Eu sei, eu sei. Dou muita atenção a um energúmeno como Greg, que deveria ser simplesmente ignorado. O “economista” de Dilma é um pateta, um “café com leite”, um pobre coitado que só fala besteira etc. Sei de tudo isso, but I can’t help it. Toda segunda eu leio, por um misto de masoquismo com ossos do ofício, sua coluna na Folha, e não resisto: preciso comentar.
Afinal, não canso de me surpreender com como a esquerda desceu ao fundo do poço, e lá chegando, cavou mais fundo ainda. Greg, como símbolo da “intelectualidade” socialista? É divertido demais para deixar passar. E rende uma boa audiência, o que ajuda a pagar as contas…
Por isso, peço perdão aos leitores mais refinados para chafurdar um pouco na lama. Pego minha lanterna (a do iPhone serve), e inicio a descida ao poço sem fundo. Lá embaixo, vislumbro uma sombra de um homem, que imagino ser ele. No texto de hoje, Greg resolveu atacar seu primo “aristocrata”, “que não se chama Aurélio mas poderia se chamar, é da geração do meu pai”.
Calhou de eu conhecer um primo do humorista, que por acaso tem nome que começa com A. E trabalha no mercado financeiro. Só pode ser o mesmo. Em homenagem a ele, então, que é uma pessoa legal, inteligente, e casado com uma mulher igualmente simpática, vou ter de humilhar Greg uma vez mais. Soube por terceiros que o parente “famoso” é motivo de embaraço e vergonha na família. Não poderia ser diferente.
Eis o que Greg escreve hoje, com muito sensacionalismo: que os eleitores de Crivella votam no bispo da Universal para preservar privilégios da elite, considerando que nada é pior do que o comunismo de Freixo, que “não existe”. E vejam só como Greg descreve o ex-aliado do PT, de Dilma, que ele tanto defende:
Primo, sua aristocracia não tem glamour nenhum. Você não tá em Mônaco mas no Haiti. Seu sapato italiano tá imundo de sangue. Você quer Crivella pela mesma razão que você quis a ditadura: você não quer perder privilégios. Mesmo que isso implique eleger um bispo homofóbico, machista e acusado de corrupção. Mesmo que isso implicasse matar e torturar centenas de pessoas.
Uau! Mesmo que isso implicasse matar e torturar centenas de pessoas. Fico imaginando um jantar de Natal em família. O meu conhecido A. tem que ter muita paciência para não dar uns bofetões no primo moleque, no defensor de bandidos, no socialistazinho de butique, no ícone da esquerda caviar hipócrita. É preciso se controlar para não perder a cabeça numa hora dessas. Mas eis sua conclusão, foco desse texto:
A festa do Crivella foi na Vieira Souto -cheia de milionários e ex-milionários que, como o meu primo, apoiaram a ditadura e enriqueceram ao longo dela. São essas mãos cheias de sangue que querem levar Crivella à prefeitura. Todo dia é dia de lembrar que o nosso subdesenvolvimento interessou e continua interessando a muita gente.
Aqui o leitor pode ficar espantado com a estupidez infinita de Greg, mas algo me diz que é canalhice mesmo. Ninguém pode ser tão burro, tão idiota assim. Então Greg não sabe que é Freixo o queridinho da Zona Sul, do Leblon e da Lapa, das elites “intelectuais” e dos “estudantes” maconheiros? Então ninguém contou a Greg que Crivella tem uma base maior na classe média, enquanto o socialista é quem atrai mais votos dos riquinhos como o próprio Greg, que banca o pobre?
Em artigo publicado hoje no GLOBO, Nelson Motta fala justamente sobre isso, até preferindo a vitória do PSOL (cruzes!), mas reconhecendo que não dá para a esquerda continuar demonizando as elites depois dessa:
Curiosamente, ou nem tanto, para quem conhece o Rio de Janeiro, o socialista Marcelo Freixo está ganhando do ultraconservador Marcelo Crivella justamente entre os mais ricos e mais escolarizados, empatando entre os jovens. Será que as elites demonizadas por Lula não são tão demoníacas assim, pelo menos no Rio de Janeiro? Ou são tão masoquistas que atiram nos próprios pés, cedendo os seus “privilégios odiosos de classe” para as forças populares? Que elite mais generosa, a carioca…
Além disso, ela é novidadeira, gosta de estar sintonizada com as tendências internacionais, acha cool ser do contra, não gosta de nada que o povão gosta, tirando futebol, praia e escola de samba, e se acha mais esclarecida e informada. E talvez seja mesmo, para o bem e para o mal. A voz do povo, nem sempre, é a de Deus; às vezes é a dos demônios, senão não teríamos tantos Renans, Cunhas, Collors e Garotinhos. E demoníacas são as elites? São mesmo, quando manipulam a vontade do povo, enganam-no com promessas, exploram sua miséria e compram o seu voto.
Mas o que seria da esquerda sem suas contradições? Uma turma que fala em nome da democracia enquanto defende o ditador Fidel Castro, o mais longevo do continente? Na coluna de Ancelmo Gois hoje ficamos sabendo que Barretão, o camarada de Lula (defendido por Greg), passou um pito em Crivella por esse criticar Fidel. Ou seja, Crivella chama o sanguinário Fidel de “sanguinário”, enquanto os companheiros do Greg repudiam o bispo por isso. Mas é Crivella o monstro na história!
A esquerda é sinônimo de contradição. E por isso Greg pode, na maior cara de pau, acusar o primo de elitista aristocrata em busca de privilégios por votar em Crivella, enquanto posa de pobre e homem do povo ao defender o voto no socialista Freixo, que defende o modelo venezuelano, que só fez produzir mais miséria e escravidão. É tudo uma piada, mas de muito mau gosto. Como “pensador” político, Greg é um ótimo humorista. Mas pega muito pesado…
Se eu fosse o primo do Greg, além de usar outro sobrenome qualquer para não correr risco de vergonha, pagava uma passagem de classe executiva só de ida ao rapaz para a Venezuela. Mas claro que ele não iria aceitar. Seu lance é mesmo viver no conforto capitalista, enquanto prega o socialismo e finge defender os mais pobres das “elites cruéis”, representadas por seu primo trabalhador e gerador de riquezas, ao contrário do próprio Greg, um mamador de tetas estatais e animador do circo esquerdista.
A coisa funciona assim, e se repete em inúmeras famílias: enquanto o primo do Greg ralava para ser alguém na vida, estudava bastante, competia num mercado bastante disputado, gerava valor aos seus clientes, Greg, o filhinho da mamãe mimadinho, brincava de teatrinho, usando a fama e os contatos da família para subir na vida. Depois, movido pelo recalque, pela inveja, pelo rancor, passa a atacar seu primo, cuja riqueza é legítima e não fruto da alma vendida aos bandidos do PT.
E o pior é que o rapaz ainda se sente a alma mais nobre do planeta, só por ser de esquerda. Isso é o socialismo das elites: uma fuga para a própria mediocridade, uma válvula de escape aos losers, um grito de revolta dos mequetrefes. De baixo de sua insignificância, Greg olha para cima e, ao avistar o que pensa ser o olhar de seu primo, brada: “Aristocrata canalha!”. Mas não era o olhar do primo. Era só um espelho…
Rodrigo Constantino
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