Em sua coluna de estreia na Folha, João Dionísio Amoedo, fundador e presidente do Partido Novo, faz uma análise rápida do quadro político atual brasileiro, e conclama cada um de nós a fazer nossa parte na construção de um país melhor. Não há solução mágica, bala de prata ou messias salvadores da Pátria. É preciso investir na mudança de ideias. Eis alguns trechos:
Na maioria das vezes, sinto alguma frustração do meu interlocutor por não definirmos ainda um nome, natural, pois a busca e o interesse já é por um NOME. Um Salvador da Pátria.
Certamente pessoas que inspirem e liderem são fundamentais em qualquer sociedade, mas para evitarmos erros do passado, com escolhas equivocadas, precisamos saber de forma clara e objetiva como pensam esses líderes e principalmente avaliar se as propostas por eles apresentadas estão corretas. Somente com este roteiro estaremos aptos a escolher a pessoa mais preparada para exercer o cargo de presidente.
A salvação da pátria não virá de um líder carismático, e muito menos populista, ela virá de cada um de nós através das escolhas acertadas e conscientes que fizermos.
Nesse sentido, a crise, apesar do seu alto custo, foi positiva pois deixa como legado uma visão mais crítica e explicita, de forma prática, conceitos e ideias que não funcionam, notadamente o modelo de Estado que temos hoje.
Infelizmente, o brasileiro médio parece se importar mais com pessoas do que com processos, e por isso vemos tantas vezes uma disputa pelo poder, mas não um foco na redução do poder em si. É como se ao menos a “pessoa certa” tomasse conta desse estado inchado e paquidérmico tudo fosse ficar uma maravilha. Ledo engano!
Amoedo está certo: precisamos falar mais de ideias e menos de pessoas, entender melhor quais valores devem ser defendidos, em vez de achar que basta colocar uma pessoa honesta no comando para que tudo dê certo. Mesmo o melhor dos empresários esbarraria numa máquina estatal bizarra, em obstáculos quase intransponíveis no momento, e pouco conseguiria fazer de fato.
Claro que há diferenças grandes entre nomes, e justamente pelo tamanho poder estatal, a capacidade de estrago individual não deve ser desprezada. Vide o que Lula fez com o Brasil, quase o destruindo por completo. Mas ele não fez isso sozinho. Ele contou com um arcabouço de ideias e “valores” distorcidos, que possibilitou tal destruição.
O alvo, acima de tudo, deve ser essa mentalidade que permitiu o lulopetismo. Caso contrário ele voltará sob nova embalagem, talvez embalado com a clorofila de Marina Silva, talvez com a toga de Joaquim Barbosa, quem sabe ainda com o destempero do “coronel” Ciro Gomes.
“Vamos falar menos de ‘nomes’ e mais de ideias e valores”, conclui Amoedo. Conceitualmente ele está correto. O problema é que, para vencer no curto prazo, sendo o Brasil o que é, não parece viável ignorar o forte apelo personalista sobre nosso típico eleitor. E é por isso que figuras carismáticas continuam sendo os favoritos. Pois não basta defender a boa gestão, se o bom gestor não consegue vencer a eleição.
Amoedo aponta para o novo. Resta saber se o Brasil já está preparado para ele, lembrando que até a democracia americana, mais madura, acabou de dar provas da importância do carisma individual na vitória. Trump não era o melhor nome do Partido Republicano em termos de valores ou de gestão pública, mas era o único capaz de derrotar a esquerda. E derrotou.
Adoraria um debate mais racional na política, em que as propostas se sobrepusessem aos arroubos pessoais de figuras carismáticas ou populistas. Mas confesso que sou cético quanto às reais chances de vitória de algo tão novo assim para os padrões nacionais. E acho que os conservadores podem dar bons conselhos aos liberais aqui: não se vence eleição apenas com a razão. A emoção é fundamental também.
Apesar de sempre ter criticado o “departamento de marketing” dos liberais, entendi isso muito melhor ao resenhar o excelente livro The Conservative Heart, de Arthur Brooks, do American Enterprise Institute. Infelizmente, acho que muitos liberais ainda não entenderam como a política real funciona. É jogo pesado, sujo, uma guerra mesmo. E se o liberal insistir na pureza das ideias racionais, melhor Jair se acostumando com o Messias, pois não haverá jeito…
Rodrigo Constantino