Se tem uma coisa que não sou na vida é paranoico. Nunca tive mania de perseguição ou grandeza, não acho que sou tão importante para ser alvo de escrutínio constante de ninguém, e não acredito facilmente em teorias conspiratórias. Mas acredito no avanço da tecnologia, e me assusto com ele. Ou por outra: reconheço suas enormes vantagens, mas vejo também o lado negativo: a perda de nossa privacidade.
O “big data” está aí para ficar, e o Big Brother não é exatamente um agente do estado totalitário nos observando por meio da “teletela” orwelliana. É, ao contrário, um “convite” que fazemos, muitas vezes sem a devida noção dos perigos, às poderosas empresas de redes sociais. Google, Facebook, Amazon: eles sabem quase tudo da gente!
Não é a primeira vez que isso acontece: não naveguei em site algum, o que deixaria rastros evidentes, e não pesquisei nada, não cliquei em nada. Meu pai simplesmente trouxe à minha casa esta quarta um aparelhinho Roku, análogo ao Apple TV, que permite assistir a determinados canais e aplicativos. Instalou, e atenção: não cadastrei nada! Apenas falamos sobre o troço de nome estranho.
E eis que hoje abro meu Facebook e lá está: uma propaganda do… Roku! Era em parceria com o Sling TV, que permite live streaming online por meio do tal do Roku. Ou seja, eu mal instalei a porcaria e já tinha oferta de qual serviço contratar para ele. Lembrando: nós só falamos sobre a coisa.
Isso não foi a primeira vez que aconteceu. E o leitor pode discordar, mas eu, que sou old fashion e prezo muito minha privacidade, considero isso bizarro! Aliás, se acham que estou ficando paranoico, que tal essa notícia, que passou um tanto despercebida por aí?
Como assim, as gravações do Echo?! Então o aparelho fica “ouvindo” tudo o que falamos em nossa casa? Que mundo é esse? Quem tem acesso ao teor do que conversamos em particular? Claro, sei que são algoritmos desinteressados em nossos segredos íntimos, e apenas voltados para seus interesses comerciais, para capturar palavras-chave que permitam ofertas de negócios. Ainda assim acho tudo muito estranho, preocupante, e me sinto devassado.
O mundo moderno é mesmo um panóptico idealizado por Bentham. Estamos todos “transparentes”. É um prato cheio para os paranóicos de plantão. Todo cuidado é pouco: “eles” estão no meio de nós, dentro de nossas casas, ouvindo cada sussurro que emitimos…
Rodrigo Constantino