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Todo ano é a mesma coisa: quando o Fórum de Davos se aproxima, a imprensa solta reportagens sobre a desigualdade no mundo. A Oxfam tem sido a responsável por esse papel sujo, com o devido financiamento de George Soros, o especulador bilionário adorado pela esquerda caviar. Mas não se enganem: a obsessão pela desigualdade esconde sob o manto do altruísmo a mais mesquinha das paixões, que é a inveja. Quem ama os pobres não odeia os ricos. Já quem ama a pobreza…

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Para colocar os devidos pingos nos is, estou resgatando alguns artigos sobre o tema da desigualdade. Segue mais um, que explica como a esquerda tem obliterado o sentido das palavras para monopolizar as boas intenções, enquanto espalha apenas mais miséria e, pasmem!, muito mais desigualdade.

A desigualdade social

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“Quando as palavras perdem seu significado, as pessoas perdem sua liberdade.” (Confúcio)

O conhecimento humano e a ação humana são fenômenos conceituais. Para a formação de conceitos, o uso da linguagem é fundamental. Ela é justamente a ferramenta que viabiliza a integração dos conceitos. Conforme escreveu Ayn Rand, “a linguagem é um código de símbolos visuais e auditivos que serve à função de converter conceitos no equivalente mental de concretos”. As palavras são essenciais para o processo de conceitualização e, portanto, para todo pensamento. Isso é verdade para alguém isolado numa ilha ou na sociedade. Logo, aqueles que desejam inviabilizar o pensamento independente costumam escolher como principal alvo justamente os conceitos das palavras.

Em 1984, George Orwell tratou do assunto através do conceito de duplipensar, definido pelo autor como “a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e aceitá-las ambas”. O mundo labiríntico do duplipensar consistia em usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, e aplicar o próprio processo ao processo. “Essa era a sutiliza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência e então tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar”. Ou seja, o objetivo era a destruição dos conceitos bem definidos, fundamentais para o pensamento humano. Guerra passava a significar paz, ditadura passava a significar democracia, e social queria dizer anti-social. Este ultimo termo é o foco desse artigo, pois o conceito da palavra “social” passou a ser tão vago, tão abstrato, tão flexível, que perdeu totalmente seu sentido objetivo. “Social” passou a ser uma palavra mágica, que associada a alguma outra palavra qualquer, cria uma expressão que implica numa finalidade a qual quaisquer meios são justificáveis.

Para o austríaco Hayek, o adjetivo “social” tornou-se provavelmente a expressão mais confusa em todo nosso vocabulário moral e político. A extraordinária variedade dos usos da palavra serve apenas para confundir, não elucidar. O próprio Hayek fez um levantamento e encontrou nada menos que 160 termos associados ao adjetivo “social”. Na maioria dos casos, o termo “social” anexado servia na pratica para negar o sentido da palavra. Como exemplo, podemos pensar em justiça, e questionar o sentido de “justiça social”, que quase sempre representa a destruição da própria justiça. Ou ainda os “movimentos sociais”, que costumam ser apenas movimentos criminosos, formado por invasores revolucionários que pretendem destruir a sociedade livre.

O uso do adjetivo “social” serve para insinuar que os resultados dos processos espontâneos do livre mercado foram, na verdade, fruto de uma criação humana deliberada. Em segundo lugar e como conseqüência disso, serve para instigar os homens a redesenhar aquilo que nunca foi desenhado por eles. Por fim, serve para esvaziar o sentido dos termos associados a este adjetivo vago. O exemplo já citado de “justiça social” é perfeito para ilustrar isso. A demanda que surge com o uso do adjetivo “social” ao lado de justiça é adotar uma “justiça distributiva”, que é irreconciliável com a ordem competitiva de mercado, causa do crescimento da riqueza e da própria população. O que essas pessoas chamam de “social” representa o maior obstáculo à própria manutenção da sociedade. Social aqui passa a significar anti-social.

