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A direita unida e a fábrica de “isentões”
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Acordei hoje bem cedo já com um comentário em O Antagonista sobre o Instituto Liberal e minha pessoa, como apoiadores de Bolsonaro:

Jair Bolsonaro, de uma hora para a outra, passou de estatista a liberal.

Isso permitiu que ele atraísse para a sua candidatura uma turma mais à direita que, até recentemente, atacava-o na imprensa e nas redes sociais.

Seus dois principais assessores, Adolfo Sachsida e Bernardo Santoro, pertencem ao Instituto Liberal, de Rodrigo Constantino, que algumas semanas atrás o acusou de fazer o jogo do PT ao votar pelo afastamento de Michel Temer.

Nota de esclarecimento: De minha parte, estou unido desde sempre aos valores liberais. Aquele que se aproximar desses valores terá sempre meu apoio. No mais, lembro que defender a PROPRIEDADE PRIVADA é a meta básica do liberalismo. Isso, no Brasil de hoje, significa combater a violência e a criminalidade, colocar a segurança pública como prioridade. É Locke na veia!

Adolfo Sachsida e Bernardo Santoro não “pertencem” ao IL. Sacshida é nosso colunista, publica vários textos em nosso site, e Santoro foi presidente do IL, e já não é mais. Dito isso, o Instituto Liberal não defende pessoas ou candidatos, mas sim valores e ideias. Já seus colaboradores ou mesmo funcionários têm todo o direito de apoiar quem quiserem.

Dito isso, e feito o esclarecimento, por que será que Bolsonaro tem atraído até mesmo liberais para sua base de apoio? Será que é só porque resolveu dizer uma ou outra coisa mais liberal? A resposta está na alternativa que certos “liberais” tentam enfiar goela abaixo da população, que são, no fundo, de esquerda. Os “isentões”, com medo de alguém com o perfil de Bolsonaro (e o medo é compreensível), puxam da cartola figuras como Luciano Huck, o que simplesmente não cola.

Tenho escrito bastante sobre isso. Critico e elogio Bolsonaro (e os demais) quando acho adequado, no papel de um analista de cenário e defensor de valores, não de cheerleader de torcida. É o que alguns não conseguem entender, acostumados que estão com fidelidade canina ao indivíduo, não aos princípios.

Carlos Andreazza, editor da Record, já usou sua coluna no Globo para criticar Bolsonaro também, o que gerou inclusive ataques duros por parte da família. Mas é outro que faz análise independente. E por isso mesmo sua coluna de hoje não vai contra Bolsonaro, mas sim contra esses “isentões” que querem criar um Macron brasileiro e, com isso, acabam fomentando a candidatura que pretendem minar:

O troço é tão falso quanto ardiloso. Uma fábrica de isentões cujo produto correrá para se declarar nem de direita nem de esquerda, porque acima — logo explicará — dessa dicotomia ultrapassada; mas que se apresentará com um programa que desfila a própria cartilha esquerdista para o século XXI, apenas domesticada por concessões liberais na economia: desarmamento, legalização do consumo de drogas e pregação abortista etc., tudo, porém, amortecido pelo compromisso com o tripé macroeconômico. Ou seja: uma indústria reprodutora de Obamas a serem comerciados como Macrons. Não há, no entanto, novidade alguma nisso; a não ser o fato de que Marina Silva teria concorrentes no planeta Melancia — caso típico de quando a oferta supera em muito a demanda.

Aí está o que chamam de renovação política; mas que outra coisa não é que imposição do apolítico, paraíso para o desenvolvimento de personalismos — como Luciano Huck. Erra, pois, quem avalia que a recente aceleração da campanha que pretende forjar, por meio do estigma de extremistas, uma polarização entre Lula e Jair Bolsonaro tenha a intenção de beneficiar, franqueando-lhe o terreno do centro (no caso, da centro-direita), algum nome tradicional, como Geraldo Alckmin — já rotulado de velha política pela mesma narrativa renovadora. Esses movimentos — isto, sim — trabalham para que um outsider, embalado como desprovido de caráter ideológico, encarne e capitalize uma percepção difusa de centro equilibrado. Esse é o campo que querem alargar e preencher: o do nem-nem.

Para Andreazza, essa turma vai quebrar a cara, em parte porque acusar Bolsonaro de extremista é acusar seu eleitor de extremista, e milhões de brasileiros estão vendo no “mito” o único a tomar partido e colocar como pauta prioritária a questão da segurança pública. Num país com mais de 60 mil homicídios por ano, enquanto a elite vive numa bolha, isso é estratégia suicida de marketing.

John Locke é um ícone do liberalismo, e o filósofo colocava a defesa da propriedade privada como função básica do “pacto social” da formação do estado. Todo liberal, portanto, tem a obrigação de apoiar aquele que realmente defender a propriedade contra seus inimigos, o que inclui marginais comuns, bandidos ideológicos como o MST e o MTST, e o próprio estado inchado que pretende bancar o Robin Hood e distribuir riquezas.

O povo brasileiro está cansado disso. O discurso “nem esquerda, nem direita” pode soar avançadinho para a elite da bolha, mas a sensação que fica para o eleitor comum é a de afastamento da realidade, de distanciamento artificial, de covardia. É preciso deixar claro como pretende lidar com marginais, o que pensa sobre a bandidagem, como vai agir com essa corja do MST e do MTST, e com esses traficantes que dominaram territórios inteiros. É preciso coragem na largada, objetividade, clareza moral. E Huck tem isso, por acaso?

Rodrigo Constantino

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