qual razão deveríamos tolerar aqueles que tentam nos destruir? Deveríamos oferecer flores àqueles que nos apedrejam?
Fato: Muito, muito antes de odiarmos os partidos de extrema-esquerda, eles já nos odiavam.
A pauta “intolerância política” que vem sendo levantada na grande mídia não passa de mais uma estratégia para fazer a vítima se sentir culpada pelas agressões que recebe.
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