Uma reportagem em destaque na Bloomberg hoje mostra como o mercado de crédito internacional para as empresas brasileiras está sofrendo com o escândalo da Petrobras e o menor crescimento de nossa economia. As empresas brasileiras têm ficado de fora da alta desse mercado de crédito no mundo, impulsionado pelo excesso de liquidez.
Desde junho, as empresas emitiram apenas US$ 5,8 bilhões em bonds no mercado externo, uma queda de 43% em relação ao ano anterior. Em contrapartida, os países emergentes tiveram um aumento de 10% no mesmo período. O esperado para o segundo semestre todo é alarmante: o Brasil deve emitir a menor quantia de títulos desde a crise de 2008.
Por outro lado, os yields dos nossos títulos corporativos têm aumentado duas vezes mais rápido do que a média dos emergentes, ou seja, os investidores cobram retornos cada vez maiores para comprar nossas emissões em dólares. O apetite é menor devido ao baixo crescimento econômico e ao escândalo de corrupção na Petrobras, que acaba arrastando inúmeras empresas grandes junto.
Isso piora ainda mais com a expectativa de que o Brasil possa perder seu grau de investimento em breve. A Petrobras depende de financiamento externo, pois possui um gigantesco programa de investimentos e já se encontra bem endividada. Seu caixa próprio não dá conta do recado, e muitos já falam em novo aumento de capital. O problema é que o governo não pode perder o controle, e teria que acompanhar a injeção de mais capital na estatal.
A Bloomberg diz que a empresa não retornou seus emails ou telefonemas para comentar sobre o impacto das investigações de propina na venda de bonds. É inegável que há relação, e que o escândalo tem pesado na confiança dos investidores. O mercado pode até mesmo “secar” para o Brasil se as coisas piorarem.
A Marfrig Global Foods, por exemplo, cancelou seus planos de emitir bonds de sete anos após o retorno exigido pelos investidores ficar acima de suas expectativas. O mercado de crédito internacional vai se fechando para as empresas brasileiras, dificultando o financiamento de seus projetos de investimento e deixando o Brasil de fora do bom momento para países emergentes.
Rodrigo Constantino