Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal
Diz a sabedoria popular que os peixes de aquário morrem dentro desses redutos de vidro achando que estão em seus habitats naturais; não sei até que ponto isso é verdadeiro, todavia, se faz possível uma metáfora bem interessante que iluminará nosso entendimento sobre a geopolítica contemporânea.
A ideologia esquerdista colocou a modernidade num aquário de ilusões; nela vivem grande parte de nossos intelectuais, jornalistas, formadores de opinião e universitários; nesse reduto que os gurus socialistas mantêm em cárcere privado — isto é, refém de um discurso único — as mentes das pessoas doutrinadas (que chamaremos de “peixes” aqui no texto) que são incapazes de romper as paredes de vidro que os cercam.
Essa metáfora, é bom dizer, é mais que uma mera cópia barata do mito da caverna, de Platão. No mito da caverna, as pessoas eram mantidas reclusas pelo medo das figuras sombrias refletidas na parede do lugar; eles não enxergavam a realidade em si. No aquário, por sua vez, os peixes são mantidos reclusos através da lavagem cerebral e da doutrinação coletiva, não pelo medo; eles veem a realidade que todos veem, todavia, são incapazes de interpretarem por si aquilo que enxergam, dependem dos moldes ideológicos previamente preparados pelos sacerdotes políticos de suas agremiações e partidos. Mesmo enxergando a realidade através dos vidros de sua redoma, os reclusos sempre preferem o aquário com todos os seus enfeites de um mundo ideal, negando, assim, o mar com a sua realidade densa e aporética, porém, verdadeira.
Nada melhor que um exemplo atual para ilustrar a metáfora.
Assistindo mais alguns episódios desse seriado assustador de: Trump vs Kim Jong-um, podemos constatar como a mentalidade coletiva dos universitários, jornalistas e formadores de opinião foram contaminados com o que vulgarmente passou a ser chamado de politicamente correto. Não conseguem fazer uma análise que destoem da mentalidades moldada ao discurso piegas do globalismo. A Coréia do Norte é conhecida como o país das barbáries políticas mais pulsantes e cruéis do mundo moderno e contemporâneo; basta procurar nos anuários da Anistia Internacional, em relatos de fugitivos e países vizinhos, para constatar que até mesmo os órgãos globalistas se assustam e não conseguem eclipsar as atrocidades desumanas recorrentes naquele país comunista. Tal fato é de conhecimento geral e, tirando os jornalistas, Pedro Marin e Andre Ortega, que acham a Coreia do Norte um exemplo democrático, todos têm conhecimento que esse país é um dos vestígios mais necrosados e pútridos das tiranias do século XX.
Relatos como o de canibalismo, torturas, estupros, trabalhos forçados e condições de vida sub-humanas, se avolumam em denúncias de fugitivos da ditadura de Kim. Fugitivos como Yeonmi Park que escreveu o livro: Para poder viver, editado pela Companhia das letras, nele ela nos mostra como a ditadura pode ser despótica ao extremo, beirando o inacreditável. Shin Dong-hyuk, outro sobrevivente do regime comunista, relatou sua história para o jornalista norte americano Blaine Harden, tal relato tornou-se o premiado livro: “Fuga do Campo 14”, editado no Brasil pela Intrínseca. Os relatos desses sobreviventes dão conta de nos mostrar uma Coreia do Norte crua e cruel, vivida sob os olhos daqueles que lá nasceram e sofreram; essas histórias não possuem uma motivação política, mas sim uma motivação humana. É preciso fazer algo para salvar os norte-coreanos, lê-se isso nas entrelinhas de cada página desses livros. Além de que as denúncias dos fugitivos confirmam — com detalhes que só podem ser dados por aqueles que viveram o regime — o que jornalistas sérios, como a americana Barbara Demick, afirmara em sua obra: Nada a invejar.
Mas calma, Pedro Marin e Andre Ortega, da Revista Opera, afirma que tudo isso é uma conspiração americana para esconder o paraíso longínquo de uma Atlântida oriental e democrática; segundo Andre Ortega: “[…] se a Coreia do Norte fosse essa loucura que dizem, ainda assim eu preferiria morar lá, pois lá teria acesso à universidade, não morreria na porta de um hospital. As organizações de bairro se unem para cuidar dos parques e calçadas, tudo é muito mais democrático do que aqui”; muito provavelmente, após essa palestra ministrada na Federal do ABC, ele voltou para a sua casa numa cidade qualquer do Brasil.
A Coreia do Norte mostra-se como autêntica encarnação da URSS em seu escopo mais condensado, sanguinário e despótico. Já não bastasse ter um líder louco e sanguinário, para dar mais emoção à história, quis também o destino que esse tirano possuísse arsenais nucleares à disposição de sua mentalidade basbaque. A inépcia administrativa que reinou no mundo ocidental nos últimos 20 anos, aliado a um discurso de esquerda, foi de tal modo assombroso e parvo que permitiu que um país gerido por um tirano como Kim Jong-um adquirisse livremente, e sem nenhuma restrição, armas que podem dizimar nações em minutos. Como dizia a historiadora Régine Pernoud: nos anos 3000 seremos conhecidos como a geração da tirania e da incompetência (PERNOUD, 1974, p. 108).
