Vejo jornalistas que odeiam Bolsonaro, por razões pessoais ou ideológicas, fazendo de tudo para exagerar nos seus defeitos, detonar sempre o governo, torcendo contra mesmo, e fazendo de tudo para separar qualquer parte boa do próprio presidente (o governo avança apesar de Bolsonaro, dizem); e vejo aqueles que mais parecem flanelinhas oficiais do governo, passando pano o tempo todo nos deslizes do presidente em busca de curtidas da militância.
Ambas as posturas, acredito, são totalmente condenáveis e matam a função básica do jornalismo, que deve buscar a imparcialidade. A única posição que considero defensável, mas com custo no curto prazo por desagradar as duas tribos, é mesmo a independência de quem pode elogiar os acertos e criticar os erros, mantendo o senso de proporção e lembrando sempre da quadrilha petista de antes, derrotada por Bolsonaro.
Ou seja, quando o sujeito virou um opositor escancarado do governo, incapaz de enxergar seus méritos ou guardar o devido senso de proporção entre falas infelizes e a maior quadrilha que tomou o estado de assalto sob o comando de Lula, ele abandonou o jornalismo e se tornou um militante do contra. E quando ele faz um tremendo esforço para justificar todas as bobagens feitas ou ditas pelo presidente, ele deixou de ser imparcial e virou um “minion”, parte do gado.
Infelizmente, muitos se deixam levar pela pressão das redes sociais, e isso é péssimo. Há de tudo ali, inclusive um bando de idiotas, e o critério jamais deveria ser quantidade de curtidas, tampouco o bom jornalista se deixa intimidar pela pressão da patrulha, de qualquer dos lados.
Ao agir assim, com independência e firmeza, sabendo equilibrar a proporção das coisas, o jornalista sério será acusado de “isentão” por bolsonaristas, que precisam enxergar em toda imprensa apenas canalhas, fake news e campanha contra seu “mito”, e de “minion” pelos esquerdistas que sentem saudades do marginal preso em Curitiba, que também acham a mídia golpista, mas do outro lado.
O cartunista André Guedes resumiu bem a situação: “Serão quatro anos vivendo esse paradoxo. Sempre que eu elogiar o presidente: EIS O PASSADOR DE PANO AMIGO DE MILICIANOS. Sempre que eu criticar: EIS O ISENTÃO DAQUI A DOIS MESES VAI ESTAR GRITANDO LULA LIVRE, VOCÊS VÃO VER”. Cansa, mas é preciso manter a racionalidade em meio a tanto barulho.
O mesmo Guedes apontou a origem do problema: “A humanidade começou a falir quando um sujeito pintou a cara e disse ‘mim, cacique, vocês tribo, quem não pintar cara inimigo é'”. Venho falando bastante sobre o tribalismo e seu recrudescimento, inclusive como uma reação nacional-populista à direita, após tanto abuso da esquerda “progressista”, especialmente na mídia. O fenômeno é compreensível, mas ainda assim preocupante.
O “Sunday Special” do Ben Shapiro este fim de semana foi com o jornalista britânico Piers Morgan, com viés “liberal”, amigo pessoal de Trump, e que vem sendo atacado por ambos os lados mais fanáticos. Foi um excelente bate-papo sobre esse tema da imparcialidade jornalística, das redes sociais e seus efeitos, das tribos intransigentes que asfixiam o debate civilizado. Recomendo na íntegra o show:
Se cada lado não baixar um pouco a guarda, a convivência entre grupos políticos e ideológicos distintos na sociedade poderá ficar insuportável. Imagine a vida como um eterno segundo turno eleitoral, ou como uma final de campeonato com apenas dois times e nada mais. É a visão do inferno! As tribos políticas politizam tudo, absolutamente tudo, pois só enxergam isso à frente, de forma binária. É muito empobrecedor, e só divide a população.
Nem todo aquele que critica o “seu” governo é um torcedor do contra; nem todo aquele que elogia o “seu” governo é um flanelinha passador de pano. Será que ainda é possível encontrar um equilíbrio, com bom senso, e preservar a independência? Espero – e acredito – que sim.
Rodrigo Constantino