Por Aline Borges, publicado pelo Instituto Liberal
A prova cabal de que existe doutrinação (sobretudo) marxista nas universidades públicas brasileiras é a reação dos seus amigos quando descobrem que você, “de Humanas”, é liberal.
Se fosse mesmo o espaço da diferença, da alteridade, da polifonia, das diferentes perspectivas teóricas, ninguém ficaria surpreso (indignado, muito menos). Mas como nestes espaços, a preferência político-ideológica de forma quase unânime faz curva à esquerda, soa quase como uma traição ao grande clã.
A melhor reação que experimentei até hoje foi essa: “Mas nem parece, você é tão legal”, com aquele olhar decepcionado de quem ainda não tinha percebido que havia feito amizade com o cão. Sou mesmo. Sou legal e sou liberal. A contradição não existe em mim. A contradição existe em você.
Nesse contexto, há uma tentativa em curso de implantar uma agenda nefasta, cujo objetivo máximo é o direcionamento para o pensamento único. Nos espaços acadêmicos prevalece uma interpretação de mundo com contornos de quase-religião. Em um mundo de alta complexidade social como o que vivemos, é de se estranhar o apego a autores oriundos de uma única concepção teórico-política para explicar a vida social. Causa estranhamento ainda maior quando você percebe, através de mecanismos velados, a tentativa de calar outras interpretações, com máximas do tipo “vá estudar”, “está faltando leitura”, “você, pobre de direita?”, “você, da área da educação defendendo o liberalismo?”.
A lógica de que seu campo de estudo condiciona determinada preferência teórica ou política depõe contra a própria natureza da universidade, que deveria incentivar a diferença de opiniões. Não é no dissenso que muitas vezes emergem novas ideias? Há uma alta expectativa de que seus membros sejam de esquerda, pois apenas uma guinada à esquerda seria democrática e justa. Ser liberal é uma traição ao campo a que pertencemos. Além disso, a palavra liberalismo carrega consigo uma carga de preconceito e desinformação enorme, fruto de anos de catequese marxista nas universidades públicas. Há uma adjetivação das ideias, de forma que políticas tidas como liberais são alocadas automaticamente na “caixa” das políticas antidemocráticas e elitistas. Perguntas essenciais como “por que essa política é considerada liberal?”, “de que forma o fato dessa política ser liberal impacta negativamente o problema que estudo?” sequer são feitas. Isso passa pela ignorância teórica, pela má-fé, pela falta de conceitualização das ideias e pelo desinteresse generalizado.
Há um processo de demonização de tudo aquilo que está associado ao universo liberal. Essa “inquisição” de palavras e comportamentos fragiliza o avanço científico, e, aparentemente, está ajudando a implantar um projeto de poder específico, com ares de adestramento teórico e patrulha ideológica.
Jamais aceitemos a censura velada das nossas ideias e jamais abramos mão do nosso direito de livre pensar. Deveríamos nos permitir experimentar mais, ler novos autores, aumentar a nossa capacidade de comparar ideias em vez de rotulá-las e deveríamos parar de usar jargões que nada ajudam, nada explicam, nada transformam.
Sobre a autora: Aline Borges é Doutora em Educação pela UFRJ e trabalha como Pedagoga na Faculdade de Educação da mesma Universidade. É uma das editoras da página Libertas no Facebook.
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