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O leitor lembra da Carta Capital? É aquela revista do Mino Carta, que tinha Lula como uma espécie de editor informal e que agora está quase falindo, sem as verbas estatais, a ponto de a senadora petista Gleisi Hoffmann parar seu importante trabalho de convocar militância para pedir uma vaquinha e salvar a empresa companheira.

Pois bem: a CC, como todo veículo de esquerda, sempre adotou bandeiras “progressistas”, como as cotais raciais e o feminismo. Qual não foi minha surpresa, então, ao ver uma foto da equipe toda da revista reunida, e não ser capaz de encontrar um só negro, nem mesmo um mais escurinho ali? Nenhuma, claro. A hipocrisia é a marca registrada dessa gente, e nunca me surpreendo com ela.

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Agora foi a vez da BBC londrina passar pelo mesmo sufoco. É o que dá alimentar monstrinho por tempo demais: ele um dia se volta contra você. O canal britânico é campeão de reportagens sobre as “desigualdades entre os sexos”, uma baboseira que vem seduzindo não só as feministas xiitas como até pessoas normalmente sensatas. O gap de salário é martelado até entrar na cabeça dessas pessoas e não deixar espaço para mais nada, muito menos para lógica ou fatos.

Há um hiato nos ganhos médios entre homens e mulheres? Sim! Há algum tipo de machismo de uma terrível sociedade patriarcal por trás disso? Não! Economistas sérios, como Thomas Sowell e Walter Williams, já mostraram o absurdo dessa acusação. É não entender nada de economia – ou, no caso, de biologia, ignorando que a mulher ainda é quem fica grávida em nossa espécie (por pouco tempo, se depender das feministas).

Se a diferença entre salários fosse mesmo por puro preconceito machista, então faria todo sentido do mundo o ganancioso empresário só contratar mulheres. Ele economizaria uns 30% do custo e arrasaria com a concorrência machista. Será que a esquerda está pronta para afirmar agora que empresários capitalistas não são ambiciosos e nem desejam maximizar seus lucros?

Está claro que o buraco é mais embaixo, que passa por produtividade distinta, por privilégios estatais, pelo tipo de emprego que normalmente homens e mulheres escolhem etc. Uma mulher e um homem, no mesmo trabalho, com a mesma produtividade, ganham o mesmo salário. Mas pedir para feministas ajustarem os dados da análise a esses fatores é pedir demais. A conclusão antecede a “análise”, e a lógica desaparece do cenário.

Voltando à BBC, eis uma das chamadas sensacionalistas que fez: “Você provavelmente não estará viva para ver igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho”. No caso brasileiro, o alarde da manchete foi ainda maior: “Brasil levará 95 anos para alcançar igualdade de gênero, diz Fórum Econômico Mundial”. Que horror!

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Mas acontece que uma nova lei obriga empresas a expor diferença entre salários de homens e mulheres no Reino Unido, uma “conquista” que contou, sem dúvida, com a ajuda da BBC em sua campanha “igualitária”. E sabe o que aconteceu, caro leitor? A BBC ficou nua, exposta em praça pública, como aquela que pratica gritantes diferenças salariais entre os sexos!

Foi alvo imediato de ataques, escárnio e reportagens, como essa do The Telegraph, que mostra como dois terços dos que recebem maiores salários na empresa são homens. Dos 96 que ganham 150 mil libras ou mais por ano, 62 são homens, 34 mulheres. Seria a BBC machista? Ou estaria simplesmente adotando a meritocracia e pagando de acordo com a produtividade?

A BBC logo se viu no papel que gosta de colocar os outros: na defensiva. Primeiro, assumiu o hiato, e disse: “não é onde gostaríamos de estar”. Depois, escreveu uma justificativa que nega a coisa de ser exatamente como ela aparenta, e logo no começo elenca o ponto principal: a diferença dos salários não é fruto da discriminação. O segundo ponto é que o trabalho “part-time” explica boa parte do gap. Não diga? Então quer dizer que mulheres escolhem empregos mais flexíveis, talvez para se dedicar mais aos filhos?

Eis o ódio verdadeiro das feministas: a maternidade, essa dádiva de Deus ou da natureza. Sua revolta é contra a biologia, a emoção normalmente inata das mulheres no ato de gerar outra vida de seu ventre e seus instintos maternos para cuidar bem da prole depois. Aqui em frente à minha casa tem uma patinha que circula há semanas com seus seis filhotinhos a seguindo. Dou comida a eles, e quando me aproximo mais de um, a patinha vem rapidamente em sua defesa contra o potencial inimigo. A patinha entende o fenômeno, as feministas, não.

Elas gostariam que as mulheres não tivessem esse instinto materno, que de preferência nem engravidassem, deixando o ovo humano em gestação numa capsula como em Admirável Mundo Novo. O conceito “mãe” seria diluído, até se tornar alvo de ojeriza. E os filhos seriam criados pelo estado de bem-estar social, por babás do governo, em creches públicas. Eis a perfeição feminista, e todos teriam salários iguais, porque homens e mulheres não são complementares, e sim inimigos mortais.

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Em Esquerda Caviar falei bastante do feminismo, dessa suposta diferença de salários como resultado do machismo, e usei um exemplo gritante de hipocrisia que nunca foi explorado pela mídia, muito menos pelas feministas:

Obama posa, como todo grande esquerdista caviar, como protetor das minorias, incluindo a maioria feminina. Sua retórica é toda voltada para o combate ao machismo, que supostamente reduz o salário das mulheres (falso, como já vimos). Curiosamente, quando Obama era senador, as suas funcionárias recebiam um salário médio de quase US$ 45 mil por ano, contra mais de US$ 57 mil da média masculina.

Para acrescentar insulto à injúria, o concorrente das primeiras eleições presidenciais de Obama, John McCain, pagava não só 24% de salário médio feminino a mais que Obama, como suas funcionárias recebiam mais que os homens da equipe. McCain, o Republicano, fechara o gap e invertera a equação, tudo sem a necessidade de leis estatais como as defendidas por Obama.

Pergunte se a grande imprensa explorou esse abismo entre discurso e prática nas eleições. Claro que não! E Obama colheria os frutos de seu sensacionalismo em prol das “minorias”, recebendo uma quantidade desproporcional de votos dessas categorias de eleitores. O populismo vende bem.

Sabem o motivo de tanta hipocrisia passar despercebida? Eu explico. O feminismo não tem nada a ver com a mulher, com seus direitos, ou com seu “empoderamento”. Tem tudo a ver com o esquerdismo, isso sim. E é por isso que a BBC pode empurrar sua pauta feminista de igualdade numa boa, que será poupada pela turma agora, que veio a público sua hipocrisia. No olho dos outros pimenta é refresco, não é mesmo?

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Mas tudo bem. Vou desistir do liberalismo e abraçar o igualitarismo também. Quero salários iguais ao de Oprah Winfrey! Não é justo eu ganhar menos só porque sou homem e branco…

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal