Vários pensadores viram que o comunismo era uma seita religiosa adaptada, que em vez de prometer o paraíso celeste, prometia aquele terrestre mesmo. Mas as características eram todas de uma seita, com a ideologia no lugar da religião, mantendo o restante: os crentes, os hereges, os dogmas, os santos, os demônios, o Deus.
O petismo é, no Brasil, o representante maior desse fenômeno. Quem adotar o cinismo como ferramenta e concluir que todos os petistas são simplesmente canalhas e oportunistas estará deixando um lado da coisa de fora da análise. Um lado importante, que explica, por exemplo, como gente pobre, que não ganha diretamente nenhum benefício do PT ou não participa do butim após a pilhagem que a quadrilha faz do estado, permanece como crente fiel da seita.
Quando o juiz Sergio Moro congelou mais de R$ 600 mil da conta particular de Lula, o guru da seita, já era para essa turma pausar para reflexão: que tipo de “pai dos pobres” tem tanto dinheiro em liquidez no banco? Mas mal deu tempo de se criar a dissonância cognitiva e lá veio mais: foram congelados nove milhões de reais de Lula e sua empresa em contas de previdência privada. Nove milhões!
Parêntese para a ironia do número: um milhão para cada dedo do ex-presidente, e mais uns quebrados, o mesmo que ele pegou em anos de prisão na condenação em primeira instância pelo triplex que ganhou como propina no Guarujá. O deputado do PSOL Jean Wyllys, que levou a sério a piada de que Moro deu esta sentença por causa dos dedos de Lula, poderia agora reclamar da quantia congelada também, alegando que se fosse outro teria dez milhões bloqueados. Fecho parêntese.
A notícia deveria ser um choque, um momento de epifania, de despertar, algo como um vídeo de um bispo rindo num iate enquanto ensina seus pastores a pegar mais dinheiro de trouxas para um crente evangélico daquela seita. Mas os petistas não se abalam. Sequer passa por suas mentes como foi que Lula ficou tão rico, e se isso não vai contra toda a sua narrativa igualitária, ou sua imagem de representante da “senzala” contra a “casa-grande”, as “elites”.
Imediatamente após a notícia já tinha petista propondo vaquinha para ajudar o ex-presidente. Isso mesmo: gente pobre disposta a pegar do próprio bolso R$ 10 para contribuir com seu líder, afirmando que tudo não passava de uma estratégia de Moro para que Lula não pudesse pagar seus advogados de defesa. Não vamos esquecer que José Dirceu, também condenado, também milionário, também fez vaquinha e levantou recursos com os petistas.
É preciso convocar psiquiatras, ou melhor, teólogos ou então demonólogos (mais apropriado) para analisar o fenômeno. Só assim é possível compreender a persistência do PT mesmo depois de tudo. Lula é um nababo, que leva a vida de um magnata, em jatinhos particulares, em coberturas na praia, em grandes sítios, entre empreiteiros e banqueiros como “amigos”, tomando os vinhos mais caros, gastando milhões como quem não se importa jamais com o conceito de escassez. E esse sujeito ainda repete que luta pelos pobres contra as elites. E uma ala dos pobres acredita!
Uma das explicações poderia ser a de “mulher de malandro”, aquela que apanha e volta para pedir mais. Ou seja, esses petistas seriam como as namoradas de picaretas que ficam encantadas com o cafajeste e o defendem por aí, como adolescentes apaixonadas, não importa o que eles tenham feito com elas ou com terceiros. Há, ainda, a possibilidade de uma parte do povo se identificar com seu Macunaíma, o herói sem caráter, e ver em Lula aquilo que, no fundo, gostariam de fazer também: se dar bem não importa como. Mas ainda acho que o grosso da explicação é o fenômeno religioso mesmo. Como Gustavo Nogy explicou:
Além dos 600 mil reais, agora a justiça bloqueia aplicações de aposentadoria privada do Lula no valor aproximado de 9 milhões de reais. Quase 10 milhões de reais tem o presidente imaculado que não sabe, não deve, não teme. Que nasceu pobre, cresceu pobre, continua pobre. O lulopetismo depende de credulidade, fidelidade e disciplina. O lulopetismo exige a coragem para apostar alto como um Pascal em bingo; exige a coragem para saltos de arrepiar os cabelos de qualquer Kierkegaard. Tenho admiração por gente assim tão religiosa. Amém.
Não, meus caros leitores, não é possível explicar tudo com base na canalhice. É crucial usar o prisma religioso também. O PT veio substituir as religiões, para muitos, nessa necessidade inata de pertencer a algo maior, de se diluir em meio a um todo de forma a dar propósito para a vida, de abandonar o egoísmo profano em busca de algo mais elevado e sagrado. O problema, claro, é que no caso do PT tudo não passa de uma farsa, um engodo, uma falsa religião, cujos ídolos possuem pés de barro.
Sempre que a religião vai parar na política, aliás, isso acontece. Não é o local para a busca do sagrado, dos santos, da perfeição. O resultado acaba sendo invariavelmente este: a extrema decepção e desilusão para aqueles que conseguem abrir os olhos para a realidade, e um cenário desolador de alienação daqueles mais limitados, fanáticos, que insistem no autoengano, passando vergonha alheia ao defender alguém como Lula em nome dos pobres contra os ricos, chegando ao absurdo de tirar do seu próprio bolso parte do seu dinheiro para ajudar o “coitado injustiçado”.
Sim, aquele mesmo, que tinha 600 mil de bobeira na conta corrente, mais 9 milhões em poupança, fruto de suas “palestras” de fachada para pagar propinas pelas tetas estatais que concedeu aos bilionários empreiteiros, os maiores ícones da tal elite brasileira condenada pelos discursos petistas. Chamar essa gente de burra ou de vendida é ignorar o essencial em muitos casos: são loucos fanáticos mesmo, como aqueles que aderem ao Estado Islâmico.
Rodrigo Constantino
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