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Escrevi ainda há pouco o texto “O que nos diferencia deles?“, em que procuro destacar os principais pontos que separam a esquerda da direita, lembrando que estamos numa maratona, e não numa corrida de cem metros rasos, já que o movimento liberal-conservador é maior do que qualquer candidato específico. Numa agradável surpresa, vejo que o texto de Bruno Garschagen, publicado hoje na Folha, vai ao encontro dessa mensagem.

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Garschagen usa Ortega y Gasset, Christopher Lasch e Paulo Mercadante para concluir que nossas elites viraram as costas para o povo, e que esse afastamento tem produzido uma reação, o que explica o fenômeno Bolsonaro nas pesquisas. Mas o fenômeno em si é mais estrutural e, nesse sentido, bem maior do que o candidato do PSL, que está mais para sintoma do que causa dele. Diz Garschagen:

Esse é o quadro atual: a maioria esmagadora dos eleitores, grupo dentro qual também residem parcelas de conservadores e liberais, rejeita todos os postulantes ao Executivo. Os dados apresentam, portanto, um desafio e uma oportunidade para a direita —e não só para esta eleição.

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Mais importante do que a disputa eleitoral em si é o início do processo de maturidade política da sociedade brasileira, que passou a conhecer —e discutir— ideias outras que não apenas as socialistas e comunistas. É impossível, portanto, entender a emergência da direita brasileira —que terá repercussões na eleição deste ano e nas vindouras— sem a chave-de-leitura fornecida por Ortega y Gasset, Lasch e Mercadante.

Como que para ilustrar com perfeição a mensagem, a Folha publicou logo abaixo um texto de Eleonora de Lucena, em que a jornalista “argumenta” que a ausência do nome de Lula nas urnas pode colocar em xeque nossa democracia. Lucena foi editora-executiva da própria Folha por uma década (2000-2010), o que mostra o típico perfil de quem comanda nossa grande imprensa. Eis o que ela diz:

A direita finge que Lula não existe, que é carta fora do baralho, que deve abandonar o jogo e indicar um substituto. Já quando ele foi preso, obituários encheram páginas e páginas, decretando o fim de um mito.

Mas, até agora, a maior parcela dos eleitores está com ele. Votar em um preso, nessa conjuntura, significa um protesto, uma revolta silenciosa, uma forma de derrubar, pela via eleitoral e legal, a malta que saqueia o país e seus cidadãos. Nada a ver com letargia. É uma ideia de futuro que move os eleitores.

O que ninguém sabe é o que vai acontecer se Lula não estiver na urna em 7 de outubro. Ou se os votos dados a ele forem cassados pela Justiça. As eleições serão consideradas legítimas? É certo que um dos objetivos da direita sempre foi afastar o povo da urna. A ideia do voto não obrigatório é uma face desse antigo projeto.

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É possível que a exclusão de Lula da eleição coloque a própria democracia em risco ainda maior. Os golpistas, que jogam o país no precipício, têm poucas semanas para sacramentar sua estratégia. Já os defensores da democracia precisam se unificar em torno da sua: Lula livre! E candidato.

Essa senhora, com essas palavras tão patéticas, que parecem retiradas de um panfleto de um DCE qualquer, foi editora-executiva da Folha por uma longa década, repito. Eis aí o perfil de quem controla nossa mídia: gente que ainda considera o bandido Lula um mito salvador, e repete as ladainhas inventadas pela extrema-esquerda, como a de que a direita quer afastar o povo da urna.

Eleonora certamente não está sozinha nessa, não se trata de um caso isolado. Ao contrário: é a média que forma nossos jornalistas. O estranho, a exceção, a novidade é justamente o Bruno Garschagen furando bloqueios e emplacando um texto desses na Folha. Essa é a mudança que veio para ficar. Lula ou Bolsonaro, Alckmin ou Amoedo, Ciro ou Álvaro Dias, essas são disputas mais pontuais, eleitorais. É o reflexo conjuntural das forças maiores agindo nas estruturas.

Política costuma ser caixa de ressonância que segue os ventos. Não por acaso muitos tentam vestir a jaqueta liberal agora, após o evidente fracasso da esquerda no poder. O importante é mudar as ideias, modificar a cultura, ainda dominada pela esquerda. Nesse aspecto, a direita veio para ficar, mesmo com a reação da mídia e seu discurso de “fake news”, mesmo com o Facebook perseguindo liberais e conservadores. A onda direitista tem bases sólidas, e é melhor já ir se acostumando. A esquerda perdeu de vez a hegemonia da narrativa…

Rodrigo Constantino

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