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Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal e originalmente no blog do autor

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Existem até mesmo perfis no Facebook com esta frase; é comum ver adesivos em carros exibindo a mesma afirmação; vez por outra, em rodas de conversa sobre política, alguém reitera a assertiva, e há livros publicados sobre o tema: Política não deveria ser profissão. O fundamento para tal veto seria o fato de que, com o passar do tempo, o agente político tende a embrenhar-se em esquemas ímprobos a fim de garantir sua manutenção no poder, a envolver-se em lobbies de  grupos de pressão diversos visando angariar verba suficiente para suas sucessivas reeleições (reforçando o capitalismo de laços), e a jamais cumprir o que promete em suas campanhas – ou, na melhor das hipóteses, a demorar demasiado tempo para tal (afinal, se ele fizer tudo que precisa ser feito logo de cara, talvez não sobre nada para ele prometer lá na frente, o que gera, por exemplo, a interminável “indústria da seca” no Nordeste).

Assim sendo, professam estas pessoas o ideal da Inelegibilidade Automática, segundo o qual a nenhum governante ou legislador eleito seria facultado candidatar-se a um segundo mandato. Teria fim, assim, a era dos políticos profissionais. Muito justo, por assim dizer.

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Mas será que não seria mais fácil de resolver esta imperfeição do sistema representativo simplesmente não votando em quem faz da política uma profissão, e abrindo espaço, pois, para outsiders, candidatos com perfil de gestor, com experiência administrativa na iniciativa privada, que não devam favores a ninguém (já que não vislumbram carreira na política e arcam com parcela considerável do custo de suas próprias campanhas) e que planejem retornar a suas empresas tão logo entreguem o que prometeram em suas campanhas? Sim, exatamente como fizeram a maioria dos eleitores paulistanos e americanos em 2016.

Os primeiros meses de governo de João Dória e Donald Trump surpreenderam àqueles habituados a morosidade do jogo político tradicional. Existe um problema a ser resolvido: como procede o governante típico? Primeiramente, inaugura ele um longo período para que “a sociedade debata” o tema – durante o qual ele procurará, em verdade, conciliar o interesse das mais diversas bancadas das casas legislativas e empresários “parceiros”, buscando não desagradar ninguém com quem possa contar no futuro, em um jogo corporativista dos mais promíscuos, no qual o interesse público fica relegado a um mero detalhe.

Dória e Trump, a seu turno, quase mataram de susto os incautos, pois mal puseram o pé dentro de seus gabinetes e desandaram a pôr em prática o que haviam proposto àqueles que neles confiaram seu voto. Mas por que a surpresa, afinal? Se deixaram claro durante seus discursos quais eram as medidas que tomariam ao serem empossados em seus cargos, por que não começar a efetivamente materializá-las de uma vez? O cidadão tem pressa, ora. Bom para os moradores de sampa e dos Estados Unidos.

João Dória está limpando a cidade de pichações, zerando a fila de exames médicos pendentes, promovendo o maior programa de desestatização que a cidade já viu, providenciando cortes de despesas públicas na ordem de 25% (excetuando educação e saúde), reduzindo a frota da administração municipal em 1,3 mil veículos (o que implicará em economia de R$10 milhões mensais), diminuindo em 30% o número de cargos comissionados (cerca de 3.000), conseguindo, junto a empreendedores privados, um sem número de doações para pessoas carentes – entre eles moradores de rua que obtiveram emprego no processo -, e lançou um programa para reduzir para cinco dias o tempo necessário para abrir uma empresa. Isso tudo só para citar algumas ações do prefeito que está mostrando serviço gastando pouco (e até mesmo fazendo zeladoria com as próprias mãos). E olha que ele está há apenas dois meses à frente do comando da maior metrópole da América Latina.

Donald Trump, a seu turno, não deixou por menos: tão logo assumiu a Casa Branca, começou a expedir uma série de executive orders (Decretos) que deixaram tonta a mídia tradicional acostumada a pusilanimidade de Obama. Na verdade, enquanto ele ainda era apenas presidente eleito,  dezenas de empresas desistiram de sair do país e tantas outras anunciaram novos investimentos por lá.

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E após o dia vinte de janeiro do corrente ano, começou a avalanche: corte de regulações a fim de dinamizar a economia local, nomeação de um Juiz de altíssimo quilate para a Suprema Corte, fortalecimento da segurança nas fronteiras, aperto do cerco contra terroristas de origem islâmica, apresentação de projeto ao Congresso Americano propondo redução de impostos às empresas na casa de 15%, saída (sem nunca ter entrado) dos EUA do Acordo de Associação Transpacífico (TPP) – um dos maiores embustes globalistas ao “livre” comércio -, revogou uma orientação do ex-presidente Hussein que obrigava as escolas públicas americanas a permitir que os alunos escolhessem qual banheiro usar de acordo com sua identidade de gênero, e por aí vai. Tudo isso em pouco mais de um mês, o que deixou eufóricos os investidores daquele país, fazendo a bolsa de valores atingir sucessivos recordes.

Nem se faz necessário, portanto, pleitear alterações legais para alcançar o objetivo daqueles que consideram que “política não deveria ser profissão”: basta ir até a urna e privilegiar aqueles candidatos que não tratam política como profissão, capazes inclusive de abrir mão dos próprios salários. Simples assim. E a partir do sucesso de Trump e Dória em suas administrações, é de se prever que surgirão novas figuras com o mesmo perfil de CEO em breve. Façamos votos que sim. Se em 2018 poderemos eleger um Presidente da República deste naipe? A conferir.