Fernando Gabeira, em sua coluna de hoje, rebate um texto supostamente de Beto Sicupira, um dos bilionários da 3G, empresa que controla a InBev, entre outras gigantes. De acordo com o texto que circulou pelas redes sociais, o empreendedor recomendava que o país esquecesse um pouco Dilma e Cunha e seguisse em frente. Gabeira discorda da mensagem, e eu também.
Entende-se o recado: os empreendedores são aqueles que criam riquezas, e a política, quando toma tempo demais, atrapalha esse processo. Cada um deveria focar, então, em seus projetos e deixar um pouco de lado os imbróglios políticos. Mas isso é simplesmente impossível quando o poder político, exercido ainda pelos piores, tem tanta influência nos rumos econômicos.
Além disso, como diz Gabeira, é cedo demais para esquecer todos os “malfeitos” do governo. Um povo sem memória é um povo fadado a repetir os mesmos erros. Se a enorme crise causada pelo “desenvolvimentismo” lulopetista não servir para lições importantes, se todos os escândalos de corrupção não adiantarem para mudanças na política, então foi tudo em vão e o caminho estará livre para novos demagogos. Diz Gabeira:
Como deixar Dilma de lado, depois de utilizar o dinheiro público como quis, pedalando em nome dos pobres e canalizando o dinheiro para as grandes empresas? Como esquecer o maior escândalo da História e não relacioná-lo à milionária campanha do PT? Como acordar todas as manhãs sabendo que a Câmara é uma piscina cheia de ratos, cujo presidente é um gângster com contas na Suíça?
Assim como as pessoas, os países precisam de vez em quando se olhar no espelho. No momento, o Brasil não consegue fazer esse gesto. Quando há perigo de vida, como nas favelas dominadas por tráfico ou milícia, é prudente seguir trabalhando, conversar o mínimo possível, esperar que a mudança venha de cima.
Francamente, não há grande perigo em resistir à quadrilha política que domina o Brasil. Uma burocrata saiu espetando manifestantes com uma agulha, um professor ameaça levar os reacionários ao paredão e fuzilá-los com uma espingarda. Claro, sempre podem nos chamar de reacionários, vendidos, elite branca, fascistas. Quando criança, a gente simplesmente cruzava os dedos e isolava: tudo o que você falar está me ajudando. Uma agulha pelas costas, uma espingarda velha não são forte elementos de dissuasão. O obstáculo real está nas dúvidas sobre o futuro? O que virá depois? Se aparecer uma simples fresta no horizonte, a multidão passará por ela.
Enquanto Dilma e Cunha estiverem dando as cartas, ainda com o poder nas mãos, a solução de ignorá-los para tocar a vida é simplesmente inviável. Não podemos descansar enquanto não houver punição para os que destruíram o país, quebraram nossas estatais, afundaram a economia e produziram uma inflação acima de 10% ao ano.
O governo teme que a greve dos caminhoneiros paralise o país. Ora, cheguei a brincar na minha página de Facebook: “Dizem que a greve dos caminhoneiros vai paralisar o país. Ora, isso seria bom! Hoje ele está descendo ladeira abaixo. Se ficar só parado, é lucro…” Brincadeiras à parte, às vezes é bom parar para refletir, para um balanço geral, mesmo que isso tenha um custo no curto prazo.
Aquele que prefere se manter alheio à política hoje está ignorando o importante alerta do historiador inglês Arnold Toynbee: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”. De minha parte, só paro para descansar um pouco quando Dilma e o PT estiverem fora do poder!
Rodrigo Constantino
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