Já fiz a seguinte analogia numa coluna da VEJA impressa uma vez: em geopolítica o país pode ser ou rabo de baleia, e seguir na crista da onda da globalização, ou cabeça de sardinha, liderando um grupo menor e fechado. O Brasil lulopetista inovou e virou rabo de sardinha: é o seguidor dos bolivarianos no fracassado Mercosul, com vizinhos minúsculos como Bolívia abusando de nossa passividade.
Isso é resultado de uma ideologia petista levada ao Itamaraty. Nossa “diplomacia dos barbudinhos” ferrou de vez com a política externa brasileira, com enorme custo para todas as empresas e consumidores. Somos um país fechado, distante do comércio internacional, presos na camisa de força ideológica do Mercosul.
Marcos Degaut, cientista político e doutor em estudos de segurança e professor-adjunto na Universidade da Flórida Central (EUA), comentou justamente sobre esse grave equívoco estratégico em artigo publicado hoje na Folha. Para ele, a nossa diplomacia não percebeu as transições no mundo moderno. Diz o professor:
Segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil exportou US$ 256 bilhões em 2011, US$ 242 bilhões em 2013 e US$ 225 bilhões em 2014. A participação no comércio internacional, que já foi de 2,5% do total, agora é de 1,1%.
Em termos de proporção entre bens e serviços exportados e importados em relação ao PIB, o Brasil (11,5%) só perde para a República Central Africana (10,5%), enquanto a média mundial é de 29,8%. Não coincidentemente esse período de decréscimo coincide com a queda no crescimento do PIB.
[…]
Atrelado ao Mercosul e a suas economias instáveis e problemáticas, sem estratégia de negociações comerciais, desprovido de competitividade industrial e incapaz de reagir política e diplomaticamente às transformações no sistema de governança comercial mundial, o Brasil cada vez mais se isola comercialmente, perdendo oportunidades, influência e investimentos.
Vale lembrar que o país sempre foi fechado, e que a exceção foi na era Collor, com uma abertura à fórceps. Mas o PT conseguiu regredir uns 30 anos nessa área, como em todas as outras. A Lei da Informática tinha o apoio empolgado de um jovem Luciano Coutinho na década de 1980, o mesmo que hoje preside o BNDES que, por sua vez, empresta bilhões para ditaduras bolivarianas ou africanas e pratica a seleção dos “campeões nacionais”. Coincidência?
Ou passamos por uma nova e consistente abertura comercial, ou estaremos fadados a ser rabo de sardinha mesmo, insignificantes no mundo global, sem mercado consumidor para nossos produtos, e importando tudo bem mais caro. Quem ganha com isso, à exceção dos “amigos do rei” com suas reservas de mercado?
Rodrigo Constantino
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