O editorial do Estadão de hoje fala do jogo do “centrão”, mostrando como banalizamos o toma-lá-dá-cá da política, como se fosse a coisa mais natural do mundo políticos e partidos negociando à luz do dia troca de apoio (tempo de TV) por cargos públicos. Diz um trecho:
Deveria ser proibido para menores de 18 anos o noticiário sobre as articulações do chamado “centrão” em torno da sucessão presidencial.
Para quem não está familiarizado com o subdialeto do baixo clero do Congresso, “centrão” é o nome que se dá ao ajuntamento de partidos fisiológicos que se mobilizam sempre que existe a oportunidade de aumentar seus ganhos em barganhas que, de tempos em tempos, lhes são oferecidas – ou procuradas, que ninguém é de ferro. Nada ali lembra nem remotamente a política como deve ser, isto é, o embate democrático de ideias em torno dos interesses dos eleitores. Tudo o que importa para esses partidos é defender uma divisão equânime do butim estatal entre seus caciques e agregados, e ninguém ali faz muita questão de esconder esse comportamento obsceno.
Somente os incautos acreditam que “centrão” seja o nome de um bloco político legítimo, com aspirações programáticas ideologicamente discerníveis. O “centrão” é apenas um rótulo para vários partidos nanicos, pequenos e médios que buscam avidamente orbitar o poder para auferir benefícios políticos e pecuniários e sabem que, juntos, ganham maior capacidade de constranger o governo ou outra presa qualquer a atender às suas demandas – que se resumem a facilidades, cargos e verbas.
[…]
Assim, um governo formado a partir de uma aliança com o “centrão” não augura coisa boa. Por melhores que possam ser as intenções do vencedor da eleição, na hipótese de ser alguém comprometido com as reformas de que o País tão urgentemente necessita, o futuro presidente dificilmente conseguirá implementar sua agenda sem se submeter à costumeira chantagem do “centrão”. E os estragos causados por essa turma na atual legislatura, inviabilizando votações cruciais e aprovando projetos que sabotam o esforço fiscal mesmo depois de arrancar dedos e anéis do governo, deveriam ser suficientes para mostrar que o preço de um punhado de segundos a mais na propaganda eleitoral pode ser alto demais para o País.
Pois bem: esse “centrão” resolveu fechar com Alckmin. Vários jornalistas comentam com naturalidade, como se fosse a coisa mais normal do mundo. “Alckmin joga de acordo com o regulamento”, “Tucano garante apoio do centrão”, e por aí vai. Quando Bolsonaro se aproximou do PR, porém, o destaque era diferente: “Bolsonaro negocia com partido de mensaleiro”.
Entende-se a cobrança ao capitão, já que seu discurso é mais purista do ponto de vista ético, contra “tudo e todos que estão aí”. Quando alguém que tenta pairar acima do bem e do mal precisa sentar na mesa e negociar com o próprio Capeta, os jornalistas ficarão tentados a apontar a hipocrisia. Entende-se, mas não justifica o eterno duplo padrão, que sempre detona a direita e poupa a esquerda.
O fato é que Alckmin jogou suas últimas fichas numa campanha que não decolava, e o fez costurando alianças com o que há de pior na política nacional. Se é possível vencer ou governar sem essa gente não sabemos, e os realistas alegam que não. O que não anula – ou não deveria anular – a revolta com a forma pela qual nossos políticos tradicionais fazem “política”. Deu no Antagonista, por exemplo:
Geraldo Alckmin já está distribuindo cargos para o Centrão. Um integrante do bloco disse para o Estadão: “Estão no nível de discutir quem ficará com a Funasa. O primeiro escalão já foi preenchido.”
Isso é simplesmente asqueroso, nojento, e deveria deixar qualquer um indignado. Estão loteando o estado sem qualquer constrangimento, como se não houvesse outra maneira de fechar acordos. Janaina Paschoal, advogada responsável pelo processo que levou ao impeachment de Dilma, desabafou:
Leandro Ruschel também usou a rede social para desabafar:
Eis, enfim, o que será testado em outubro: o grau de revolta popular contra esse establishment corrupto, fisiológico e com viés esquerdista, que mama nas tetas estatais à custa do suor e trabalho do povo. Será que essa revolta é mais forte do que o poder da própria máquina estatal, com seu tempo de televisão e seus cabos eleitorais? É isso que vamos descobrir em breve. A eleição é um plebiscito: a revolta das elites, que traíram o povo, e a revolta contra as elites, daqueles saturados de tanta exploração e degradação moral.
Teremos a resposta nas urnas…
Rodrigo Constantino
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