Uma investigação da agência de notícias Associated Press (AP) descobriu quase 2 mil alegações de abuso sexual e exploração por capacetes azuis em missões de paz da ONU de várias partes do mundo. As revelações podem indicar que a crise na organização é muito maior do que já se sabia, com base em denúncias passadas, sobretudo, em nações africanas.
Segundo a AP, mais de 300 destas alegações envolvem crianças, mas apenas uma fração dos supostos autores dos crimes de exploração e abuso sexual foram presos.
Além disso, o vazamento de um relatório interno da ONU de 2007 mostrou um esquema de exploração sexual infantil no Haiti, envolvendo 134 capacetes azuis do Sri Lanka. Apesar de evidências claras para comprovar as ações criminosas, ninguém foi preso e 114 soldados foram enviados de volta para casa. O governo do Sri Lanka se recusou a dizer o que aconteceu a 23 soldados que foram disciplinados pela história.
A ONU foi, nos últimos anos, acusada sistematicamente de negligência na atuação de soldados em missões de paz. No caso mais emblemático até hoje, 69 capacetes azuis foram acusados de abuso sexual na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo. Lidar com a crise nestas missões é um dos maiores desafios para o novo secretário-geral da organização, o português António Guterres, que tomou posse no cargo em janeiro deste ano.
Como, depois disso, alguém pode reclamar da postura de Donald Trump em relação a ONU? A entidade virou cada vez mais irrelevante do ponto de vista prático para impedir abusos políticos, e se tornou ela mesma uma fonte de abusos de outra natureza.
A ONU é o órgão internacional que melhor representa a esquerda caviar. É a bolha da elite par excellence, formada pelas mais belas intenções, com resultados tantas vezes opostos aos desejados. É o rico achando que está ajudando os pobres, mas que só ajuda ele mesmo, o rico, a se sentir menos culpado. É o mundo da retórica, não dos resultados. O mundo da estética, não da verdadeira bondade.
Dominada por políticos e burocratas “sem rosto”, que não foram eleitos por ninguém, mas concentram poder demais, a ONU se meteu em diversos escândalos de corrupção, foi seduzida por petrodólares e seu braço de “direitos humanos” virou uma piada de mau gosto, ao se calar sobre os piores regimes enquanto vive a condenar Israel, uma democracia avançada no Oriente Médio.
A irrelevância da ONU salta aos olhos. Como estaria o mundo hoje sem o poderio militar dos Estados Unidos, acusados pelos defensores da ONU de “unilateralismo”? Pois é: a gestão pusilânime de Barack Hussein Obama deu uma palhinha de para onde a coisa estava indo, e o destino era assustador. Sem um xerife que fale grosso contra os inimigos da liberdade, eles ficam mais ousados.
Claro que abusos por soldados são frequentes em guerras, e isso não é exclusividade da ONU. O meio não é o mais propício para a retidão moral, digamos. Mas os vários casos de estupros dos “capacetes azuis” da ONU chamam a atenção para a gravidade do problema. E pensar que a imprensa mundial dá mais destaque quando alguns soldados americanos extrapolam em seus atos com terroristas assassinos! O que deveria ser uma missão de paz acaba se mostrando um inferno para aquela gente que seria ajudada.
Nos EUA, o republicano Bob Corker, que comanda a Comissão de Relações Exteriores do Senado, tem pedido reformas na ONU, e juntamente com a embaixadora americana na entidade, Nikki Haley, luta para que todas as missões de paz sejam analisadas: “Se soubesse que uma missão de paz da ONU estaria perto da minha casa no Tennessee, entraria no primeiro avião para voltar e proteger minha família”.
O advogado haitiano Mario Joseph, que tem tentado conseguir indenizações para as vítimas de abusos e pensões para as mulheres que engravidaram de soldados da ONU, desabafou: “Imagine se a ONU fosse aos EUA estuprar crianças e levar o cólera. Direitos Humanos não são apenas para pessoas ricas e brancas”.
Sem dúvida. Mas muitas pessoas “ricas e brancas”, da elite, adoram pregar os Direitos Humanos por aí, da boca pra fora, defendendo na prática os abusos da ONU ou a impunidade de marginais. Os movimentos em prol dos tais “direitos humanos” viraram basicamente isso: um discurso bonitinho para acalentar corações culpados da elite, e um esquema para abusos por parte dos envolvidos.
Fecho repetindo minha pergunta acima: como, depois disso, alguém pode reclamar da postura de Donald Trump em relação a ONU?
Rodrigo Constantino