É muito mais fácil “salvar o planeta” do que arrumar o quarto. A esquerda, encantada com a sua visão estética de mundo, prefere abraçar as causas nobres por meio de abstrações em vez de arregaçar as mangas e produzir resultados concretos mais singelos e humildes. É por isso que a “ameaça climática” e o “aquecimento global” geram tanta histeria em quem gosta de viver dos sonhos grandiosos em vez de trabalhar para limpar a sujeira da própria rua.
No Dia Mundial do Meio Ambiente talvez seja interessante trazer essa reflexão. Os “estéticos” estão lá, como sempre, fazendo alarmismo e pregando soluções mágicas para problemas reais ou imaginários, como se mais estado ou um governo mundial fossem resolver as supostas ameaças climáticas. Já uma certa direita acha que nenhuma preocupação com o meio ambiente se justifica, o que é bobagem também.
O filósofo conservador Roger Scruton tem um livro sobre o assunto, mostrando como os conservadores precisam resgatar o discurso em prol do meio ambiente, para não deixar o monopólio da causa com a esquerda. O que se deve debater são os meios, a abordagem, e quais as prioridades. Já resenhei o livro aqui, e segue um trecho:
Preocupar-se com o meio ambiente é absolutamente legítimo. Temer mudanças no habitat por conta da evolução urbana idem. O problema é quando isso vira bandeira ideológica ou seita religiosa, monopolizando tais fins nobres e impedindo um debate construtivo sobre o tema. Infelizmente, é o que muitos ambientalistas fazem.
Para oferecer uma visão alternativa, o filósofo Roger Scruton escreveu o livro How to Think Seriously About the Planet, que traz uma abordagem conservadora sobre o assunto. Como ele mesmo diz, não se trata de uma solução detalhada para problemas específicos, e sim de uma perspectiva que fará com que tais problemas pareçam nossos de fato, que podem começar a ser resolvidos por atitudes locais.
O autor descarta as “soluções” radicais daqueles que sempre se imaginam no comando das coisas, no poder global, sem levar em conta outros valores, tais como as liberdades individuais. Para Scruton, os esquemas globais propostos pelos ambientalistas ignoram inúmeras peculiaridades de cada povo, assim como representam uma ameaça à democracia.
Em vez de ativismo político, portanto, ele prega associações livres, nos moldes percebidos por Tocqueville como um diferencial do povo americano. O que ele deseja são instituições agindo em menor escala em vez de grandes campanhas mundiais que acabam tendo pouco impacto efetivo.
Tais associações atuariam sobre questões locais, tentando preservar certos aspectos da natureza não para “salvar o planeta”, um ideal nobre, porém utópico e perigoso, e sim para garantir um processo de mudanças locais mais suave, respeitando valores até mesmo estéticos das comunidades. Pode-se pensar nos grandes parques conservados nos Estados Unidos, como o Yosemite, que já visitei e, de fato, encantou-me.
Tendo essa visão em mente, parece que o ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro resolveu colocar em prática a abordagem conservadora. Quando ele foi apontado para o cargo, Ricardo Salles já tinha dito que muitos querem fazer discurso grandiloquente do conforto da ONU, mas poucos querem “meter a mão na massa”, visitar locais remotos, combater a poluição de fato.
Em artigo publicado hoje no GLOBO, Salles derruba algumas falácias que a esquerda espalha sobre a postura do governo na questão ambiental, mostra que o governo recebeu instituições totalmente fragilizadas dos governos anteriores, e conclui com uma pauta que prioriza os problemas locais, como Scruton gostaria:
Nosso objetivo, contrariando as versões, é justamente dinamizar as unidades de conservação, fortalecendo-as para que realmente possam conservar e receber visitação, pesquisa e desenvolvimento. Trazer as parcerias e concessões privadas para as estruturar e operar de maneira sustentável. Tome-se como exemplo os parques estrangeiros e até mesmo as poucas concessões nacionais, como Foz do Iguaçu.
Por fim, a urgente e necessária Agenda de Qualidade Ambiental Urbana, até hoje tão negligenciada pelos arautos do apocalipse. Avançar no saneamento, com universalização da coleta e tratamento do esgoto; gestão dos resíduos sólidos, através de politicas realistas contidas no Programa Lixão Zero; melhorar a qualidade do ar nos grandes centros urbanos; aumentar as áreas verdes nas cidades, promover a descontaminação do solo e combater o lixo no mar. Temas importantes para a qualidade de vida e a saúde das pessoas, além de essenciais à preservação do meio ambiente e da biodiversidade. Esses são os fatos, o resto é versão.
Enquanto Alexandria Ocasio-Cortez e Al Gore preferem disseminar catastrofismo, alegando que o planeta será destruído em uma década se nada for feito hoje, uma forma canalha de pregar o socialismo, Salles mostra que é preciso efetivamente trabalhar para obter resultados concretos, focando em problemas locais, com soluções locais.
Dá mais trabalho, tem menos charme, não conquista tantos “likes” e tampouco os aplausos de atores de Hollywood, mas é o que funciona e do que precisamos. O ar que respiramos e o saneamento básico são temas bem mais relevantes do que o “iminente derretimento da Terra”.
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS