Por Lucas Gandolfe, publicado no Instituto Liberal
Tive o grande prazer de entrevistar a feminista Sara Winder, fundadora da célula brasileira do grupo Femen e que há poucos meses declarou ter constituído uma família e abraçado uma fé religiosa. Sara é um dos raros exemplos vivos de coragem e determinação E seu gesto precisa ser reconhecido, a fim de que sirva de exemplo e estimule outras ativistas a seguirem pelo mesmo caminho, afastando o mal do extremismo irracional
Sara, aos dezenove anos, com o intuito de integrar e fundar uma célula do grupo feminista Femen no Brasil, você viajou à cidade de Kiev para receber treinamento e conhecer uma das líderes do grupo, Inna Shevchenko. Quais eram as instruções recebidas e que tipo de treinamentos você desenvolveu?
Basicamente eu aprendi como fazer um protesto de sucesso. Esperar sempre alguma notícia bombástica sobre violência contra qualquer direito das mulheres e planejar o protesto em cima disso. Aprendi a compor gritos de guerra, proferir palavras de ordem e que fossem “pegajosos” para não saírem da mente das pessoas, bem como me posicionar e ter criatividade para desenvolver as artes dos protestos. Também aprendi como me mover e comportar quando policiais tentassem violência contra nós, na tentativa de permanecer por mais tempo no protesto. Aprendi a desenvolver releases e contatar veículos de informação para cobrir os protestos.
Durante sua viagem, você se aproximou de grupos neonazistas? E qual a sua opinião sobre as diversas correntes do feminismo que aderem às ideologias totalitárias, como por exemplo, o Marxismo?
Não tive contato com neonazistas em nenhuma época da minha vida, somente quando levei uma “surra” deles na USP de São Carlos em Maio de 2013. Acredito que o feminismo quando alinhado ao marxismo apenas enfraquece o movimento, pois segrega mulheres de classe média e de classe alta, sendo que, como mulheres, as ricas também estão sujeitas a sofrer misoginia, violência, estupro e outros males.
Quais eram os ideais da célula brasileira do grupo feminista Femen? E por que você resolveu fundar o seu próprio grupo feminista, chamado: “Bastardas”?
O Femen no Brasil tinha o objetivo de tentar chamar a atenção das pessoas para assuntos que considerávamos negligenciados pela mídia, opinião pública e população brasileira em geral, que no caso, eram as diversas formas de violência contra a mulher.
O “Bastardas” foi fundado para dar continuidade a essa missão, depois de vários desentendimentos com as lideranças ucranianas e de divergências de opinião.
Em seu perfil na rede social Facebook, você revelou-se mãe e apaixonada por seu filho e seu namorado. Isto porque está constituindo uma família, e abraçou uma fé religiosa. Quais foram os principais acontecimentos que te levaram a essas posições tão distantes dos ideais feministas?
Acredito que o amor sempre vence. Engravidei de um menino e isso me fez parar e pensar: e agora? Não posso continuar odiando os homens, por mais que muitos deles tenham me feito muito mal, tenho que procurar tratamento psicológico pra resolver essa questão. Eu acredito na misandria como doença e tenho procurado tratá-la. Depois de muito tempo sem ter qualquer esperança de um relacionamento, conheci meu namorado e estou extremamente feliz. Sofri tanta violência de homens durante minha vida que sequer imaginava que existiam tipos como ele que pudessem tratar suas mulheres como verdadeiras princesas, com tanto amor, carinho, respeito e dedicação. Sou extremamente grata a Deus e à vida por tê-lo colocado no meu caminho e do meu filho, que ele tanto cuida e ama.
Sobre minha fé, há muito eu havia deixado de lado, e então quando estava com poucas semanas de gravidez, minha “doula” me levou para uma chácara onde uma monja ministra meditações e transmite seus conhecimentos a partir do estudo de personalidades que pregam a paz, como Jesus Cristo, Madre Tereza de Calcutá, São Francisco de Assis, Dalai Lama, Virgem Maria, Mahatma Gandhi, dentre outros. Aprendemos através da vida e literatura dessas pessoas como praticar o bem em nossas vidas e ter sempre empatia, amor e respeito por todos os semelhantes.
Como você enxerga os coletivos feministas e os comportamentos desenvolvidos pelas ativistas atualmente?
Depois de uma pergunta sobre minha fé, que me deixa completamente calma e envolta pela paz, responder a essa questão é uma queda brusca no gráfico de tranquilidade.
Os coletivos feministas no Brasil estão fadados ao fracasso. Podem ter o apoio da mídia agora, pois o feminismo está na cena pop, agora é “mainstream” e tem rendido muita grana. Porém, é óbvio que o “feedback” com a população não é positivo. Feminismo virou sinônimo de ódio aos homens e desrespeito à fé alheia. Quando falamos de feminismo, a primeira coisa de que as pessoas lembram é de uma performance feita na Marcha das Vadias de 2013, quando dois integrantes do Coletivo feminista Coyote quebraram uma estátua da Virgem Maria e enfiaram crucifixos no ânus. Infelizmente, muitas pessoas atribuem essa performance à minha pessoa, e gostaria de aproveitar o espaço para desmentir e esclarecer esta questão.
