Sou um liberal que absorveu muitos valores conservadores ao longo dos últimos anos, mas que faz questão de traçar uma linha divisória entre os conservadores de boa estirpe e os reacionários nacionalistas com viés autoritário.
Quem me acompanha sabe que já engoli muito sapo de uma ala mais nacionalista e reacionária da direita por considerar que o principal inimigo é outro, vem da esquerda. E numa guerra cultural, é preciso ter aliados contra o principal alvo, mesmo que sejam aliados estranhos.
Churchill se uniu até mesmo a Stalin para derrotar Hitler. Mas pragmatismo tem limite. Quando vejo as lideranças intelectuais e políticas dessa direita dizendo besteiras incríveis sobre economia, minha área de expertise, só para defender o indefensável, não posso me calar.
A honestidade intelectual é mais importante, além de ser crucial mostrar que o liberalismo não tem nada a ver com um estatismo nacionalista à lá Geisel. Enéas (aquele do “meu nome é Enéas”) era uma figura caricata, mas alguns acham que era a solução para o país. Desses, confesso, quero distância.
E a nova versão, em alguns sentidos, é Jair Bolsonaro. O deputado já recebeu vários elogios merecidos aqui no blog, e também algumas críticas. Não sou do tipo que precisa aderir a seitas fanáticas, daquelas que não permitem discordar uma vírgula do guru senão expurgam os “hereges”. Acho essa postura patética.
E Bolsonaro, ao se sentir mais confiante com as pesquisas, tem falado muita bobagem, especialmente na área econômica. Sua obsessão pelo nióbio, por exemplo, é ridícula, e pregar a exploração por meio do estado é um absurdo antiliberal. Tentei dar só umas espetadas para ver se a ficha caía, mas, diante do esforço geral de justificar o absurdo, resolvi que não dá mais para ignorar o assunto.
É que a própria privatização virou alvo dessa turma, tudo para justificar as besteiras ditas pelo “mito”. Eis o que Olavo de Carvalho disse, por exemplo:
Sério? Então as estatais antes não eram palco de muita corrupção? Vai ver foi por isso que o epicentro da roubalheira foi a Vale, talvez a Embraer, e não a Petrobras, não é mesmo?
Se Olavo apenas se limitasse a afirmar que a privatização não basta, pois o poder continuou nas mãos do establishment, eu seria o primeiro a concordar. O livro Capitalismo de Laços, de Sergio Lazzarini, mostra bem isso.
Mas daí a dizer que a privatização não resolve NADA, e que a roubalheira começou DEPOIS dela, isso é uma estupidez espantosa, uma mentira deslavada!
A onda de roubalheira veio mesmo é com o PT, justamente porque a quadrilha montou um mega esquema usando as estatais como instrumentos. Sim, a Oi, que foi “privatizada”, também fez parte da coisa. A Vale não ficou totalmente imune. Mas como ignorar que foi a Petrobras o principal veículo da corrupção dessa cambada?
Privatizar não basta, repito. Mas ajuda muito! E sem dúvida a solução não é manter as empresas estatais, ou criar novas, talvez uma Niobiobras, quem sabe?
A direita nacionalista-nióbio precisa parar de falar bobagens para defender o indefensável. Privatizar é necessário, ainda que não suficiente. Mas manter as empresas estatais é sem dúvida a pior escolha. Privatize já!
Rodrigo Constantino
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