Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
Causou controvérsias a reportagem da Folha de São Paulo que analisou o patrimônio de Jair Bolsonaro. Três questões principais chamaram atenção para ela: a evolução patrimonial do parlamentar, o recebimento de auxílio-moradia, embora possua apartamento em Brasília, e o fato de alguns especialistas terem afirmado que duas das diversas operações imobiliárias que realizou nos últimos anos possuíam “indícios de lavagem de dinheiro”. Enquanto os defensores do presidenciável argumentaram haver uma perseguição do veículo de imprensa, seus detratores o equipararam a todos os políticos. Esse discurso foi endossado inclusive por jornalistas mais identificados como “à direita” do espectro político, quais sejam, Cláudio Tognolli e Rachel Sheherazade.
Dessas três questões que foram levantadas contra Jair Bolsonaro, precisamos considerar que, de fato, antes de entrar na política, o então capitão do exército possuía tão somente uma moto e dois lotes (que valeriam atualmente algo em torno de R$ 10 mil), ao passo que seu patrimônio, juntamente com o dos outros três filhos que estão na política, supera R$ 15 milhões. Todavia, não é surpreendente o aumento de patrimônio de políticos per si, já que, se contabilizado apenas o salário de um deputado federal, sua renda é superior a 99,5% dos brasileiros.Caso sejam contabilizados ainda os benefícios, a despesa mensal com um parlamentar passa de 170 mil reais. Não à toa, quase metade dos congressistas desta legislatura são milionários.
Já em relação ao recebimento do auxílio-moradia, a defesa de Jair argumentou que não violou nenhuma norma administrativa da Câmara dos Deputados e que utiliza a verba pelo fato de seu imóvel ser de 60m², bastante aquém do padrão dos apartamentos funcionais dos congressistas. Embora possa ser moralmente questionável a postura de Bolsonaro, alega-se não haver ilicitude nesse caso.
O maior problema abordado pela reportagem é o terceiro ponto – a suspeita de lavagem de dinheiro em duas transações imobiliárias. A obscuridade do caso gira em torno do fato de a antiga proprietária ter adquirido um imóvel por 580 mil reais e, apenas 4 meses depois, tê-lo revendido a Bolsonaro com um prejuízo de um terço do valor originalmente comprado. Isso porque a utilização de laranjas para aquisição e revenda de imóvel em valores distantes do de mercado é um modus operandi rudimentar de lavagem de dinheiro. Dessa forma, nada mais normal que, a partir do levantamento da Folha, seja iniciado um inquérito para a operação ser investigada pelas autoridades devidas.
A grande desonestidade do caso é que a militância, em larga medida, comparou Bolsonaro a Lula, equiparando-os em termos de ética e moralidade. Isso é conveniente ao discurso petista, pois, na percepção do eleitor brasileiro médio, “todos são igualmente corruptos”, ao passo que a grande marca de Jair é que ele seria incorruptível. O eleitorado costuma se levar mais por narrativas que por fatos, e narrativas o PT sabe criar muito bem. Afinal, igualar um político como Bolsonaro – que, ao menos até o presente momento, nem sequer possui uma investigação administrativa contra si por lavagem de dinheiro – a Lula, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e réu em meia dúzia de ações penais, só faz sentido no universo petista.
Ainda assim, não foi a grande imprensa que comparou ambos, foram os eleitores de Lula e parcela de militantes contrários a Bolsonaro, que já não votariam nele de qualquer forma. Vale dizer que a vida de todos os candidatos à presidência precisa ser revirada e investigada a fundo. O período pré-votação é o momento em que devemos testar os políticos, e é natural que quem venha se destacando nas pesquisas eleitorais atraiam maior atenção da mídia. Além disso, centenas de escândalos de corrupção foram revelados inicialmente pela imprensa – e não pelo Ministério Público ou Polícia Federal. Não à toa, mais de 90% dos brasileiros consideram a mídia como um instrumento anti-corrupção.
De fato, parcela da imprensa de fato é tendenciosa com Jair Bolsonaro, mas como mandatário de um cargo público e presidenciável que é, ele não pode se furtar a prestar esclarecimentos à sociedade sobre quaisquer questões que sejam levantadas, e isso inclui não selecionar a quais veículos responder.
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