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Sou grande admirador do filósofo Luiz Felipe Pondé e não perco uma coluna sua às segundas na Folha. Critiquei a postura dele na entrevista do Roda Viva, quando disse preferir Jean Wyllys a Bolsonaro e algumas outras escorregadas esquerdistas, mas continuo levando muito a sério o que ele tem a dizer.

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E hoje ele fez uma crítica relevante a nós, da direita liberal. Uma crítica que eu mesmo já faço há algum tempo: focamos demais na economia e não temos conseguido falar às emoções das pessoas. Pondé defende uma direita mais “festiva”, algo que já tinha elaborado num texto anterior, que comentei aqui.

Ele volta ao tema agora, com mais contundência ainda. Primeiro Pondé provoca a direita dizendo que ela tem que aprender a “pegar mais mulher”, ou seja, chegar ao coração feminino é uma vantagem evolutiva que não se pode ignorar. Depois ele parte para o aprofundamento dessa falha dos liberais:

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Mas, há uma outra dificuldade estrutural da direita liberal: só acredita em economia e não acredita em ideias, por isso nunca investe nelas e considera um intelectual um animador de festa e jantares. Acredita mesmo que tudo pode ser comprado e aí apanha da esquerda, que tem uma visão mais abrangente do Sapiens, mesmo que a use para mentir ou criar mundos absurdos. Falta à direita um repertório humanista, por isso é meio tosca.

Isso pode parecer uma questão de detalhe, mas não é. Claro que não se trata de uma regra geral, mas, diria, se trata de um caso quase perdido. A direita liberal acha que o pragmatismo econômico é a única forma de ação que existe no homem. Aqui já aparece sua pobreza de espírito: deixa para a esquerda toda a rica reflexão acerca da humanidade e do “cuidado” para com nosso sofrimento, agonia e inseguranças. A falta de compreensão para com o sofrimento humano é uma das piores faces que a direita liberal apresenta para o mundo. E isso cria a reserva do “mercado humanista” para a esquerda.

A “mania econômica” da direita liberal a cega para o fato que muito já se produziu em matéria de reflexão sobre a humanidade ao longo dos séculos, e, com isso, condena os mais jovens às inutilidades do humanismo raso da esquerda, nascido do ressentimento. Por isso, essa direita será sempre incapaz de enfrentar a esquerda no plano das ideias. Contará sempre com partidos fisiológicos para lidar com a inquestionável hegemonia intelectual da esquerda no país. E nunca terá interlocução no mundo da produção de conteúdo porque, exatamente, não acredita na inteligência.

Esse talvez seja um dos motivos que me levaram mais para o lado conservador do liberalismo. Sempre achei que esses “conservadores de boa estirpe” tinham noção disso, eram mais maduros, sabiam que não era possível focar apenas em economia como os “cabeças de planilha” fazem. Era preciso ter “imaginação moral”, na expressão de Russell Kirk.

Esse assunto já foi abordado por mim aqui na resenha de The Conservative Heart, de Arthur Brooks, do American Enterprise Institute. Em linhas gerais, os liberais não podem achar que basta ter razão para vencer o debate. Eles precisam saber embalar melhor a mensagem, colocar pitadas de emoções, demonstrar mais sensibilidade. Caso contrário, a esquerda continuará com o monopólio das virtudes, das boas intenções, apesar de toda a sua hipocrisia e seu terrível histórico.

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Se a direita liberal não mudar nesse aspecto, veremos candidatos supostamente liberais falando que são também de esquerda, pois se preocupam com os mais pobres. É isso que precisa ser revertido. Os eleitores têm que associar a direita liberal com a causa dos mais pobres, das minorias, de todos. E isso não será feito somente com enfoque na economia, com argumentos racionais.

Não acreditem naquela máxima do marqueteiro de Clinton, de que é a economia, estúpido. A esquerda não leva isso a sério. Tanto que ignora os estragos que causa na economia e ainda assim vence eleições, pois controla a cultura. A batalha é moral, cultural, acima de tudo, e temos que chegar não apenas nas mentes, mas também nos corações do nosso público potencial.

Rodrigo Constantino

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