A França é o país mais dirigista e estatizante entre os ricos europeus. Um amigo “brincava” que toda ideia ruim do século XX pode ser de alguma forma associada a um pensador francês. O antiamericanismo, fruto da inveja, é a marca da elite “pensante” parisiense. A crença de que o estado será a grande locomotiva do progresso e da justiça social ainda é forte no país. As máfias sindicais são extremamente poderosas. O mistério é como a França ainda não afundou de vez, apesar de estar a caminho, ainda que com certa elegância.
Diante desse quadro quase socialista, e após o fracasso do governo socialista de Hollande, eis que surge um sujeito jovem, casado com uma senhora bem mais velha, com fala mansa e propostas “modernizantes”. Sim, ele vinha do mercado financeiro. Sim, ele foi do mesmo governo socialista de Hollande até “ontem”. Sim, era um ilustre desconhecido. Mas a mídia se encantou! E o socialista virou um moderado modernizador da noite para o dia.
Com maquiagem suficiente e uma ajudinha da imprensa, Macron foi eleito (é verdade que a alternativa era terrível também, o que ajudou). Mas imediatamente várias pessoas supostamente inteligentes passaram a repetir que o cara era um liberal moderado. Aí não! Cheguei a escrever textos alertando para o engodo da “fake news”, como este, em que procuro compreender a felicidade com a derrota de Le Pen, mas mostro perplexidade com a celebração da vitória de Macron em si.
Mas no Brasil temos que ter paciência, todos aqueles que possuem algum bom senso. A turma gosta de ser enganada. A turma ainda acredita na mídia mainstream. E a turma adora a forma, sem ligar tanto para o conteúdo. Basta aparecer um sujeito com postura moderada, calmo, em ternos decentes, que a galera vai ao delírio: moderado, moderado! Ele pode ser socialista, mas se vestir um terno Armani, vira um moderado!
E como o tempo é amigo da razão… a máscara do socialista caiu. E foi bem rápido. Macron decidiu estatizar o estaleiro STX. Isso mesmo: estatizar! Os “moderados” social-democratas costumam privatizar estatais com nojinho, por necessidade, não por convicção, como fizeram os tucanos no Brasil. Mas estatizar já é outra história. É vermelho mesmo, não rosa. É socialista!
Claro, o argumento é de que se trata de medida “temporária” (e não foi assim com as cotas raciais, com o assentamento agrário e tantas outras medidas “temporárias” da esquerda?). “Anuncio que tomamos a decisão de exercer nossos direito de preferência na STX. O nosso objetivo é defender os interesses estratégicos da França. A decisão de exercer esse direito que apenas adotamos é uma decisão temporária”, informou Bruno Le Maire, ministro da Economia. Só digo uma coisa:
Tentando ser muito compreensivo com o Macron, podemos até dizer que uma estatal comprar outra, num setor “estratégico” como o dos estaleiros, é algo que pode suscitar dúvidas. Mas se fosse um Reagan a vetar tal compra, a gente até poderia acreditar na intenção. Vindo de Macron, a máscara cai mesmo, e fica evidente o pretexto para, no fundo, levar adiante sua agenda estatizante, como todo socialista. Não dá para comprar o “liberal” Macron a valor de face. É preciso ser muito ingênuo para cair nessa.
Mais cautela, meus caros liberais. Não podemos aceitar que qualquer um que apareça com roupas finas e fala mansa, prometendo algumas reformas “modernizantes”, seja logo associado ao liberalismo. Liberalismo é coisa séria, tem uma história, um legado, ícones louváveis. Chamar social-democrata de liberal já é ofensa o suficiente. Meter socialista no grupo é inaceitável!
Rodrigo Constantino
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