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Esclarecimentos sobre capitalismo e socialismo
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Por João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

O embate político que toma o Brasil vem aumentando o interesse das pessoas sobre o significado das coisas, o que torna pertinente alguns esclarecimentos sobre capitalismo e socialismo.

CAPITALISMO não é sistema. Capitalismo não é uma política de governo. Capitalismo é ambiente. Ambiente de plena liberdade econômica, onde pessoas e empresas estabelecem suas próprias normas e valores. Isso significa que a mera existência de governo desqualifica o conceito de capitalismo. Um dedo de governo num negócio entre duas empresas desqualifica esta relação como sendo genuinamente capitalista. Entenda “dedo” como qualquer lei, norma ou burocracia sob as quais as relações comerciais estejam submetidas. Isso significa também que não há sequer um país no mundo onde se registre o pleno capitalismo. Há, apenas, países com mais ou menos governos do que outros, ou seja: mais próximos ou distantes da liberdade. Não por acaso, os países mais prósperos são aqueles onde o governo menos regula as relações econômicas.

(ranking de liberdade econômica)

Capitalismo não é anarquia. No ambiente capitalista haveria instituições que garantiriam o cumprimento dos contratos feitos livremente e que julgariam eventuais fraudes. Contudo, é importante ressaltar que essas instituições NÃO regulariam as relações comerciais. Exemplo: Não haveria um governo dizendo quanto uma empresa deve pagar de salário a um funcionário, mas haveria instituições às quais o funcionário poderia recorrer no caso de não receber o salário combinado com a empresa.

Sendo um ambiente, o capitalismo não tem o compromisso de melhorar a vida das pessoas. Ele apenas dá a oportunidade para o indivíduo negociar seu trabalho e seu talento da forma que quiser, cabendo a cada um alocar seus recursos e seus rendimentos. As pessoas melhoram de vida na medida em que satisfazem outras pessoas com seus produtos e serviços.

SOCIALISMO é sistema. Sistema porque é imposto de cima para baixo por governos que ditam como as pessoas devem se relacionar. A simples existência de governo representa o socialismo. Quanto mais governo, mais socialismo. Isso significa que todos os países do mundo são, em algum grau, socialistas. Não por acaso, os países mais atrasados do mundo são aqueles onde o governo mais regula as relações econômicas.

O princípio fundamental do socialismo é o controle das relações humanas para se formar um arquétipo social idealizado por um pequeno grupo de pessoas que se apresenta com sabedoria suficiente para ditar o que seria melhor para todas as outras. Esse esforço é representado por leis, normas e burocracias dentro e fora da esfera econômica.

Enquanto no ambiente capitalista existem instituições que se colocam paralelas às relações econômicas, no sistema socialista o governo se coloca entre estas relações. Faz isso arbitrando o valor de preços e salários, permitindo ou proibindo a oferta de produtos e regulando a forma como serviços devem ser fornecidos.

No ambiente capitalista, a caridade é facultativa. As pessoas escolhem quem ajudar e de que forma.

No sistema socialista, as pessoas são obrigadas sustentar, por meio do pagamento de impostos, políticas que criam fórmulas genéricas para ajudar determinados grupos de pessoas, a despeito da história e do merecimento de cada indivíduo.

CAPITALISTA é o indivíduo que gostaria de viver num mundo onde todas as pessoas fossem livres para negociar o seu tempo, o seu corpo, o seu trabalho e o seu talento da forma que quisessem, tendo total propriedade sobre seus lucros e ajudando apenas quem julgam merecer.

SOCIALISTA é o indivíduo que gostaria de viver num mundo onde a vida privada fosse regulada pelo governo, que ditaria como os recursos das pessoas e das empresas seriam alocados e o destino de seus lucros, transferindo para o estado a responsabilidade de ajudar os mais pobres.

É importante se compreender que, no mundo em que vivemos, as grandes empresas e o atual sistema financeiro NÃO representam o capitalismo. Todas as grandes empresas, incluindo os bancos, são protegidas pelos governos que, de uma forma ou de outra, estão associados a esses negócios. Todos os monopólios e todos os carteis são protegidos por leis que o governo cria. Regulação e capitalismo não coexistem.

O sistema financeiro mundial explicita isso muito bem. Governos criam moedas que eles mesmos falsificam na medida em que precisam de mais dinheiro para pagar suas contas. Criam essas moedas e obrigam todas as pessoas a utilizá-las. Entrelaçados ao governo estão os bancos, que repassam à sociedade a moeda falsificada. Dessa forma, o governo se sustenta falsificando dinheiro, os bancos lucram ao repassar o dinheiro falsificado e o cidadão comum assiste seus rendimentos sendo corroídos pela inflação criada pelo governo ao falsificar dinheiro.

Por trás da chamada “garantia de depósito” criada pelo governo brasileiro para supostamente proteger os investimentos de pessoas comuns e de pequenas empresas, está o  esquema que impede que os bancos quebrem. Isso não é capitalismo.

No ambiente capitalista, pessoas e empresas podem se utilizar de qualquer moeda e empresas mal geridas devem quebrar, tendo sua gestão assumida pelos credores ou sendo substituídas no mercado por outras empresas.

No sistema socialista, os governos injetam dinheiro público para salvar empresas ineficientes ou desonestas em nome da preservação de empregos.

Resumindo: Governo, sistema financeiro e grandes empresas compõem a mesma estrutura de poder, a mais perversa forma de controle da vida privada, atuando de uma forma que raramente é percebida pela sociedade.

Não existe banco totalmente privado. Não existe grande empresa totalmente privada. Bancos, grandes empresas e governos trabalham juntos, absorvendo a maior parte da riqueza de um país e transferindo para a sociedade todos os prejuízos que venham a produzir, o que é tragicamente evidente na atual crise econômica brasileira.

O ambiente capitalista permite a existência de bancos e de grandes empresas, mas não os protege da concorrência nem de suas próprias ingerências.

O sistema socialista depende da existência de bancos e de grandes empresas vinculadas ao governo e protegidas por ele.

Biografia sugerida:

Milton Friedman. Capitalismo e Liberdade

Friedrich Bastiat. A Lei

Ralf Dahrenforf. A Lei e a Ordem

Bertrand de Jouvenel. A Ética da Redistribuição

Jesús Huerta de Soto. Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos
Hans-Hermann Hoppe. Uma Teoria do Socialismo e do Capitalismo
Hayek, Friedrich. O Caminho da Servidão

Murray N. Rothbard. Governo e Mercado

Ludwig von Mises. As Seis Lições

Ludwig von Mises. A Ação Humana

Ludwig von Mises. A Mentalidade Anti-capitalista

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