Um dia após a divulgação de conversas entre o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, e o então juiz e hoje ministro da Justiça, Sergio Moro, o conteúdo e a interceptação das mensagens trocadas serão investigados. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) instaurou reclamação disciplinar contra Dallagnol, e a Polícia Federal vai apurar, no mesmo inquérito que tenta identificar os invasores do celular de Moro, como foram obtidas as mensagens publicadas no domingo pelo site The Intercept.
O jornalista do GLOBO Gabriel Mascarenhas, repórter da coluna de Lauro Jardim, teve sua conta no aplicativo de troca de mensagens Telegram invadida por um hacker no dia 11 de maio. O ataque foi relatado a autoridades na ocasião.
Após a invasão, o hacker, se passando pelo jornalista, enviou mensagens intimidadoras ao procurador regional da República Danilo Pinheiro Dias. O criminoso dizia que precisava falar com Deltan Dallagnol, da Lava-Jato em Curitiba, pois tinha informações de que a operação estaria em risco. Afirmava que fora procurado por uma terceira pessoa, que teria invadido perfis de outros investigadores e lhe passado materiais sigilosos que comprometeriam a investigação.
Mais adiante, na mesma troca de mensagens, o hacker mudou o discurso, após o procurador desconfiar da real autoria das mensagens. Fez ameaças objetivas ao procurador, sustentando que poderia acabar com a Lava-Jato. Pinheiro Dias entrou em contato com o jornalista, que esclareceu não ser o autor das mensagens.
Estamos diante de um espião criminoso ou de uma quadrilha poderosa, ousada o suficiente para invadir conversas privadas do ministro da Justiça e de procuradores. Não é brincadeira. E por isso mesmo suscita todo tipo de tese “conspiratória”.
Alguns já falam em russos, o que nunca seria surpreendente dado o grau de obscuridade do regime de Putin, um sujeito que era diretor internacional da KGB aos 32 anos. E o ministro da Economia fala em tentativa de sabotar a reforma previdenciária, o que também parece crível quando lembramos do episódio de Rodrigo Janot com a JBS, que abortou a reforma do governo Temer.
Sabemos que o “deep state”, o “establishment”, a turma que deseja manter seus privilégios, seria capaz de tudo para impedir a reforma. Guedes relembrou casos de ataques aconteceram quando um governo esteve em vias de aprovar uma reforma. “Gravaram o Michel Temer, dizem: não vai ter reforma da Previdência. E não foi falta de tentativa. Uma hora é o Michel Temer, outra é o filho do Bolsonaro, hoje é o Moro. Não é coincidência que estoura essa ‘bombinha’ toda hora e se paralisa a marcha dos eventos”, afirmou.
J.R. Guzzo acha que há uma conspiração contra a Lava Jato: “A clonagem do telefone do ministro Sérgio Moro é apenas um episódio a mais na única disputa de verdade que existe hoje no Brasil: a guerra para derrubar Moro, liquidar a Lava Jato, soltar Lula, sabotar o governo e devolver o país aos ladrões – centrão, PT, empreiteiras. Só isso”.
Janaina Paschoal também se manifestou estranhando a reação de muitos, aqueles que bancam a virgem num bordel. Ela chama a atenção para o tipo de relacionamento promíscuo que existe no Poder Judiciário, ignorado na hora de julgar conversas aparentemente inocentes entre Moro e Dallagnol:
Hilário ler que o CNMP está discutindo em grupo de whatsapp o que fazer com os Procuradores que se falaram em grupo de whatsapp. Será que ninguém percebe o pitoresco da situação? Pena eu não ser uma escritora, fosse, não faltaria material. Em um país em que parentes de Ministros advogam nos Tribunais Superiores; em que a nata da advocacia criminal faz jantar homenagem ao Presidente da Corte que julgará suas causas; em que o magistrado da causa oferece jantar de aniversário para a parte… em que um ex-Ministro de Estado se refere a um Ministro do STF como “nosso advogado” e ninguém se considera suspeito, DATA VENIA, parece piada querer fazer um carnaval por causa de três frases em um grupo de whatsapp. Faz-me rir!
A deputada defendeu o direito de divulgar as informações, em nome da liberdade de expressão, mas aventou a possibilidade de um interesse obscuro por trás da coisa toda: “Na melhor das hipóteses, querem prejudicar a reforma da previdência, que só ajudará o país e as camadas mais desfavorecidas da população. Mas PT e PSOL não se preocupam com o povo, preocupam-se com os sindicatos, com as Associações, com aqueles que têm representação e força”.
Sobre o Intercept, que não se pode escrever sem PT no final, e seu fundador, um ativista de esquerda disfarçado de jornalista, não resta muito o que dizer. O próprio Glenn Greenwald já confessou que sua missão não é a busca da verdade, mas “destruir” Bolsonaro:
Não resta dúvidas de que a origem das mensagens merece mais investigação e atenção do que o próprio teor das mensagens, que por enquanto não mostram nada demais. Dito isso, é preciso finalizar com uma repreenda aos bolsonaristas mais aguerridos. Entende-se a revolta, a suspeita, a raiva com a hipocrisia e o cinismo da esquerda, mas princípios ainda existem e não devem ser abandonados, nem mesmo nessa “guerra”.
Falo da campanha para que o “jornalista” responsável seja deportado. Isso é simplesmente absurdo. Ele deve ser investigado, sem dúvida, mas todos são inocentes até prova em contrário, e precisamos respeitar o devido processo legal. Joel Pinheiro comentou: “Que me conste, a hashtag #DeportaGreenwald é o ponto mais baixo e assumidamente autoritário a que a militância bolsonarista já chegou. Mas vamos lembrar que ainda é início do mandato; tenho certeza de que ainda dobrarão essa meta!”
Pedro Menezes, colunista da Gazeta, também concluiu: “Sejam quais forem suas opiniões sobre economia, você não é liberal se apoia o #DeportaGreenwald.” E, de fato, ninguém pode ser liberal e aplaudir uma campanha dessas. Que fique registrado isso. O que nos diferencia do adversário é justamente o zelo com o processo, com os meios utilizados.
Rodrigo Constantino