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A empáfia dos “intelectuais”: Pablo Ortellado x Olavo de Carvalho
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Pablo Ortellado é aquele esquerdista radical que finge ser um progressista moderado, e que ainda quer definir o que é ou não fake news nas redes sociais. Hoje ele cometeu um texto na Folha que é de causar uma vergonha alheia quase sem precedentes. Mas a coisa é tão sintomática da arrogância esquerdista, da bolha que criaram para que um possa ficar elogiando o outro sem qualquer elo com a realidade, que merece menção aqui. Esse trecho, por exemplo:

Nós, os progressistas, cultivamos o gosto pela sofisticação política e estética e, a cada rodada de conversação com nossos pares, nos diferenciamos mais, ficando mais requintados e com um repertório mais amplo. A cada rodada, tornamo-nos também mais estranhos e mais apartados das pessoas comuns. Esse afastamento, que se acelerou com a polarização, permitiu aos conservadores nos apresentar como uma elite malévola que quer inculcar nas pessoas comuns valores alienígenas de defesa da diversidade e dos direitos humanos.

É um espanto! Será que o sujeito realmente se enxerga assim diante do espelho? Não duvido, não duvido. Que há alguma coisa de anti-intelectualismo na direita mais populista, isso é fato. Da crítica legítima ao viés ideológico da academia pode-se facilmente chegar à conclusão – equivocada – de que a própria intelectualidade não presta, que o “homem comum”, mais bronco e sem muito estudo, tem muito mais bom senso. Seria quase um Rousseau de direita nesse caso, que acredita no “bom selvagem”.

Que “intelectuais” podem destruir o bom senso com suas ideologias, isso é fato notório e comprovado, além de amplamente documentado. Foram “intelectuais” que pariram o comunismo, o socialismo, o fascismo, o nacional-socialismo. Nunca um operário de fábrica. Já o capitalismo foi simplesmente descoberto, aplicado, e muito mais de baixo para cima do que de cima para baixo, daí a expressão “mão invisível” usada por Adam Smith. Não há um intelectual por trás do sucesso capitalista.

Mas se a academia anda podre e muito ideológica, isso não é justificativa para atacar a busca pelo conhecimento intelectual em si. Deve-se condenar o meio atual, sem abandonar o fim. Não devemos jogar o bebê fora junto com a água suja do banho. Há gente séria na academia, que precisa passar por processos tortuosos para demonstrar suas teses, que leva a sério o contraditório, o método científico, a busca pela imparcialidade etc.

Quando um Ortellado da vida, porém, coloca-se como bastião da intelectualidade, como um progressista sem aspas que cultiva o “gosto pela sofisticação política e estética”, quase temos vontade de concordar com os mais toscos da direita e endossar um movimento anti-intelectual em si: Frota para ministro da Cultura! Haja empáfia desse tal de Ortellado! O sujeito só escreve platitudes, clichês “progressistas”, não deve conhecer a fundo um único pensador conservador ou liberal clássico importante, mas tem a pecha de posar como um sofisticado pensador que paira acima da ralé, dos “homens comuns”.

Como a falta de modéstia não é monopólio da esquerda, temos no mesmo jornal a entrevista com Olavo de Carvalho, outro que de vez em sempre escorrega na megalomania e se julga o único a enxergar a verdade, aquele que criou a direita toda, que está sempre certo. Eis um trecho um tanto arrogante do guru de Bolsonaro:

Há, contudo, uma diferença importante: Olavo está certo aqui! Se seus “críticos” são figuras como Pablo Ortellado ou Gilberto Dimenstein, ou ainda André Singer e Emir Sader, ou Marilena Chaui e companhia, então não existe esquerda à altura do filósofo mesmo. E eis o problema: o nível intelectual é realmente muito ruim, muito baixo, após décadas de lavagem cerebral nas universidades. Olavo, ninguém pode negar, é profundo conhecedor do que ataca, o comunismo. O mesmo não se pode dizer de seus detratores.

O estudo, a leitura, a sede por conhecimento, em pessoas honestas e sérias, com o coração no devido lugar, costuma produzir humildade, não extrema arrogância. Umberto Eco tinha mais de 30 mil volumes em sua biblioteca para lembrar do quanto não conhecia, que por mais que fosse um devorador de livros, sempre haveria infinitas coisas que ele ignorava. Somos todos, de certa forma, ignorantes. Mas não precisamos ser todos idiotas.

Quando um “intelectual” de botequim feito Ortellado se sente a última bolacha do pacote, a alma mais requintada e refinada do planeta, só porque repete alguns chavões “progressistas”, então é porque o fracasso da classe “intelectual” foi total mesmo, e Olavo está coberto de razão ao apontar para o fenômeno do “imbecil coletivo”. Olavo pode fazer isso de uma forma um tanto arrogante e condenável, em seu estilo inconfundível, mas isso não muda o teor do que é dito, o conteúdo.

Essa massa de “cabeças pensantes” não passa, no fundo, de uma legião de “bocas falantes”, incapazes de qualquer crítica minimamente embasada ao conservadorismo. E a empáfia que demonstram comprova isso: se entendessem o conservadorismo seriam mais humildes ao falar de “pessoas comuns”. Afinal, não é preciso ter lido Marx ou Foucault para saber que homem é homem e mulher, mulher. Talvez seja justamente o contrário…

Rodrigo Constantino

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