A direita conquistou o poder. E, com isso, terá uma série de novos problemas, que podiam já existir antes, mas que certamente ficarão exacerbados a partir de agora. O poder, afinal, corrompe, atrai todo tipo de oportunista, muda aqueles que não se mostram firmes o suficiente no caráter, produz faíscas por coisas aparentemente menores, mas que simbolizam a disputa por espaço e holofotes.
O livro Eclesiastes já aponta: é tudo vaidade. Trata-se do pecado preferido do Diabo, por motivos óbvios. Em The hero with a thousand faces, Joseph Campbell faz uma análise comparada da mitologia, e mostra como suprimir o ego faz parte de quase toda a cultura que enaltece o herói, a descoberta interior, o nirvana ou Deus. Enquanto durar a egotrip, não há como o sujeito agir de forma realmente nobre e heróica.
Algumas pessoas me perguntam como posso ainda elogiar Olavo de Carvalho ou publicar textos que reconhecem sua importância na ascensão da Nova Direita depois de tudo que ele já disse sobre mim. Ora, é simples: não importa o que ele já disse a meu respeito, e sim se o que ele diz agora ou fez antes são coisas que merecem o devido respeito e reconhecimento. Saber separar as duas coisas é fundamental para qualquer análise isenta e imparcial. Deixar um pouquinho a vaidade de lado…
Constato, sem surpresa mas com tristeza, que esse não costuma ser o comportamento típico nessa Nova Direita, ainda mais agora que o poder se aproxima. Para a felicidade da esquerda, haverá muita briga interna, barraco, pontapé rasteiro, puxada de tapete e farpas trocadas. Haverá não; há! Já começou, como podemos ver nas mensagens da bancada eleita do PSL.
Como alguém que escreveu uma coluna chamada “Hora de união”, só posso lamentar essas picuinhas. O Brasil precisa de reformas, mudanças, e já teremos oposição suficiente na esquerda, nos inimigos do progresso, nos grupos organizados de interesse. O “fogo amigo” é completamente desnecessário nesse momento. Mas talvez seja inevitável, eu sei. Não há santos na direita, muito menos na política. São seres humanos também, sujeitos a todo tipo de paixão. E, como lembrou Felipe Moura Brasil, canalhas existem em todo lado:
Eu gostaria muito de ver todos unidos em prol do Brasil, das reformas necessárias, mas seria ingenuidade minha esperar isso sem tropeços no caminho. Seria não reconhecer a natureza humana como ela é, o que tende a ser um erro comum à esquerda, mas não entre conservadores. Somos céticos, especialmente com aqueles no poder.
Devemos nos preparar, portanto, para novas rodadas de barraco, pois o peso do ego parece maior do que o sincero patriotismo em muitos casos. Vemos projetos pessoais e oportunistas falando mais alto do que o amor pelo país. Uma pena, eu sei, mas não chega a ser surpreendente.
Rodrigo Constantino
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