Já comentei aqui sobre a patetice de todo esse encontro no Panamá, onde Obama, o camarada de comunistas, será elogiado pelas concessões ao regime cubano ao mesmo tempo em que sofrerá um puxão de orelha por sua postura em relação à Venezuela. É o que dá ter um presidente pusilânime que quer ficar bem com todos, inclusive esquerdistas radicais: oferece a mão e logo querem o braço todo.
Mas se tem alguém que consegue ficar ainda pior do que Obama na foto é a presidente Dilma. Seu lamentável papel nessa ópera bufa é defender os interesses… do regime autoritário venezuelano, o mesmo que desrespeita todos os princípios básicos da democracia e dos direitos humanos. Foi o tema da coluna de Demétrio Magnoli no GLOBO hoje:
No Panamá, Maduro protestará contra a “ingerência imperialista”, secundado por governantes que fazem do antiamericanismo uma ferramenta para silenciar sobre a violação das liberdades públicas. O jogral “anti-imperialista” terá a participação ativa de Cuba: na ordem de prioridades de Castro, a defesa do princípio ditatorial tem precedência sobre os interesses da abertura econômica. Mas ele só se sustenta porque conta com as vozes das duas grandes democracias do Mercosul, que são o Brasil e a Argentina. A relevância de Dilma Rousseff é, obviamente, muito maior que a de Cristina Kirchner. Sem a cumplicidade brasileira, o governo venezuelano não teria meios para persistir no rumo da implantação de uma ditadura. Por uma triste ironia, a ex-presa política que ocupa a cadeira presidencial no Palácio do Planalto funciona, de fato, como carcereira dos opositores venezuelanos.
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O conceito de América Latina tem uma longa história, mas sempre expressou o desejo de separar os EUA do restante do continente. No cenário geopolítico atual, a cunha não serve para acelerar a modernização econômica ou afirmar a soberania política das nações latino-americanas. Ao contrário, funciona unicamente como muralha protetora de regimes autoritários. Dilma, a carcereira, consumirá os próximos dois dias na defesa de um tirano sem futuro. Falará como representante de um partido e de uma ideologia, não como presidente de todos os brasileiros.
Tudo isso é muito tosco, ultrapassado, mas a cara do PT. Ninguém pode alegar surpresa quando lembra que o PT ajudou a fundar o Foro de São Paulo justamente ao lado do ditador Fidel Castro. O PT, ao contrário da retórica, sempre flertou com tiranias comunistas, e sempre desprezou a democracia representativa, vista como “burguesa”, uma “farsa” das elites.
A fala da presidente Dilma, portanto, está de acordo com seu histórico e o de seu partido. Só não combina nada com o discurso de defesa da democracia, que a presidente usa sempre que acuada, para se pintar como uma heroína perseguida no passado por lutar contra os militares em prol da liberdade. Que liberdade? Aquela existente em Cuba ou na Venezuela hoje?
Se os Estados Unidos tivessem um presidente mais firme, como algum Republicano, esse circo não teria vez. Mas Obama preparou todos os comes e bebes e ainda estendeu o tapete vermelho para que os tiranos e seus defensores pudessem atuar para ampla plateia de inocentes úteis. O presidente americano que aliviou a barra da ditadura cubana ainda terá que ouvir sermão sobre sua “intransigência” para com Maduro, um incrível democrata.
E essa palhaçada parece nunca acabar. Latino-americanos com claro viés autoritário e incapazes de superar o complexo de inferioridade em relação aos vizinhos do norte terão uma vez mais a oportunidade de defender o indefensável – tiranias socialistas – e ainda cuspir um pouco mais nos Estados Unidos, a democracia liberal mais sólida do continente, que resiste até mesmo ao populismo de Obama.
Rodrigo Constantino