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Entendo preocupação dos grandes empresários, mas já passou o tempo de conciliação com o PT

Abílio Diniz deve se alongar para correr maratona, não os cem metros rasos Abílio Diniz deve se alongar para correr maratona, não os cem metros rasos

Não há nada que grandes empresários detestem mais do que incertezas políticas. Eles, por natureza, encaram quase todos os riscos para empreender, mas não dormem tranquilos sem saber se o governo de hoje estará lá amanhã. Esse tipo de risco é totalmente imprevisível e não pode ser colocado nas estimativas na hora de investir. Por isso muitos preferem fazer negócios com a China, mesmo sob uma ditadura: pois ao menos (acham que) sabem o que esperar.

É nesse contexto que alguns empresários brasileiros têm indicado um desejo por algum acordo entre as lideranças políticas. Pedem cautela, moderação, pois temem o incerto, o imprevisível. Primeiro foi o banqueiro Roberto Setúbal, do Itaú, a rechaçar o impeachment. Agora foi a vez de Abílio Diniz, ex-Pão de Açúcar, a pedir que tranquem numa sala Lula, FHC e Michel Temer para que só saiam de lá com um acordo em prol do país.

Reinaldo Azevedo já disse quase tudo que eu gostaria de dizer sobre o caso. Diniz ignora que nem mesmo no meio empresarial esse modelo de “conciliação forçada” funciona. Sua disputa com o Casino é prova disso. Nem sempre é possível articular um acordo de paz, e nem sempre é desejável. Eis o ponto-chave que gostaria de reforçar aqui: uma aliança com o PT pela governabilidade não seria, ao contrário do que pensa o empresário, algo positivo para o Brasil.

Poderia ser favorável para o preço das ações no curto prazo, para dispersar um risco político imediato. Mas, ao contrário do que afirmou Abílio Diniz, essa não é uma crise política; é econômica também e principalmente. A Nova Matriz Macroeconômica, o desenvolvimentismo-nacionalista, a seleção de “campeões nacionais” pelo BNDES de Luciano Coutinho, as pedaladas fiscais, o crédito público farto e irresponsável, o gasto público crescente, a total ausência de reformas estruturais necessárias, o intervencionismo nos setores importantes, o represamento de preços, o uso das estatais para fins políticos, tudo isso gerou uma bomba-relógio econômica que agora começa a estourar.

Abílio Diniz está muito enganado se acha que a paz política poderia eliminar tais problemas econômicos. Não dá para jogar a sujeirada toda para baixo do tapete, e não dá para tapar o sol com a peneira. Tampouco é viável consertar tudo isso com o PT no poder. Um empresário com um horizonte mais longo, portanto, deveria preferir pagar um preço maior pela incerteza política atual, mas alterar os pilares estruturais para garantir um futuro melhor à frente. E isso só é possível sem o PT nesse acordo, sem os petistas no comando da economia.

“A forma mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la”, disse George Orwell. Estava certo. O “pacifismo” na geopolítica nem sempre é o melhor caminho, como Chamberlain atestou com Hitler. O “pacifismo” político também não é o ideal o tempo todo. A “guerra” política contra o PT pode ser custosa no curto prazo, pode produzir incertezas que grandes empresários detestam, mas é o melhor para o país a longo prazo, sem dúvida.

É preciso tirar o PT do poder. É preciso cobrar a responsabilidade pelos inúmeros erros, pela arrogância, pela ideologia equivocada, pela forma abjeta de “governar” e “fazer política” desse partido que mais parece uma quadrilha disfarçada (e o disfarce nem é tão bom assim). O cinismo do PT precisa ser punido. O estelionato eleitoral não pode ficar impune. Quem pensa no Brasil para os próximos 20, 30 anos não pode aceitar um acordo de camaradas para facilitar a travessia até 2018. É pensar muito pequeno. É ser míope demais, focar no curto prazo apenas.

Quando Abílio faz investimentos bilionários no setor de varejo, tenho certeza de que aposta nas próximas décadas, não nos próximos anos. Não deveria ser diferente com a política. O custo de enfrentar o PT pode ser alto no primeiro momento, mas é o que o Brasil precisa fazer para ter alguma chance de um futuro melhor, de uma política mais limpa, de debates mais construtivos, de reformas estruturais, de uma gestão econômica menos populista e sem esse viés ideológico ultrapassado.

Como já disse alhures, as incertezas de um confronto com o PT, culminando até mesmo no impeachment, são muito melhores do que a certeza de desgraça com a permanência de Dilma no poder. Os grandes empresários deveriam enxergar isso. Especialmente Abílio Diniz que, além de empresário bem-sucedido, é um esportista e sabe que é mais importante se preparar para correr uma maratona, não dar tudo na largada para os cem metros rasos e depois cair duro no chão, morto de cansaço.

Rodrigo Constantino

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