O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, um dos pais do Plano Real, cuja estabilização monetária completa 25 anos no mês que vem, vê a reforma da Previdência como o desafio mais urgente entre os que o país enfrenta hoje, mas observa que o desequilíbrio fiscal é uma questão de “curto, médio e longo prazos”. Em entrevista ao GLOBO na última quarta-feira, após dar uma palestra em evento da RB Capital, no Rio, ele previu “uma enorme pedreira pela frente, não só uma pedra no meio do caminho”.
“Estamos numa crise que estará conosco durante muito tempo. Crescemos, na média, 0,6% ao ano nos últimos oito anos. O resto do mundo em desenvolvimento nesses mesmos oitos anos cresceu 4,8%, 4,9%, pelo menos. Essa situação agora é a mais séria da nossa história recente”, disse o ex-ministro.
Ele acrescentou: “O grande desafio está na área fiscal. Este 2019 vai ser o sexto ano de déficit fiscal primário, 2020 será o sétimo, 2021 provavelmente o oitavo e talvez 2022, dependendo da tração fiscal da reforma da Previdência. Todo mundo é a favor do aumento de despesas, para acomodar vários interesses. Todo mundo é contra aumento de impostos e todo mundo acha que dívida se rola, se reestrutura, se posterga, se adia. Não é uma combinação saudável, principalmente quando temos esse crescimento de gastos com Previdência.”
Malan criticou o sistema atual de repartição também, mostrando sua insustentabilidade com base na demografia, e saiu em defesa do modelo de capitalização, defendido por Paulo Guedes, mas deixado de fora da relatoria da reforma: “Quem chega aos 55 hoje vai viver até os 80, ganhando um salário que é um múltiplo de sua contribuição. As pessoas não se dão conta de que nosso sistema é de repartição. Quem está pagando os aposentados de hoje é quem está na força de trabalho. A população cresce a 0,7% ao ano e a de aposentados, a 3,5%. No fim dos anos 2040, só a faixa etária com mais de 60 anos vai crescer. Essa aposentadoria terá de ser paga por essa população que está trabalhando e que está diminuindo. É uma bomba de efeito retardado”.
Por fim, Malan defendeu foco na melhora do ambiente de negócios no país: “No Doing Business do Banco Mundial, o Brasil está na 109ª posição. A China, que estava na casa da 70ª, conseguiu em um ano baixar 20 e tantas posições.” Devemos atuar mais na área micro, portanto. A MP da Liberdade Econômica do governo Bolsonaro caminha nessa direção. Outras medidas precisam vir.
Rodrigo Constantino