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A dinastia Bolsonaro – ou o início de um longo período liberal-conservador

Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

Primeiro, alguns fatos sintomáticos:
– Dilma, com a campanha ao Senado mais cara (R$ 4 milhões) do país, não conseguiu se eleger.
– No entanto, a co-autora do processo do impeachment de Dilma, Janaína Pascoal, foi a deputada estadual mais votada da história de São Paulo e Kim Kataguiri, líder do MBL (que liderou as manifestações do impeachment), foi eleito deputado federal com mais de 400 mil votos.
– Dois anos atrás, Helio Negão (negro, para os que gostam de identificar a cor da pele das pessoas) conseguiu apenas 480 votos para vereador em Nova Iguaçu-RJ. Nesta campanha, filiado ao PSL e se apresentando como “Helio Bolsonaro”, foi o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro, com mais de 345 mil votos.
– A bancada do PSL na Câmara passou de 4 deputados para 52.
– O PT perdeu 5 milhões de votos no nordeste;
– Bolsonaro venceu em 5 das nove capitais nordestinas;
– O militante LGBT Jean Wyllys perdeu 124 mil votos da eleição de 2014 para esta. Conseguiu se eleger graças aos votos que um homem hetero e branco (Marcelo Freixo) ganhou.
– Metade da população brasileira tem uma renda de até 1 salário mínimo;
– Metade da população do Nordeste recebe Bolsa Família;
– Metade da população brasileira é composta por mulheres e, segundo a pesquisa Datafolha divulgada 5 dias antes das eleições, Bolsonaro tinha 27% (alguns dias antes, ele tinha 21%) dos votos femininos, enquanto Haddad mantinha-se com 20% dos votos desse grupo.
– A campanha do petista contou com um imenso suporte custeado pelo fundo partidário e de sua militância voluntária na classe artística, na imprensa, nos sindicatos e movimentos “sociais”, viagens por todo o Brasil, mais de 3 minutos de tempo de TV, além de toda a expertise do PT acumulada em décadas. No entanto, ficou cerca de 19 pontos percentuais atrás do candidato que estava internado num hospital, cuja campanha foi quase inteiramente feita por seus militantes de forma dispersa e voluntária, com eles mesmos custeando a maior parte do material gráfico utilizado nos eventos.
– O PSDB perdeu quase metade de sua bancada. Geraldo Alckmin foi humilhado.

Essa pequena seleção de fatos mostra que a esquerda perdeu a hegemonia. E não foi por golpe das elites econômicas, nem por causa do machismo, do racismo ou da homofobia.

A esquerda perdeu a hegemonia porque mentiu, insultou, ameaçou, roubou e desperdiçou dinheiro público como nenhuma outra força política na história desse país.
Os petistas até ontem às 19 horas diziam que os políticos deviam ser julgados pelo povo, nas urnas. Foi isso o que aconteceu.

O Brasil que votou ontem é um país majoritariamente pobre e miscigenado; e foi esse país que apoiou massivamente Bolsonaro e que vai apoiá-lo ainda mais nas próximas semanas.

Essa massa de gente que está apoiando Bolsonaro tem plena consciência do viés liberal de seu programa de governo na área econômica, no qual promete privatização de estatais e desregulamentação do mercado.

Mesmo que ele tenha uma mentalidade protecionista em alguns pontos, já é algo surpreendente se olharmos para o histórico brasileiro. Mais ainda se compararmos com as propostas de Ciro Gomes e Fernando Haddad, que prometiam o mesmo de sempre: intervenção, regulação e mais estatais.

Portanto, em vez de a esquerda apontar conspiradores, que tal fazer um exercício sincero de autocrítica?

Por que, em vez de chamar de fascistas os apoiadores de Bolsonaro, não tenta percebê-los como pessoas comuns que têm necessidades, desejos e medos comuns?

A esquerda liderada pelo PT teve apoio dentro e fora do congresso. Teve muito, muito dinheiro. Teve poder de aprovar todas as medidas que melhorariam a vida dos brasileiros. Não quis. Preferiu fazer o que a Lava Jato revelou.

Agora, ao que parece, inicia-se um longo período conservador-liberal com Jair Bolsonaro e, não podemos nos esquecer, seus três filhos construindo carreira logo atrás dele.

Não reclamem. Reflitam.

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