O comportamento dos coletivos nas redes sociais chega a ser muito pior, pois excluem de espaços feministas, mulheres que não concordam ou não desejam pertencer 100% às pautas, como por exemplo, mulheres cristãs e muçulmanas, mulheres que apoiam o livre mercado, mulheres contra a legalização do aborto etc. Esquecem totalmente que apesar das divergentes opiniões, essas pessoas ainda são mulheres, sofrem misoginia, podem ser violentadas, injustiçadas, estupradas e, infelizmente, não serão acolhidas somente por divergências de opiniões.
Recentemente você criticou o deputado do PSOL, Jean Wyllys, se posicionando contrariamente ao chamado Kit Gay. Quais são suas razões?
Há alguns anos o Deputado Jean Wyllys foi responsável por elaborar um projeto de lei chamado popularmente de Gabriela Leite. É um projeto determinando que pessoas que obtém até 50% dos lucros de uma garota de programa não sejam consideradas “cafetões”. Assim, além de visar a legalização da prostituição no Brasil, o Deputado quer também ter meios de legalizar a “cafetinagem”. Sou contra ambas, uma vez que, me posiciono como abolicionista na questão da prostituição, pois vejo como uma forma de escravidão da mulher.
Sobre o kit gay, é muito difícil obter de fato informações verdadeiras sobre o mesmo, mas de acordo com as minhas pesquisas, me posiciono contra por não achar o conteúdo adequado para crianças. Apoio uma disciplina de Cidadania, onde se ensine a não descriminação de pessoas homossexuais.
Sobre a Parada Gay, você afirmou que “está recheada de sexo ao ar livre, sem a mínima preocupação em ofender as demais pessoas que precisam passar pelo mesmo local, overdose por abuso de drogas, coma alcoólico, estupros”, entre outras obscenidades. Contestou, ainda, o fato dessa exibição, ofensiva a boa parcela dos pagadores de impostos, ser financiada por dinheiro público. Qual seu posicionamento sobre essa manifestação e como você entende que ela deveria proceder?
Não vejo problema na Parada Gay acontecer desde que seja com financiamento privado. Marcas poderiam patrocinar em troca de “merchandising”, acredito que não seria um problema. O Estado poderia atuar somente com a liberação de alguma via pública, segurança, policiamento, bombeiros, agentes de saúde etc.
Mesmo assim, as pessoas devem ter bom senso para não colocarem suas próprias vidas e a de outras pessoas em risco. Todos nós sabemos que álcool em excesso pode causar sequelas graves ou até mesmo a morte. Não vou falar sobre drogas, porque é ilegal, e não deveriam existir no meio de uma parada feita na via pública. Sexo em público também não deveria existir, tão pouco, abuso sexual de outras pessoas dentro do evento.
Entendo que a manifestação deveria ter continuado com o caráter de protesto de anos atrás.
Você continua se identificando como feminista, mas é filiada a qual corrente e por quê?
Não pertenço a nenhuma corrente feminista, apesar de estudar muito sobre o feminismo radical, pois este se atém somente a mulheres nascidas mulheres, ou seja, com órgão genital feminino, e exclui de sua militância travestis e transexuais. Como não acredito que essas pessoas possam “virar” mulher, é a corrente que mais me chama atenção,
mas milito através do Movimento “Pró-mulher”, que acolhe mulheres de todas as etnias, crenças, classes e linhas políticas.
Muitos liberais não concordam em identificar uma bandeira em torno de um bloco baseado em um critério como o gênero sexual. Preferem enxergar indivíduos lutando pelo respeito à sua dignidade como seres humanos, e não homens ou mulheres, que precisariam de um tratamento especial do ordenamento jurídico por pertencerem a esse ou aquele gênero. Você concorda com essa linha de pensamento e por quê?
Eu discordo dessa linha de pensamento, porque parto do princípio de que historicamente nos fizeram diferentes.
Não acredito em meritocracia, mas sim que vivemos em um mundo onde existam pessoas que são mais privilegiadas que as outras. Portanto, acho corretíssimo que existam políticas públicas para cada tipo de população: mulheres, pobres, negros, índios, imigrantes, etc.
Pensemos bem, no Brasil mulheres são mortas por motivos que estão ligados ao modo como somos socializados, ou seja, mulheres podem morrer por colocarem uma roupa “provocante” demais, porque estavam cansadas demais para cozinhar aquela noite, ou por constituírem amizades com outros homens.
Homens podem morrer em maior número, mas não são mortos por outras mulheres, estatisticamente falando.
Homens são estuprados porque estão dentro de presídios, mulheres são estupradas porque andam com roupas que querem vestir e por lugares que querem ou precisam passar.
Portanto, acredito sim ser necessário criar leis protetoras para essas minorias, inclusive que venham a ajudar para que algum dia nós mulheres gozemos da segurança e respeito concedidos aos homens.
Se você pudesse dar um conselho às atuais ativistas feministas, qual seria?
Vão todas para um bom psiquiatra ou psicólogo! Não, não estou chamando de loucas. Mas é muito óbvio que a maioria das feministas tem problemas sérios com ódio, inveja e violência, e a melhor maneira de tratar isso é com tratamento psicológico, assim, como eu faço para tratar a minha misandria.
Outro conselho é: quando uma mulher que não entende nada sobre feminismo se interessar, não a humilhe por não saber corretamente das coisas, não a persiga, não a ofenda, e sim tenha paciência. Caso ela não concorde 100% com as pautas feministas, façam o acolhimento, ela também sofre machismo, ela pode ser violentada, bem como desenvolvam empatia com as mulheres religiosas, parem de perder tempo brigando com homens na internet e façam trabalhos voluntários para mulheres que sofreram violência.
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