Quando Donald Trump se ergueu nos Estados Unidos como sendo um candidato à presidência com possibilidades tacanhas, e, posteriormente, quando passou a ser o protagonista político dos republicanos até chegar à Casa Branca, não foram somente os olhares dos jornalistas socialistas e dos estudantes comunistas que se arregalaram; não era somente a CNN que tinha delírios de raiva e conspirava nas catacumbas de suas redações sobre como difamar de maneira eficaz — até ao ócio — o novo Mr. President. Não somente eles ficavam assustados, mas os tiranos de todo o mundo também. A reação imediata, após a subida de Trump para a condição de Presidente dos EUA, foi o medo dos globalistas que viram sua galinha de ouro bater asas e voar novamente para dentro dos interesses restritos às fronteiras americanas. Os ditadores, como Bashar al-Ássad, Kim Jong-um e Nicolás Maduro, começaram a perceber que a calmaria que reinava sobre seus aquários ideológicos não seria tão duradoura como foi com Obama. Trump era um homem que falava de maneira rasgada, mas que aparentava não estar brincando com a boa retórica; parecia, antes, que ele realmente colocaria em prática suas promessas de ações. As ONGs abortistas que nos digam.
Agora o mundo se encontra numa encruzilhada entre os fatos crus, os discursos factuais sem bons modismos e as parlengas enfeitadas sob mil fitas “politicamente corretas”. Trump desligou o mundinho de utopias socialistas e as pessoas não estão sabendo bem como lidar com isso. Os jornalistas americanos, que variam seus escritos entre notícias e conspirações novelescas sobre os russos e Trump, percebem que o ditador norte coreano está ameaçando as suas frontes com alguns misseis nucleares e como isso não pode ser encoberto com parcialidades, a população começou a tender para as afirmações de autodefesa nacional discursadas por Trump; o que deixou a mídia sem saber o que fazer. Trump, com o mesmo jeito enérgico dos comícios de outrora, já cortou as asinhas do norte coreano assanhado, dizendo a ele que com o Tio Sam não se brinca. Trump fez o que qualquer pai de família honrado, com brio e saco roxo, faria ao ver seu lar ameaçado por um louco, isto é: pegaria sua arma, montaria sua barricada e diria ao louco que, se ousasse colocar a sua família em risco, sofreria as consequências de contra-ataques “com fogo e fúria jamais vistos no mundo”. E adivinhem quem a mídia achou ser o insensato da história? Ora, o Trump, é claro, por sua falta de temperança e suas palavras sem a devida prudência dos mansos ao defender a vida dos americanos.
Ou seja, para a mídia americana, Trump foi o destemperado, e não Kim Jong-um que ameaçou atacar o próprio território americano. Olha, chega a ser tão boçal que argumentar contra tal coisa me parece banal demais para eu desperdiçar meu tempo.
A reviravolta que começa a acontecer no mundo é algo que há dez anos atrás ninguém imaginaria: o povo começa a formar sua opinião à margem dos sensacionalismos midiáticos; a população começa a criticar a parcialidade jornalística e a duvidar da idoneidade de certos meios de notícias. Ora, quer prova maior que a própria eleição de Trump?
Quando a população assiste Jornal Nacional e vê todo o complô midiático armado como um circo para pintar Trump como um palhaço nacionalista, a senhora, simples dona de casa, começa a se questionar: “ué, mas não era o norte coreano, louco, que estava ameaçando o ocidente com bombas nucleares”? Nesse momento a população começa a duvidar das informações verborragiadas na mídia tradicional, pois, mais forte que a doutrinação e o parcialismo midiático, somente a lógica da realidade.
Esses peixes criados dentro do aquário socialista começam a perceber que aqueles que estão fora do aquário têm novos discursos, novos argumentos que condizem mais com a realidade do que as estórias que seus gurus usam para explicar a realidade através de suas alquimias ideológicas.
O aquário da esquerda está num momento crítico, muitos já começam a sair dele. Prontos para romper a bolha ideológica, os gurus temem que seus peixes passem a ver o mundo real tal como ele é, que descubram o mar que existe fora do aquário diminuto no qual eles foram encerrados durante décadas, e, ao fazerem isso, se rendam às analises próprias e não dependam mais de profetas políticos para interpretarem aquilo que seus olhos veem por si. O mundo real, onde homens como Kim Jong-um possui armas nucleares, não precisa de análises “doutorescas” para entender que esse ditador precisa ser parado.
O aquário esquerdista está vazando, está deixando que a fresta da realidade apareça com imponência por entre um Encontro com Fátima Bernardes e um Jornal Nacional; entre um Folha de São Paulo e Revista Opera; através dessas frestas os peixinhos ideologizados começam a perceber que não se combatem tiranos com flores na ponta de fuzis, cantando Imagine em praça pública ou soltando pombas brancas em Copacabana. Começam, por fim, a contestar seus líderes, aqueles que outrora pensavam e falavam por eles. Percebem, também, que uma postura enérgica contra tal ameaça de bombardeamento não é só necessária, como inevitável no mundo real — aquele mundo que existe depois dos portões das universidades federais, sabe?
Quando as bombas de Kim Jong-um voarem sobre as moleiras dos jornalistas da CNN, quando os mísseis desse ditador começarem a ameaçar a integridade do Pedro Marin e do Andre Ortega, da revista Opera, todos eles vão clamar por Trump assim como uma líder de torcida do high school grita o nome do quarterback de seu time. Quando a redoma rompe, e as pessoas vislumbram a realidade tal como ela é, aí então elas percebem que o mundo é muito mais lindo e assombroso; muito mais maravilhoso e problemático do que os enfeites postos no fundo do aquário.
Sobre o autor: Pedro Henrique Alves é Filósofo formado pela Faculdade Dehoniana; escritor na coluna de política do Instituto Liberal de Minas Gerais; editor e escritor do Blog Do Contra; além de estudioso de filosofia política com ênfase em políticas totalitárias.
Referência:
PERNOUD, Régine. Idade média: o que não nos ensinaram, 1ª Ed, Livraria Agir: São Paulo, 1974, p. 108