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Se retirarmos o véu que cobre os motivadores reais por baixo do adjetivo “social”, fica evidente que essas pessoas falam em desigualdade material apenas, nada mais. Estão condenando o fato de que alguns indivíduos conseguiram recompensas monetárias acima dos outros. Em suma, estão olhando somente para a conta bancária, como se nada mais existisse na vida. Eles sabem que se usarem o termo verdadeiro, eles perderão a pose de nobreza que vem como resultado do uso do adjetivo “social”. Ora, desiguais os seres humanos já são ao nascer! A genética é diferente, as paixões e interesses, a educação em casa, os anseios e metas, a inteligência e o esforço, a sorte. É simplesmente impossível atribuir peso para cada um desses itens, e é o resultado dessas características na livre interação dos indivíduos que vai determinar as recompensas financeiras.

Isso não quer dizer valor, no sentido de estima, que é subjetivo. Um médico pode ser mais respeitado como indivíduo que um jogador de futebol, ainda que o último tenha uma conta bancária maior. Aqueles que pensam que justiça seria tirar na marra o dinheiro do jogador para dar ao médico estão assinando um atestado de materialistas, que só enxergam dinheiro na frente. Como disse Benjamin Franklin, “aquele que é da opinião que dinheiro fará qualquer coisa pode muito bem ser suspeito de fazer qualquer coisa por dinheiro”. O caráter e a felicidade das pessoas não podem ser medidos pelo bolso. No entanto, parece ser justamente isso que os igualitários defensores da “justiça social” pensam. Eles apontam a desigualdade material e clamam por “justiça social”, ou seja, saldos bancários similares.

O esforço não é garantia de sucesso no livre mercado competitivo. Aqueles que tentaram e não conseguiram a mesma recompensa que o vizinho podem ser alimentados pela inveja. Ainda que compreensível, tal sentimento é destrutivo, e trabalha contra o interesse da sociedade, dos indivíduos. Somente quando o processo de mercado determina a recompensa financeira há um funcionamento eficiente da economia, permitindo maior criação de riqueza e conforto material para todos. Aqueles que, guiados por instintos primitivos, fingem defender a liberdade enquanto condenam a propriedade privada, os livres contratos, a competição, o lucro e até mesmo o próprio dinheiro, representam uma ameaça para a civilização. Eles acham que são movidos pela razão, e que podem definir de cima para baixo como arranjar os esforços humanos da melhor forma para atender seus desejos, mas estão profundamente enganados.

Na realidade, eles usam e abusam do adjetivo “social”, mas estão apenas deixando uma paixão antissocial falar mais alto: a inveja. Eis o que está por trás da máscara da maioria dos combatentes das “desigualdades sociais”. Afinal, o foco de quem realmente se preocupa com os mais pobres deveria ser a pobreza em si, não as desigualdades, já que riqueza não é um bolo fixo. Um indivíduo fica rico no livre mercado somente criando valor para os demais. Michael Dell não teve que tornar ninguém mais pobre para ficar bilionário. Muito pelo contrário: ele ficou rico criando riqueza para os seus consumidores. A criação de riqueza, portanto, depende das tais “desigualdades sociais”.

Quem pretende acabar com as desigualdades está mirando apenas na relação entre ricos e pobres, ignorando que os pobres melhoram de vida se os indivíduos puderem ficar ricos. Se antes o meu transporte era uma carroça e agora posso andar de carro, não importa se meu vizinho tem uma Ferrari. Minha qualidade de vida melhorou, meu conforto é maior, graças ao capitalismo. Focar apenas nas desigualdades materiais, ainda por cima disfarçando isso com o uso inadequado da palavra mágica “social”, é um atentado contra a civilização, principalmente contra os mais pobres. Vamos atacar a miséria em si, e isso se faz com o capitalismo de livre mercado. Mas deixemos as desigualdades “sociais”, leia-se materiais, em paz. Elas são fundamentais para preservar a ordem espontânea que reduz a miséria.

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Rodrigo Constantino