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A direita se perdeu? Um conservador analisa o que Trump significa para o movimento

Em seu novo livro, How the Right Lost its Mind, o comentarista político e ex-apresentador de rádio Charlie Sykes argumenta que muito do movimento conservador foi sacrificado em 2016 no altar do “trumpismo”. Em uma entrevista ao TheBlaze, Sykes diz que muitos da direita rejeitaram a ideia conservadora – definida pelo respeito à Constituição, governo limitado, liberdade e responsabilidade individual – ao endossar o tribalismo em vez de princípios quando escolheram Trump como candidato republicano.

Para ele, as primárias foram um filme em câmera lenta da derrocada conservadora, capitulando ao personalismo de Trump. Em parte, diz, ele escreveu o livro para tentar entender melhor o que realmente aconteceu. Será que o movimento conservador é tão diferente do que ele havia imaginado, ou será que as pessoas não são como ele pensava que eram?

Sykes acha que Trump é um homem sem princípios fixos, e que representa uma ameaça ao conservadorismo. Sua base é movida pela lealdade pessoal, ao próprio líder, não por um grupo de ideias coerentes. Se os conservadores decidirem que Trump define o movimento, então eles abriram mão de qualquer ponto fixo de referência. Se Trump se mover para a esquerda, sua base vai junto, argumenta o autor.

“Donald Trump é sobre Donald Trump”, afirma. Ele desafia rótulos, apesar de ter abraçado o nacionalismo, o populismo e uma dose de “autoritarismo” desde que assumiu o governo. “Eu penso que muitos de nós tínhamos acreditado que o movimento conservador era movido por ideias, mas eu penso que essas ideias eram frágeis”, lamenta. O que estamos vendo, diz, é menos sobre ideias e princípios e mais sobre lealdade tribal.

Trump não criou isso, apenas surfou na onda, aproveitou as condições pré-existentes. Muitos no Partido Republicano demonstraram falta de coragem política e princípios, perdendo contato com suas bases. Conservadores eram bons em deixar claro contra o que lutavam, mas menos eficientes em articular o que defendiam. Sykes também acha que os conservadores terceirizaram a liderança intelectual para as vozes mais estridentes, raivosas e vulgares da direita.

O avanço dessa máquina perpétua de raiva tende a drenar discussões mais elaboradas sobre as questões relevantes. O viés escancarado da mídia mainstream também teria ajudado a jogar lenha na fogueira. Mas, uma vez que Trump foi o escolhido, muitos conservadores passaram a achar que o papel da mídia com viés conservador era apenas reforçar seus credos pré-estabelecidos, fazer propaganda. Quando o próprio Sykes começou a fazer críticas a Trump em seu programa, ele percebeu a intolerância às críticas, e virou um “traidor”.

A cobertura objetiva e imparcial ficou cada vez mais difícil, enquanto “garotos-propaganda” de Trump, como Sean Hannity, destacavam-se na Fox News. Por isso Sykes tem encontrado dificuldade de ser um otimista na era Trump, em relação ao movimento conservador. Ele diz sentir que foi “excomungado” de um movimento do qual fez parte por mais de duas décadas. Sem uma introspecção, sem resgatar os antigos princípios, Sykes acha que o movimento conservador pode ser gravemente prejudicado pelo trumpismo.

Ao mesmo tempo, Sykes acredita que a esquerda é perfeitamente capaz de implodir por conta própria, se o Partido Democrata continuar se movendo mais à esquerda, reforçando ainda mais esse tribalismo. “Se a política vai ser sobre lealdade tribal em vez de ideias, é difícil ver como você sai dessa do outro lado”, conclui com preocupação.

A desconfiança em relação a Trump dentro do movimento conservador não é nova. Houve o grupo dos “Never Trump”, que chegaram a defender o voto na democrata ou que atacaram Trump do começo ao fim. Muitas questões levantadas por eles e pelo autor são legítimas e merecem reflexão.

Mas uma coisa é inegável: Trump venceu. Se os conservadores tivessem outro candidato, alguém mais fiel aos velhos princípios, mas também mais entediante e comedido, provavelmente a presidente seria Hillary Clinton, o que é uma visão assustadora para a direita.

Além disso, Trump tem se mostrado relativamente fiel aos valores conservadores, especialmente nas decisões mais importantes, como a escolha de Gorsuch para a Suprema Corte, o corte de regulações, o plano de redução de impostos, a clareza moral nos discursos internacionais, a asfixia financeira às ONGs abortistas e ambientalistas etc. Creio que o resultado, até aqui, tem sido menos alarmante do que os “verdadeiros” conservadores esperavam.

Como Sykes reconhece, parte da culpa é do próprio Partido Republicano, do establishment conservador, que perdeu o elo com o povo. Em Barbarians, a jovem canadense Lauren Southern explica porque sua geração prefere Trump aos “chatos” moralistas de antes. Outra parte é devida ao advento das redes sociais, fenômeno incontrolável, que fortalece de certa forma esse personalismo e esse tribalismo.

Qual será a avaliação final da gestão Trump? Ainda é cedo para dizer. Acho saudável os conservadores tradicionais levantarem pontos de preocupação ou fazerem críticas. O movimento conservador sempre se alimentou dessa postura crítica e cética. Nunca sucumbiu a fanatismos ou idolatria. Que continue assim. E que Trump continue fazendo um bom trabalho, provando que o receio dos conservadores talvez seja exagerado…

Rodrigo Constantino

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