A história se repete, mas como farsa. Um governo claramente de esquerda, que seduz inúmeros “intelectuais” socialistas sob os infindáveis alertas de liberais e conservadores, mostra-se um retumbante fracasso na prática. Arrasa o país, destrói a economia, gera mais desigualdades e desemprego. Aí os “intelectuais” iniciam um processo de jogar esse governo para longe do esquerdismo, na esperança de salvar a ideologia dos “malfeitos” causados, uma vez mais, por ela.
Foi assim em quase todo regime comunista. Não era comunismo de verdade, diziam. E insistiam em mais uma experiência, apenas para ver novos fracassos que não seriam colocados na conta da ideologia. Basta ver, como já citei aqui, como a imprensa, dominada por “jornalistas” com o mesmo viés, recusa-se a usar a palavra “socialismo” quando fala das desgraças venezuelanas. É como se o caos não tivesse ligação alguma com a ideologia de Chávez e Maduro, aplaudida por tantos “intelectuais”.
Pois bem: o economista Sérgio Besserman, irmão do falecido Bussunda, é o mais novo a seguir nessa campanha de desinformação que tenta livrar o esquerdismo das desgraças petistas. Em sua coluna de hoje no GLOBO, Besserman vai bem quase o tempo todo, mostrando posturas insustentáveis dos petistas, como a acusação de que a defesa do impeachment de Dilma é “golpe”, e conclui constatando a importância de uma esquerda mais moderna, que ele mesmo representa. Ia tudo bem, até o desfecho, em que dissocia PT de esquerda:
Numa democracia, esse critério só pode ser a Constituição, e a instância final sobre a constitucionalidade, o STF. Como isto está sendo integralmente observado, é incoerente e absurda a afirmação de que está ocorrendo um golpe.
A não ser que alguns acreditem que o contraditório deva ser resolvido de outra forma que não através da Corte Suprema. Pela força nas ruas, talvez? Intervenção militar? Milícias? Quem é “contra o golpe”, consciente ou inconscientemente, tem na mente alguma forma de resolver o contraditório que passa por impor sua posição pela força, assim definida qualquer outra forma que não o recurso ao STF.
Essa discussão já não é mais uma questão prática para o enfrentamento da crise, mas é reveladora de uma realidade trágica da vida nacional. O Brasil, que tem na desigualdade a cicatriz mais profunda de sua sociedade, precisa, e muito, de uma esquerda do século XXI, democrática e antenada com os imensos desafios do mundo contemporâneo.
Entretanto, as forças políticas da vida nacional que se pretendem de esquerda são prisioneiras de um ideário anacrônico, completamente alienado dos verdadeiros desafios do mundo atual e, o que é pior, como revelado agora na narrativa do “contra o golpe”, com um núcleo de pensamento autoritário que deveria ter ficado no século passado.
Não é a esquerda à qual sinto, desejo e quero pertencer. Não é a esquerda de que o Brasil necessita. Não é nem esquerda.
É de esquerda sim, Besserman! Eu mesmo tenho tido o cuidado em meus textos de separar essa esquerda mais retrógrada, xiita, socialista, ultrapassada, radical e carnívora daquela mais moderna, democrática, herbívora. Tenho mostrado como é absurdo chamar o PSDB de “neoliberal” ou de “direita”, prova do nosso atraso intelectual. O PSDB é justamente essa esquerda de que você fala, e sei que você pensa isso também.
Mas daí a dizer que o PT não é nem de esquerda mais, isso não é aceitável. É o quê? Direita? Liberal? Piada, né?! O PT é claramente um “partido” de esquerda, só que da velha esquerda carnívora socialista. Se FHC é um símbolo do “socialismo fabiano”, mais light e democrático, o PT representa o antigo socialismo, o bolivarianismo, o chavismo, o comunismo. Mas é tudo de esquerda, com diferenças de graus e essência.
Veja que um ultra-esquerdista como Arnaldo Bloch vai além, e tenta usurpar o conceito de “liberalismo clássico”, agora mais na moda no Brasil, para essa esquerda radical xiita. Eis o que o “jornalista” tem a cara de pau de escrever:
Ao recusar uma chapa única e pulverizar votos, os liberais (no sentido clássico) Freixo, Molon e Jandira têm como objetivo eleger Crivella, Pedro Paulo, Flavio Bolsonaro ou Romário?
Freixo, Molon e Jandira Feghali como liberais clássicos? Em que planeta bizarro esse cara vive? É muita canalhice mesmo, aproveitar a má fase da esquerda para roubar rótulos alheios em um processo tão evidente de desinformação. Meu amigo Alexandre Borges matou a pau e não deixou barato:
É cada vez mais difícil entender quais são os pré-requistos para se tornar um colunista da velha imprensa do Bananão.
Quando você acha que já viu de tudo, o colunista de O GLOBO Arnaldo Bloch, o ultra-esquerdista que é também sobrinho-neto de Adolpho Bloch, fundador do grupo de comunicação dono da extinta TV Manchete, lança a seguinte pérola: Freixo, Molon e Jandira, que representam a esquerda mais radical da política carioca, seriam “liberais no sentido clássico”.
Sim, queridos, os pré-candidatos a prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Freixo (PSOL), a representando do Partido Comunista do Brasil Jandira Feghali e o petista até outro dia, Alessandro Molon, atual membro da REDE, uma linha auxiliar do PT, são “liberais clássicos” para o colunista que tem meia-página em O GLOBO todo sábado.
Você tem todo direito de pensar o que quiser sobre política, mas chamar de liberal clássico os representantes da extrema-esquerda da política da sua cidade não é opinião, é desonestidade intelectual, ignorância ou ambos.
O que há de “liberal clássico” no programa do PSOL ou do Partido Comunista do Brasil? Alguém poderia me mostrar por favor? Desde quando o “liberalismo clássico” é representado por idéias de controle estatal em cada aspecto da sua vida e a imposição de uma agenda de engenharia social que negue tudo que a população brasileira acredita em termos de moralidade, ordem social e princípios para impor o socialismo?
O mesmo jornal que cortou a coluna de Rodrigo Constantino (e cortou há anos a do Olavo de Carvalho) dá espaço para alguém que faz esse tipo de afirmação, sabe-se lá o motivo. Goste você ou não do que escreve o Rodrigo, você consegue imaginar ele cometendo um erro desta magnitude? É o fim da picada.
Depois os jornais dizem que estão “em crise”, quando o que está morrendo é a velha imprensa e suas panelinhas, seus espaços preenchidos por qualquer tipo que passe pelo filtro da cota ideológica.
Pois é: como discordar? Vivemos na era das redes sociais, e esse tipo de campanha de desinformação não cola mais com tanta facilidade. Vocês podem continuar tentando, mas estaremos aqui para frisar que o PT, o PSOL, a Rede e o PCdoB são todos de esquerda sim. É o esquerdismo radical deles, o socialismo, o grande culpado pela desgraça latino-americana. Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina, Nicarágua e Brasil: todos vítimas do esquerdismo que os “intelectuais” adoram, e sempre tentam poupar de responsabilidade na hora que vem a fatura de tanta estupidez.
Rodrigo Constantino
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