Por Jefferson Viana, publicado pelo Instituto Liberal
Na manhã de quinta, o ministro do Supermo Tribunal Federal Teori Zavascki notificou o presidente da Câmara de Deputados, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de seu afastamento do mandato. Cunha é acusado de manter contas bancárias na Suíça com dinheiro proveniente do sistema de corrupção na Petrobras.
Boa parte da população brasileira, dos mais “à direita” dos mais “à esquerda”, comemoraram o afastamento do deputado carioca. Porém, a queda de Cunha mostra um pouco do chamadoseletivismo revolucionário da esquerda, ou seja, quando alguém sofre ataques (mesmo que justos) por enfrentarem a revolução. Cunha era aliado do governo até o início de 2015, sendo inclusive um dos articuladores do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
Entretanto, um desajuste entre o PT e o PMDB fez com que os dois partidos aparecessem com candidaturas diferentes na eleição para a presidência da Câmara de Deputados. O PT, com seu bloco contendo PSD, PROS, PDT e PCdoB, lançou o deputado paulista Arlindo Chinaglia e o PMDB, em uma grande articulação capturando partidos da base do governo e da oposição, lançou a chapa encabeçada pelo carioca Eduardo Cunha. E chapa do PMDB levou a eleição por 267 votos.
Uma vez eleito, Cunha começou a pressionar o governo e pautar votações distantes dos projetos da agenda política do Palácio do Planalto. A redução da participação da Petrobras na extração do Pré-Sal, a redução da maioridade penal, a revisão do pacto federativo e o impeachment da presidente Dilma Rousseff, com base na Lei de Responsabilidade Fiscal, em parte cumprem sua promessa de campanha: a independência do Poder Legislativo frente ao Executivo Federal.
Contudo, isso gerou oposição forte ao deputado, antes protegido do governo. Por se considerarem traídos por Cunha, instituições e sindicatos ligados ao governo começaram a pressioná-lo, aproveitando da vida política pouco ortodoxa que Eduardo Cunha tinha antes de ocupar a presidência da câmara. Antes, o carioca tinha sido peça importante na campanha de Fernando Collor de Mello, sendo o tesoureiro da campanha e tendo descoberto uma falha no registro do Partido Municipalista Brasileiro, assim travando a candidatura do empresário Silvio Santos a presidência em 1989. Em gratidão, Collor deu a Cunha à presidência da estatal de telefonia TELERJ. Ficou até o início de 1993, quando foi exonerado pelo presidente Itamar Franco após a descoberta de irregularidades em licitações da empresa, envolvendo a compra de aparelhos da japonesa NEC.
Em seguida, Cunha passou a ser figura carimbada no meio evangélico. Quando era presidente da TELERJ, Eduardo tinha concedido uma linha telefônica (um bem escasso na época) para o empresário, deputado federal e radialista Francisco Silva, dono da Rádio Melodia, voltada para o público religioso. Por esse motivo, Silva virou o padrinho político de Cunha, inclusive dando-lhe um programa na rádio e, com ele, notoriedade, bem como audiência. Com a audiência e o apoio de Francisco Silva, Cunha se candidata a deputado estadual em 1998 pelo antigo PPB (atual PP), mas não se elege, ficando como suplente na ALERJ.
No ano seguinte, Cunha, com as bênçãos de Francisco Silva assume a Companhia Estadual de Habitação, porém não dura mais que seis meses. após a descoberta de irregularidades em contratos de obras da CEHAB. O episódio, todavia, não abala a relação de Cunha com o então governador Anthony Garotinho que, para blindá-lo das investigações, o coloca na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para assumir a cadeira de deputado estadual. Em 2002, vence a sua primeira eleição para a Câmara de Deputados, com expressiva votação e, em seguida, acerta sua saída do PP para o PMDB.
Cunha provavelmente se aproveitou da corrupção na Petrobras e deve ser punido por tal, pois corruptos devem ser punidos, independente de orientação politico-partidária. Ademais, Cunha só passou a ser atacado pela militância de esquerda após pular do barco furado do governo. Lênin, líder da Revolução Russa, disse em uma de suas frases mais conhecidas que “iria comprar da burguesia a corda para enforcá-la”. Isto é, quando alguma pessoa, mesmo que tenha a sua vida pregressa totalmente maculada, ajude no processo revolucionário ela merece a proteção do “politburo”. Quando essa mesma pessoa não serve mais, ela é descartada. Esse é um dos maiores motivos que os partidos de esquerda (PT, PSOL, REDE, PDT e PCdoB) realizam uma blindagem muito grande ao presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), orquestrador de uma proteção, no Senado, ao que sobrou do governo Dilma Rousseff. Recebe, em troca, o silêncio desses partidos sobre suas investigações e ilícitos.
Enfim, o caso Cunha mostra apenas que a esquerda não quer combater a corrupção, e, sim, colocar em prática seu seletivismo revolucionário que protege o corrupto que convém ao partido em prol da manutenção do poder. Mostrando o lado mais sujo da esquerda, o lado das negociatas feitas para a centralização e perpetuação do poder.
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