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Em defesa da desigualdade. Ou: A história do capitalismo é a de tornar acessível a todos aquilo que era luxo de alguns
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Em sua coluna na Folha, Helio Schwartsman fez uma defesa da desigualdade, ainda que de forma um tanto tímida, fazendo concessões demais aos igualitários seguidores de Rousseau, como se fosse legítima sua busca por “justiça”. Até mesmo Piketty, lembra ele, contudo, compreendeu que o capitalismo é responsável pela mais extraordinária melhora nas condições materiais das pessoas:

Os mesmos mecanismos de mercado que promovem a disparidade –eles exigem certo nível de desigualdade estrutural para funcionar– são também os responsáveis pelo mais extraordinário processo de melhora das condições materiais de vida que a humanidade já experimentou.

Se o capitalismo exibe o viés elitista da concentração de renda, ele também apresenta a vocação mais democrática de tornar praticamente todos os bens mais acessíveis, pelo aprimoramento dos processos produtivos. O próprio Piketty cita o caso da bicicletas, que, em 1880, custavam seis meses de salário médio e eram uma porcaria. Em 1960, já estavam muito melhores e saíam por menos de uma semana de trabalho.

O fenômeno, lembra o autor, não está circunscrito a velocípedes. O crescimento econômico que o mundo conheceu após a Revolução Industrial, escreve Piketty, fez com que as pessoas passassem a “comer melhor, vestir-se melhor, viajar, aprender, receber cuidados médicos etc”.

A história do capitalismo é a de tornar produto acessível aquilo que antes era luxo de poucos. Meias de seda como coisa de aristocracia? Hoje qualquer “proletária” pode ter uma. Carro motorizado, item de milionário? Hoje quase todo americano tem dois na garagem, com muito conforto e luxo. E por aí vai. A classe média é a grande beneficiada com o capitalismo, ainda que ele também ajude bastante a classe baixa.

Na palestra que fez no meu painel durante o Fórum da Liberdade em Porto Alegre, Donald Boudreaux mostrou justamente isso, com slides que comparavam a quantidade necessária de horas trabalhadas pelo americano médio para comprar os itens hoje e em 1975. Dessa forma se evita o fator inflação no tempo, pois estamos comparando os salários da época com os preços da época. Ele usou um catálogo da Sears de 1975, que ele comprou na Amazon por menos de $2 e chegou no dia seguinte.

Apenas o preço é comparado, sem levar em conta os acréscimos na qualidade do produto, o que faria a comparação bem mais desigual a favor de hoje. O tempo ajudou, e muito, a classe média americana a ter bem mais conforto material. Com bem menos horas trabalhadas se consegue os produtos, que hoje são muito melhores. É o “milagre” do capitalismo, que os invejosos ignoram em nome da igualdade. Abaixo, alguns dos itens comparados, extraídos da apresentação que Donald gentilmente me enviou:

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Para comprar uma máquina de fazer café, o americano médio levava 7,7 horas, enquanto hoje leva 49 minutos, ou seja, quase dez vezes menos! Sem falar que hoje você programa o horário, conta com mais tecnologia, recursos, etc.

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Para se barbear, o americano médio de 1975 precisava investir 6,3 horas do seu precioso tempo e adquirir um “moderno” barbeador elétrico. Hoje, com apenas 2 horas ele compra um bem mais seguro e moderno. Ou seja, caiu para um terço do esforço necessário.

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Para vestir uma calça (brega, aos olhos de hoje), o americano médio precisava trabalhar uma hora e meia, enquanto hoje, com apenas 43 minutos de trabalho ele compra uma. A entrada da China no mundo capitalista globalizado ajudou muito nos setores intensivos em mão de obra, como o têxtil.

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Para viajar, o americano médio de 1975 precisava ralar mais de 11 horas só para comprar uma boa mala e agregar a ela aquelas rodinhas na estrutura de ferro. Hoje, com pouco mais de duas horas de trabalho ele compra uma ótima mala que já vem com as rodinhas embutidas e girando em qualquer direção, dessas que vejo os brasileiros empurrando feito loucos no Sawgrass Mills encantados com os preços menores daqui dos Estados Unidos (outro detalhe interessante é compararmos os preços de hoje pagos pelos americanos médios, que ganham cinco vezes mais que o brasileiro médio, com o preço que pagamos hoje no Brasil).

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Para fotografar a viagem, o americano médio teria que trabalhar mais de 70 horas e comprar uma máquina de primeira em 1975. Depois teria que gastar dinheiro revelando o filme. Hoje, com menos de 30 horas de ralação ele compra uma ultra-moderna e equipada máquina da melhor marca, com tudo que tem direito. Mas se quiser, pode trabalhar apenas 2,4 horas e comprar uma outra menor, mais simples, mas ainda assim infinitamente melhor do que aquela do passado. E as fotos vão automaticamente para seu computador e para seus familiares do outro lado do mundo!

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Limpar a sujeira não é moleza, e os americanos não contam com um exército de mão de obra barata para lhes servir como doméstica. Logo, a praticidade vale ouro. Em 1975, para ter um aspirador de pó, o americano precisava trabalhar quase 30 horas. Hoje, bastam menos de 3 horas, ou seja, dez vezes menos.

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Exercício faz bem à saúde, é fundamental. Após aquele dia cansativo no trabalho, o americano médio de 1975 podia pedalar numa “incrível” bicicleta que ele levou quase 16 horas de trabalho para comprar. Hoje, com pouco mais de 6 horas ele compra uma, bem mais moderna, digital, que marca o ritmo de seu coração para garantir um exercício melhor para a saúde.

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Por fim, o lazer, aquele programa de televisão para relaxar, ou para informar (dependendo do canal, para desinformar). O americano médio de 1975 tinha que labutar praticamente incríveis 160 horas para levar aquele caixote enorme para casa e ver seus (poucos) programas. Hoje, com menos de 9 horas ele leva uma moderna TV de tela fina, com internet e tudo mais, para escolher entre as centenas de canais disponíveis.

Espero ter deixado claro que o capitalismo é o melhor amigo do homem, depois do cachorro. Sua história é a de levar às massas aquilo que, antes, só os ricaços tinham (também graças ao próprio capitalismo, pois se depender do socialismo ninguém tem nada, além de armas, claro, concentradas na elite no poder e apontadas para a população refém). Diante desses fatos, como pode alguém ainda focar na desigualdade em si, em vez de lutar para facilitar a vida dos capitalistas?

Viva a desigualdade! É graças a ela que temos tudo isso, pois seres humanos são desiguais e a economia não é um jogo de soma zero, onde João é rico porque Pedro é pobre. Ao contrário: ambos podem enriquecer juntos, melhorar absurdamente sua qualidade de vida, seu conforto material, graças ao capitalismo. No fundo, é o capitalismo que é mais igualitário, no bom sentido: ele leva a quase todos os produtos criados por alguns. Quem não tem uma televisão em casa hoje? Até os índios ostentam as suas!

Só mesmo a inveja desses “intelectuais” que odeiam a classe média “alienada” pode justificar tanta revolta contra o capitalismo. Ou muita ignorância, talvez. Mas quem continua condenando o capitalismo mesmo após conhecer esses fatos perde o direito de alegar ignorância, restando apenas a primeira opção. Igualitarismo é uma bandeira de invejosos, de gente que finge não perceber que foi o capitalismo que possibilitou esse incrível avanço material para a enorme maioria das pessoas.

Rodrigo Constantino

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