Desde que o deputado Eduardo Bolsonaro fez um ataque absurdo e desnecessário a um importante formador de opinião ligado à direita, a coisa ganhou grandes proporções e foi quase exigindo a tomada de partido por parte de inúmeros ícones do movimento liberal e conservador brasileiro. Eu mesmo não me furtei desta obrigação e condenei duramente a postura da família Bolsonaro e de seus seguidores fanáticos.
Muitos viram a necessidade de sair não em defesa de Alexandre Borges apenas, mas do que significa ser conservador, atentando para o risco de ver toda uma filosofia política antiga sendo monopolizada por uma ala mais reacionária e tacanha da dita direita nacional. Culto à personalidade e endeusamento de “mitos” há décadas na política não combinam com nada que se possa chamar de conservadorismo. Sua essência é o ceticismo para com a política, a desconfiança e a prudência, jamais a postura de uma seita.
Pois bem: agora foi a vez de Carlos Andreazza, ninguém menos do que o “editor da direita”, entrar na “treta”, e para condenar Bolsonaro. Andreazza é o editor de autores como Olavo de Carvalho, Bruno Garschagen, Flavio Morgenstern, Francisco Razzo, e eu mesmo. Suas credenciais de quem deu voz à direita são inegáveis. E Andreazza fez questão de deixar claro não compactuar com a confusão entre conservadorismo e “bolsonarismo”, num post que chamou de “depurador”:
Não acredito – nunca acreditei – nos Bolsonaro, cuja inconsistência política só não é maior do que o oportunismo para capitalizar sentimentos contra o establishment, e desprezo o bolsonarismo, que considero uma das expressões da doença moral do brasileiro.
Ainda escreverei a respeito, mas a ideia influente de que sejam representantes do conservadorismo é bárbara deturpação conceitual. Eles precisariam de alguma dimensão espiritual para tanto; de alguma noção sobre o belo; francamente, de alguma cultura.
Mas sou um homem construtivo e objetivo em minha crítica: eles precisam – urgentemente – de um revisor para os textos que publicam.
Em seguida, e após a previsível reação dos intolerantes “bolsominions”, que adotam todos os métodos os petistas, como inverter fatos, difamar adversários, rotular de inimigo mortal aquele que discordar de uma vírgula de sua cartilha e babar de ódio com qualquer mísera crítica, Andreazza se viu obrigado a voltar ao tema, para pedir o fim da histeria:
É também significativo da miséria política brasileira que Bolsonaro seja hoje a bússola a partir da qual se define quem é ou não de direita.
Vocês estariam de brincadeira, não fosse isso grave deturpação.
Outra coisa: eu não me intimido com patrulha. Já trombei com as piores.
Me divirto quando vejo bolsonarista – gente que acha que fará uma revolução com militância fanática em rede social – dizendo que eu nunca fiz coisa alguma pela direita. Nunca fiz mesmo. Não é meu papel. Mas: e pelo contraditório? E pela circulação de ideias divergentes? E pela garantia de espaço para que inclusive toupeiras políticas juvenis subissem à tribuna e se sentissem protegidas – lastreadas – para opinar?
Olhem os livros que publiquei e publico; veja onde está uma das principais origens do debate público neste país. E depois me digam qual é a contribuição – prática, objetiva – dos Bolsonaro para o Brasil. Me digam, por favor, o que ergueram que não tenha sido um castelo em benefício exclusivo deles próprios. Hein?
Chega de histeria.
Bolsonaro pode ser glorificado por quem está desesperado com a esquerda, com a política nacional, mas aqueles que estudam o conservadorismo não podem se calar diante de tanta manipulação. Bolsonaro, que já pediu o fuzilamento de FHC por ter privatizado estatais, que já ameaçou fechar o Congresso no passado, que parece obcecado com o nióbio, que criou um exército de seguidores fanáticos prontos para gritar “mito”, mas incapazes de debater ideias, Bolsonaro não pode ser o representante da direita brasileira, pelo bem dessa direita. E jamais pode ser o único representante, o que seria ainda mais grave.
Mas é a postura dos alienistas bolsominions, que enxergam socialista fabiano em todo lugar, inimigos comunistas por toda parte, e correm o risco de acabarem sozinhos, apontando para os “malucos” ou “perversos” do mundo, enquanto só eles defendem a “verdadeira direita”. Vão trancafiar todos na Casa Verde, até descobrirem que, talvez, o local seja mais apropriado a eles mesmos.
Rodrigo Constantino
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