Converso com muitos empresários, desde quando o PT estava no poder e eu alertava para o caos iminente, ainda durante a era da bonança artificial e insustentável. Alguns menosprezavam o tamanho do risco, desejavam acreditar no mito do “Lulinha paz e amor”. Mas muitos tinham perfeita noção do perigo.
Não obstante, poucos se manifestavam publicamente. Por que? Seria covardia? De certa forma, sim. Mas uma covardia compreensível. Afinal, o custo da legalidade no Brasil é tão proibitivo que o governo mantém o grande empresário como refém, sem falar do arbítrio das leis, que pode alvejar mesmo aquele 100% correto.
Nenhum empresário quer um exército de fiscais na sua porta, ou se indispor com um governo que controla metade do PIB, empréstimos subsidiados, licenças de televisão etc. A hipertrofia e o poder do estado são tão grandes que é quase um ato de loucura bater de frente com o Leviatã, comprar briga com o establishment e os sindicatos, os jornalistas quase todos de esquerda etc.
Aqueles que cobram coragem dos empresários, portanto, podem estar exigindo um grau de heroísmo quase suicida. Querem mártires, não empresários conscientes. Os que exigem total afastamento do governo pedem ainda mais: acham que o empresário deve virar as costas para instrumentos legais disponíveis, sendo que seus concorrentes não farão o mesmo.
Tal postura seria imprudente e condenada pelos diversos acionistas de suas empresas, pois o gestor tem um dever fiduciário de, dentro da lei, buscar maximizar o valor dos ativos. Não é crime pegar um financiamento subsidiado. O liberal quer acabar com o BNDES justamente porque entende a distorção que ele causa no mercado, levando as empresas a “investir” em lobby em vez de produtividade.
Tudo isso foi para chegar ao ponto central: finalmente estamos vendo mais empresários saindo da toca, assumindo a defesa aberta do liberalismo, atacando a esquerda sem rodeios. É louvável e alvissareiro, e demonstra como essa turma percebeu a necessidade de agir antes que seja tarde demais. A volta do PT selaria nosso destino venezuelano.
Podemos dar alguns exemplos. João Amoedo, que veio do setor financeiro, liderou o projeto do Partido Novo, e será candidato a presidente. Flávio Rocha, da Riachuelo, tem feito excelentes discursos, enfrentado a extrema-esquerda, e criou o movimento Brasil 200, com uma visão liberal de onde queremos chegar nos dois séculos de independência. Sônia Hess, da Dudalina, aderiu ao movimento e disse: “Sou signatária da própria ideia de liberalismo. Se formos muito à esquerda, viramos uma Venezuela”.
Esses são apenas alguns exemplos. Mas dá para perceber a tendência: os empresários estão dando a cara a tapa, mobilizando-se, pois agora é questão de vida ou morte.
Texto originalmente publicado na revista IstoÉ