A vitória dos “liberais” no Canadá, que são, na verdade, de esquerda, levantou a velha questão dos conceitos. Um texto de Alexandre Borges publicado aqui dá o tom da coisa: os socialistas, sabendo que o termo está cada vez mais desgastado, tentam usurpar o bom e velho termo “liberal”. Não podemos deixar! Segue um trecho do capítulo “Duplipensar” do meu Esquerda Caviar, que fala justamente disso:
Palavras e expressões fazem diferença na cultura de um povo. Mas mesmo os americanos não ficaram livres das manipulações de conceitos. A esquerda lá foi tão eficiente que usurpou até mesmo o termo “liberal”, que passou a ser associado a políticas claramente antiliberais, que pregam sempre maior intervenção estatal na vida dos indivíduos.
O líder do Partido Socialista americano, Norman M. Thomas, em um discurso de campanha em 1948, declarou que o povo americano jamais adotaria o sistema socialista de forma consciente. Mas, sob o nome “liberalismo”, encamparia cada fragmento do programa socialista até que um dia a nação seria socialista sem saber como aconteceu. Quando vemos que Obama se diz um “liberal”, temos de reconhecer a capacidade profética do líder socialista.
No Brasil, o termo perdeu totalmente seu sentido, e nossos males sempre foram jogados na conta do tal “neoliberalismo”. Porém, como disse Roberto Campos, o “Brasil está tão distante do liberalismo – novo ou velho – como o planeta Terra da constelação da Ursa Maior!” Só mesmo no Brasil que um partido de esquerda como o PSDB pode ser rotulado de neoliberal.
Recentemente, talvez por perceber os ventos de mudança e o declínio da esquerda, chamuscada pelo desgaste no poder, parte da imprensa começou a tentar criar no país a mesma dicotomia entre liberal e conservador existente nos Estados Unidos. A Folha, quando fez uma reportagem sobre uma pesquisa que mostrava que o brasileiro é conservador, colocou a bandeira do desarmamento como coisa de liberal. Não! Desarmar inocentes não é uma bandeira liberal, até porque os liberais respeitam o direito individual de legítima defesa.
Mas a esquerda caviar adora rótulos sem sentido. Enquanto posa de moderada, costuma atacar seus oponentes como “extremistas”. O primeiro passo daqueles que pretendem confundir os indivíduos com seus vagos termos é jogar tudo no mesmo saco, chamando o conjunto todo de “extremismo” e pregando um “caminho do meio”. A técnica é conhecida.
Se alguém escutar uma pessoa afirmando ser igualmente contrária à peste bubônica, ao estupro e aos sermões de sua sogra, não restará dúvida de que o objeto do seu verdadeiro ódio seja a sogra, e eliminá-la parecerá o real objetivo de sua colocação. Afinal, não seria razoável considerar como males iguais as três coisas, por mais chato que fosse o sermão da sogra.
Da mesma maneira, quando alguém repete que condena igualmente o comunismo, o nazismo e o capitalismo, não resta dúvida de que o alvo verdadeiro seja o capitalismo. O comunismo carrega nas costas algo como 100 milhões de defuntos, enquanto o nazismo tantos outros milhões. Ambos são totalitários, depositam no estado todo o poder, partem para fins coletivistas, transformando os indivíduos em meios sacrificáveis, e incitam o ódio do preconceito, seja de classe ou de raça.
Em outras palavras, tanto o comunismo como o nazismo, similares em inúmeros aspectos, são absolutamente opostos ao capitalismo liberal, que prega a liberdade individual, entendendo que cada indivíduo é um fim em si. Enquanto o comunismo e o nazismo trouxeram apenas desgraça, miséria, terror e morte, o capitalismo trouxe o progresso para os povos e retirou centenas de milhões da pobreza, o estado natural da humanidade.
Mas os “moderados” jogam tudo no mesmo saco, sem separar o joio do trigo, e alegam que são “neutros” ou isentos de ideologias, com o único intuito de obliterar o verdadeiro significado do termo “capitalismo” e manchá-lo com as más companhias. A tática deu certo, claro, pois vemos que os capitalistas morrem de medo de serem acusados de radicais só por defender o capitalismo, infinitamente superior aos demais. Ayn Rand tentou reagir a esse perigo: “A melhor prova do colapso de um movimento intelectual é o dia em que ele não tem nada mais a oferecer como um ideal último além da demanda por moderação”.
Portanto, caros leitores, muito cuidado com os conceitos, com as palavras, com os termos utilizados. É do interesse da esquerda operar num ambiente de confusão conceitual, de termos vagos, onde ela pode simplesmente se apropriar, quando julgar necessário, dos conceitos diametralmente opostos ao que ela realmente defende.
Liberalismo não pode ser confundido com esquerdismo. O liberalismo foca no indivíduo; a esquerda pretende usá-lo como um meio sacrificável, como um peão num tabuleiro de xadrez. Esquerda e liberalismo são como água e óleo: não se misturam.
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião