Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal e originalmente no blog do autor
Aconteceu na Itália: os frequentadores de restaurantes vinham manifestando descontentamento com o fato de que a maioria dos pais que traziam seus filhos pequenos consigo toleravam mau comportamento dos bambini, o que importunava os demais clientes e até mesmo espantava os mais sensíveis. E como os italianos resolveram o problema? Clamaram em coro que “deveria haver uma lei proibindo isso”? Que nada: deixaram que os empresários ávidos por lucro dessem um jeito.
Um deles, proprietário de uma cantina em Pádua, próximo de Veneza, decidiu conceder um desconto de 5% para os fregueses cujas crianças se comportem bem. E a medida foi um sucesso: atraiu tanto os pais que gostam de gastar menos (e sabem controlar seus pequenos) quanto pessoas sem filhos que sabem que não ouvirão gritaria ou ficarão tropeçando na meninada. Um prêmio para aqueles que educam e sabem impor limites a seus filhos, e sossego para os demais – e muitos clientes para o dono do local, claro. O típico jogo de ganha-ganha.
Já os clientes de um restaurante da capital Roma que experimentavam o mesmo estresse observaram o empreendedor tomar uma providência mais simplista, porém igualmente eficiente: ele proibiu crianças menores de cinco anos de entrarem em seu estabelecimento. Atitude considerada Radical? Ato discriminatório? Protestos indignados parando a rua em frente ao local irromperam? Coisa nenhuma: as mesas estão sempre cheias, e aqueles clientes com filhos podem dirigir-se a outro dos milhares de empreendimentos do gênero na cidade. Tudo em paz.
Aí está uma amostra de como o livre mercado, a concorrência, o apetite por faturar e a ausência do governo interventor podem aguçar a criatividade humana e gerar entendimento entre as pessoas com interesses divergentes. A competição sem barreiras e marcos regulatórios faz que todas as demandas, gostos e bolsos sejam atendidos – não por generosidade, e sim pelo interesse do produtor em trocar seus serviços pelo dinheiro do consumidor.
O que induz a perguntar: será que aquele nosso enrosco entre fumantes e não fumantes compartilhando os mesmos bares e restaurantes não poderia ter sido resolvido da mesma forma? Acredito que sim: estabelecimentos voltados apenas para fumantes ou para não fumantes; outros que atendam a ambos os públicos em dias alternados; desconto para quem não acender cigarros, e por aí vai. Teria sido apenas uma diferença de valores da sociedade que impediu que nossos empresários agissem como os italianos (e olha que o país da bota não chega a ser nenhuma referência mundial de liberdade econômica)?
Em parte, sim. O componente cultural, sem dúvida, exerce papel que não pode ser desprezado. Mas o principal fator que impediu que soluções liberais fossem empreendidas chama-se Estado brasileiro. Com toda certeza, quaisquer tentativas dos comerciantes de conciliar os diferentes perfis de clientes em sua propriedade privada seriam tomadas como ilegais, e seriam alvo de ações do Ministério Público pleitando pagamento de “dano moral coletivo” em virtude de atitude supostamente segregativa.
Onde já se viu bater a porta na cara de alguém ou cobrar menos de uns e mais de outros, ditando as regras em sua propriedade privada? Nos vemos no tribunal, capitalista insensível! E é claro que, uma vez demonstrada de forma tão cabal a importância dos órgãos governamentais no episódio, estaria justificado aumentar mais um tiquinho o tamanho do estado – e da carga tributária, opa, como não?
Pior para todos nós, gostemos de ir a restaurantes ou não…
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