Por Percival Puggina
O saudoso Gustavo Corção, em O Século do Nada, assim se refere à relação entre a esquerda e as injustiças: “Não, a esquerda propriamente dita jamais lutou contra a injustiça ou pela justiça; mas, frequentemente, lutou contra os que, por assim dizer, lhe fazem o favor de praticar certas injustiças. É melhor usar o termo próprio: as esquerdas aproveitam as injustiças, vivem das injustiças, para manter em movimento os dois cilindros da motocicleta do progresso na direção da luta de classes”.
Quanta verdade na irônica constatação! Os partidos do Foro de São Paulo obtiveram por algum tempo bons resultados jogando nesse campo. Aqui de onde escrevo, fomos vitimados prematuramente com a eleição de Olívio Dutra para prefeito de Porto Alegre em 1988 e, posteriormente, para governador em 1998. Por tais sucessos, a capital gaúcha se tornou a Meca das esquerdas mundiais e cidade símbolo do Fórum Social Mundial, que por aqui andou enquanto pôde contar com patrocínio público. E todos sabem o que aconteceu com o Rio Grande do Sul.
Os sonhos e promessas do socialismo são empolgantes. “Emprego para todos!”, proclamam, e a mão forte da “vontade política” abriria a torneira dos postos de trabalho. “Terra para todos!”, e os vales férteis subiriam a encosta das montanhas para que o solo, generoso, se parta e reparta em espaçosos quinhões. “Saúde para todos!”, e os hospitais irromperiam nas esquinas enquanto vírus e enfermidades seriam varridos pelas duas penas a mais que se acrescentariam no espanador da despesa pública. “Salários dignos ao funcionalismo!”, e bilhões de reais haveriam de brotar das infatigáveis noites de amor em que a pecúnia se deixaria fecundar pela ideologia e o Tesouro se abarrotaria de valores e créditos.
Um palmo além do nariz se pode vislumbrar uma realidade diferente, mas a munheca cerrada obstrui a visão. A mesma pessoa capaz de crer que o paraíso é produto da vontade política acaba levada a concluir que sua falta também é. E daí vem o ódio mortal aos pervertidos e perversos que mantêm fechadas as válvulas capazes de espargir o maná sobre o deserto das carências. Esses injustos do capeta!
A utopia é a happy hour, o ponto de encontro dos marxistas com muitos cristãos. A parede deve ostentar uma foto de Che Guevara, mas certamente ficaria mais bem decorada se incluísse uma de Emmanuel Mounier, que dizia: “Com os comunistas nos negócios da terra, e com minha fé católica nos negócios do céu”. Foi o velho Corção quem melhor respondeu a essa estranha partilha de negócios sagrados e profanos, imanentes e transcendentes, dizendo que os comunistas não se aborrecerão, em absoluto, com as reservas que os cristãos lhes fariam sobre as coisas do céu. Óbvio, estão nem aí para isso.
Quantos cristãos, porém, malgrado a obviedade, se deixam iludir por essa conversa fiada! Depois de criar tantos genocídios de seus irmãos de fé, enquanto lutava e luta contra tudo que for cristão, ela saiu do ambiente político e se infiltrou na Teologia da Libertação, a desastrada, que atrai cristãos para o comunismo e nenhum comunista para o cristianismo.
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