Segundo notícia publicada hoje no GLOBO, o prefeito de São Paulo teria pressionado a cúpula tucana sobre a permanência do senador Aécio Neves no comando do partido:
A discussão sobre permanecer ou abandonar o governo do presidente Michel Temer não foi o único momento da reunião do PSDB na noite de segunda-feira em São Paulo em que a cúpula tucana escolheu ficar em cima do muro. O constrangimento que a permanência do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na presidência da sigla tem imposto aos tucanos entrou no cardápio indigesto do encontro, mas a maioria dos presentes impediu que a discussão seguisse adiante.
Aécio é investigado em nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e, desde que foi flagrado em uma gravação com o empresário Joesley Batista, dono da JBS, pedindo R$ 2 milhões, está afastado da presidência do PSDB. Entretanto, a falta de uma solução definitiva para a situação dele na hierarquia do partido tem sido alvo de queixas de diversos tucanos. Um deles é o prefeito de São Paulo, João Doria, que, mais de uma vez, pediu publicamente a saída de Aécio da direção da legenda.
Na noite de segunda, ele fez a mesma defesa para Aécio e outras 14 lideranças do partido na sede do governo paulista. Conforme relatos ouvidos pelo GLOBO, Doria, depois de fazer elogios a Aécio, disse que uma saída definitiva do senador da direção do PSDB seria um gesto de atitude bem-vindo para reduzir o desgaste que a situação tem imposto à legenda.
Doria nega ter tratado do assunto no encontro, mas está claro seu incômodo com a situação. Não é preciso crer que se trata apenas de um rigor ético, já que muitos vão interpretar como cálculo político. É parte do jogo. Como Jonnathan Haidt argumenta em The Righteous Mind, a preocupação com nossa reputação tem sido, do ponto de vista evolutivo, mais relevante do que algum senso interno de moral.
Por isso o mecanismo de incentivos deve favorecer as condutas mais éticas. Assim não precisamos tanto depender do “moralista” interior de cada um, podendo contar mais com o “relações públicas” interior em todos nós. O ideal, claro, seria que os indivíduos valorizassem o certo por si só, mas o mundo real não é o ideal. E se o PT enaltece seus bandidos, pois aposta na subversão total da ética e no relativismo moral, é bom que os tucanos não embarquem na mesma canoa furada.
Logo, a imagem ainda importa, e a permanência de Aécio mancha essa imagem, prejudicando o eventual candidato do partido em 2018. Por isso há uma briga interna entre novas lideranças e velhos caciques. Ao contrário de uma narrativa simplista e paranóica que enxerga “teoria das tesouras” em tudo, como se cada passo dado pelos tucanos fosse deliberadamente coordenado para ajudar a causa socialista e o próprio PT, a realidade é bem outra: alguns tentam uma renovação dentro do partido, enquanto outros apostam nas velhas práticas.
Vale lembrar que Paulo Eduardo Martins, um liberal-conservador que teve bastante influência na inclusão do fim do imposto sindical na reforma trabalhista aprovada ontem pelo Senado, está no PSDB. Seria ele também um agente do “socialismo Fabiano” para impedir a chegada da verdadeira direita ao poder? Essas teses são ridículas, mas seduzem muita gente, pois simplificam a realidade de forma maniqueísta, e colocam todos aqueles que não estão 100% do seu lado como seus inimigos mortais.
Quando muitos me perguntavam no passado o que os liberais deveriam fazer para mudar o Brasil, eu respondia sempre que não havia um único caminho, que cada um deveria ajudar da sua forma, como num time de futebol. Criar um partido Novo? Por que não? Tentar ocupar os partidos menos radicais de centro-esquerda para mudá-los de dentro? Por que não? Ajudar movimentos de mobilização de multidões para levar, quando preciso, milhões às ruas? Claro! E tudo isso sem deixar o campo das ideias de lado, pois são os “think tanks” que dão sustentação intelectual a essa turma e que podem virar o jogo a longo prazo.
A única postura que não dá para tolerar dentro da direita é aquela de só criticar e nada fazer de concreto, a que tenta criar obstáculos para cada avanço desses, ainda que muito aquém do desejado. É verdade que devemos tomar cuidado com a “mentalidade do puxadinho”, típica no Brasil, de quem se contenta com pouco, de quem mira sempre muito baixo. Devemos sonhar grande, mirar alto, muito alto! Mas com senso de realismo e pragmatismo, e incentivando aqueles que, ao menos, apontam na direção correta.
O PSDB tem sido, historicamente, um partido covarde no combate ao PT, pusilânime na defesa até mesmo de seu legado positivo, como no caso das privatizações. Que novas lideranças desafiem essa postura e tentem dar uma guinada à direita no partido, isso é algo que deve certamente ser elogiado, apoiado, acelerado!
Rodrigo Constantino
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