Maílson da Nobrega escreveu um texto em que chama de “vexame” a postura de Bolsonaro e do seu futuro ministro de Relações Exteriores, ao declararem que Maduro e o “presidente” cubano não seriam convidados para a festa da posse em janeiro. O jornalista Ricardo Noblat replicou o texto, aplaudindo a crítica.
“Pode-se discordar do regime comunista cubano e lamentar o desastre causado ao povo venezuelano pela administração de Nicolás Maduro, mas para todos os efeitos formais os países que eles presidem são considerados nações amigas”, resume Maílson. Mas será que não convidar os líderes é o mesmo que deixar de ser amigo das suas nações?
Creio que não. Acho, inclusive, que pode ser justamente o contrário. Como o próprio Ernesto Araújo justificou, “Em respeito ao povo venezuelano, não convidamos Nicolás Maduro para a posse do presidente Bolsonaro. Não há lugar para Maduro numa celebração da democracia e do triunfo da vontade popular brasileira. Todos os países do mundo devem deixar de apoiá-lo e unir-se para libertar a Venezuela”.
Ou seja, o verdadeiro amigo quer libertar o povo do jugo do tirano. Ser amigo da nação não é o mesmo que respeitar qualquer regime, com base na “autodeterminação dos povos”, até porque, como sabemos, os povos desses dois países são tudo, menos livres para escolher seus destinos. A democracia foi totalmente rasgada em prol de uma ditadura que oprime o povo.
Dito isso, Maílson está certo em cobrar coerência: se não são regimes amigos, então o melhor talvez fosse romper relações diplomáticas logo. Bolsonaro não deve chegar a tanto, pois há interesses comerciais que podem falar mais alto. Resta, então, uma retórica útil para pressionar tais regimes, ainda que um tanto hipócrita.
Mas não venham dizer que considerar uma nação amiga implica em ser cordial e cortês com aquele que pisa na própria população. Cuba e Venezuela podem até ser “nações amigas”; quem não são bons amigos – de seus próprios povos – são seus líderes ditatoriais. Quem é amigo do povo luta contra seu opressor, em vez de estender um tapete vermelho a ele.
Rodrigo Constantino
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